A Natura avança em sua jornada de descarbonização com foco em um dos maiores desafios corporativos: as emissões de escopo 3, que abrangem toda a cadeia de valor — de fornecedores a transporte e distribuição. O segmento logístico, responsável por 18% das emissões totais da companhia, é hoje o principal alvo de investimento e inovação dentro dessa estratégia.
Durante o Fórum ILOS 2025, que está sendo realizado hoje e amanhã, em São Paulo, Eduardo Sá Freire, head de supply chain da Natura, apresentou os resultados e os próximos passos da companhia rumo à meta de reduzir em 42% as emissões de escopo 3 até 2030, com foco no transporte pesado e nas entregas de última milha (last mile).
“O caminho para isso não é uma única solução tecnológica, mas uma matriz inteligente que cruza investimento e potencial de redução de CO₂. Isso nos permite focar em ações com maior retorno ambiental e financeiro”, afirmou o executivo durante o evento.
A Natura está ampliando o uso de biometano em sua frota de transporte, em linha com a estratégia de descarbonização da operação logística. A empresa já abastece veículos com o combustível renovável em seu centro de distribuição de São Paulo, onde mantém um posto próprio, e agora estuda a instalação de uma segunda unidade em Minas Gerais.
O novo posto deve atender o centro de distribuição mineiro, que concentra parte das operações de transferência entre fábricas e bases regionais. Enquanto a rede de abastecimento de biometano ainda avança de forma gradual no país, a Natura aposta na utilização de bitrens, veículos com maior capacidade de carga, para reduzir o número de viagens e o impacto ambiental por tonelada transportada.
Segundo a empresa, o biometano — obtido a partir da purificação do biogás — tem garantido reduções expressivas nas emissões de gases de efeito estufa, sem comprometer o desempenho operacional da frota. O combustível é usado principalmente nas rotas entre os centros de distribuição e as fábricas, em trajetos com infraestrutura adequada de abastecimento.
Frota com biometano reduz emissões e custos
Um dos pilares dessa estratégia é o uso do biometano em substituição ao diesel nos caminhões de transporte pesado. A Natura já opera 20 cavalos mecânicos movidos a biometano em São Paulo, responsáveis por mais de 95% das viagens realizadas pela frota dedicada — e praticamente 99% de redução nas emissões diretas.
O abastecimento é feito dentro da própria fábrica, o que garantiu à empresa 1,5 mil toneladas anuais de redução de CO₂. “No início, havia receio sobre o custo do biometano, mas conseguimos contratos competitivos. Hoje, ele é mais vantajoso que o diesel em termos econômicos e ambientais, além de oferecer sinergia com nossos parceiros logísticos”, disse Sá Freire.
Entre as transportadoras envolvidas estão Reiter Log e Coopercarga, com contratos de longo prazo para garantir estabilidade e escala. A meta é ampliar a frota e expandir o modelo para novas rotas, começando por Minas Gerais, embora a limitação de infraestrutura de abastecimento ainda seja um entrave.
Etanol no last mile: ganhos imediatos
No transporte urbano, o foco está no etanol, que oferece redução de até 84 vezes nas emissões em comparação à gasolina. A Natura mantém mais de 80% da frota flex e planeja chegar a 30% da frota leve abastecida exclusivamente com etanol até o fim de 2025.
O avanço vem de uma parceria com a Shell Box, que permitiu preços mais competitivos e gestão integrada de abastecimento. “O elétrico ainda tem alto investimento e retorno lento. Já o etanol exige baixo investimento inicial e oferece rápida redução de CO₂”, explicou o executivo.
Hoje, 11 transportadoras já adotam o etanol, responsável por 1,4 mil toneladas de emissões de CO₂ por ano. A tendência é ampliar o modelo para toda a operação de última milha, composta por veículos menores, como Fiorinos e vans.
Aliança regenerativa e rastreabilidade
Para enfrentar o desafio de reduzir emissões fora da operação direta — que representam 97% do inventário total de carbono da Natura —, a empresa criou a Aliança Regenerativa, que reúne 109 parceiros e mais de 300 iniciativas voltadas à descarbonização, sendo 40 já implementadas.
A iniciativa busca engajar fornecedores e transportadoras em metas comuns e utiliza tecnologia para automatizar o controle das emissões. “Construímos uma matriz clara de impacto e esforço. Isso evita dispersão de recursos e mostra rapidamente o que funciona”, afirmou Sá Freire.
Novos modais e otimização logística
Além da troca de combustíveis, a Natura estuda otimizar rotas e modais de transporte. A empresa avalia a expansão de estoques em regiões estratégicas, o que pode reduzir a dependência de fretes aéreos — ainda utilizados para levar produtos a Manaus e Belém — e permitir a adoção de cabotagem e modais rodo-fluviais.
“Estamos olhando o transporte de forma sistêmica: reduzir emissões não depende apenas do combustível, mas de todo o planejamento logístico, do tamanho da frota ao tipo de modal”, concluiu o executivo.
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