Como a diversificação blindou o Grupo Scapini dos efeitos da alta de juros

Sem a estratégia, o faturamento poderia ter caído até 35% neste ano; a iniciativa foi fundamental para estabilizar as receitas e garantir resiliência

Aline Feltrin

O Grupo Scapini atravessou 2025, um ano marcado por juros altos e crédito restrito, sem perdas significativas no faturamento — um feito que, segundo o diretor comercial de operações, Claudio Pires, só foi possível graças à diversificação do portfólio e a investimentos em tecnologia e capital humano.

“Quanto mais você diversifica, menor é o impacto das variações econômicas”, afirmou Pires durante o Fórum ILOS 2025, evento de logística que ocorre em São Paulo até amanhã (30). “Se um elo da cadeia sofre, outro sustenta o resultado.”

Nos últimos três anos, a empresa estruturou uma ampla estratégia de diversificação. Tradicional no transporte de first mile — o trecho inicial da cadeia logística —, o Scapini passou a investir em armazenagem, operações de dark store e last mile (entregas urbanas). O movimento começou com a parceria com a Ambev, no projeto Zé Delivery, e evoluiu para operações multicliente de armazenagem geral.

“Hoje conseguimos atender desde um grande embarcador até operações urbanas a pé”, diz o executivo. “O importante é estar habilitado para qualquer modelo que faça sentido financeiramente.”

Pessoas e tecnologia como pilares

O primeiro passo da diversificação, explica Pires, foi investir em pessoas. O grupo trouxe profissionais de empresas como Ambev e Citibank — inclusive executivos vindos da Costa Rica — para acelerar a profissionalização e a governança da companhia.

Na sequência, o foco passou a ser tecnologia e dados que conecta toda a operação e permitem análises em tempo real. “O mercado consome dados. Se eles não estiverem prontos para apoiar decisões dos clientes, não valem nada”, resume Pires.

Em 2024, o grupo faturou R$ 440 milhões e, para 2025, a meta inicial era chegar a R$ 480 milhões. Mesmo com o ambiente macroeconômico desfavorável, a empresa deve igualar o resultado do ano anterior.

Segundo o executivo, sem a diversificação, o faturamento poderia ter caído até 35%. “Essa estratégia foi fundamental para estabilizar as receitas e garantir resiliência”, afirma. Atualmente, o grupo fatura R$ 32 milhões por mês.

Frota mais nova e redução de custos operacionais

Apesar da dificuldade de acesso a crédito, o Scapini conseguiu renovar parte da frota. De 2022 a 2024, a idade média dos caminhões caiu de 6,9 para 3,4 anos, com a compra de 80 novos veículos neste ano — parte via financiamento e parte por consórcio.

A meta para 2026 é manter toda a frota com no máximo três anos de uso, com a aquisição de 40 a 50 caminhões por ano, a um custo médio de R$ 1 milhão por unidade.

Outro avanço foi a redução do índice de rodagem vazia, que caiu de 30% para 14% após um trabalho de mapeamento da malha e prospecção de novos clientes. “É um ganho de eficiência e sustentabilidade”, observa Pires.

Caminho para a descarbonização

A agenda ESG também tem peso crescente na estratégia do grupo. Atualmente, 16% da frota já roda com GNV, em circuitos de curta distância. A meta é chegar a 24% de descarbonização até 2030.

Nas rotas longas, o desafio é a falta de infraestrutura de abastecimento. “Em percursos como Porto Alegre–Uberlândia, consigo operar com GNV. Mas para Norte e Nordeste, ainda não há suporte”, explica o diretor.

Nos armazéns, a meta de sustentabilidade já é realidade: todos os equipamentos são elétricos, de empilhadeiras a transpaleteiras. “Nenhum dos nossos armazéns usa combustível fóssil”, destaca Pires.

2026: consolidação e flexibilidade

O próximo ciclo de investimento mira renovação de frota, ampliação da armazenagem e digitalização de processos. A ideia é manter a empresa pronta para atender embarcadores com diferentes exigências de frota — desde veículos Euro 6 para contratos ESG até equipamentos mais antigos, adequados a operações de menor custo.

“Com caminhões mais novos, tecnologia embarcada e uma estrutura flexível, conseguimos atuar em qualquer segmento e atravessar cenários de instabilidade com segurança”, conclui Pires.

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