A indústria automotiva brasileira volta a acender o sinal de alerta diante de uma nova crise global de semicondutores, que ameaça interromper a produção de veículos — incluindo caminhões e ônibus — nas próximas semanas. Diante do risco, representantes da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) e do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças) se reúnem na terça-feira (28) com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, em Brasília.
Segundo a Anfavea, a reunião foi marcada pelo próprio MDIC, em resposta às preocupações do setor. Segundo fontes ligadas à indústria, o encontro deve ter caráter de “brainstorming”, reunindo fabricantes, fornecedores e representantes de outros segmentos industriais afetados pela escassez de componentes eletrônicos. O objetivo é avaliar riscos e discutir estratégias de mitigação antes que o problema se agrave.
A associação informou ainda ao portal Transporte Moderno que não está claro se o governo já tem alguma estratégia definida ou se quer ouvir as propostas do setor. “O Sindipeças deve contribuir bastante, especialmente os associados que são grandes sistemistas e sentem o impacto diretamente.”
A Anfavea tem insistido que o risco de desabastecimento é real e pode afetar toda a cadeia automotiva.“Com 1,3 milhão de empregos em jogo, é fundamental buscar uma solução em um momento já desafiador, marcado por juros altos e desaceleração da demanda”, afirmou em nota o presidente da entidade, Igor Calvet.
Um veículo moderno pode conter de 1 mil a 3 mil chips, responsáveis por funções que vão do controle eletrônico do motor a sistemas de segurança e conectividade. Sem esses componentes, as linhas de montagem simplesmente param.
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Crise geopolítica e dependência externa
A nova ameaça de escassez está ligada às tensões geopolíticas entre a Holanda e a China. O governo holandês assumiu o controle da Nexperia, fabricante de semicondutores que pertencia a um grupo chinês. Em resposta, Pequim restringiu as exportações de componentes eletrônicos, o que já afeta a produção automotiva na Europa e começa a gerar incertezas sobre o abastecimento de fábricas brasileiras.
Para o coordenador dos cursos da área automotiva da FGV, Antonio Jorge Martins, o risco de interrupção na produção não se limita à disputa diplomática. “Há uma redução na fabricação de autopeças na Europa, causada pela pressão competitiva de fornecedores chineses e por dificuldades de exportação para os Estados Unidos e a própria China”, explica.
Segundo ele, o impacto no Brasil tende a ser indireto, mas relevante, devido à dependência de projetos e matrizes internacionais. “Embora os efeitos ainda não sejam sentidos de forma concreta, a dependência tecnológica limita a autonomia das fábricas locais”, afirma.
Martins observa que o impacto varia entre montadoras. “Algumas estão mais expostas à falta de semicondutores porque trabalham com plataformas globais altamente integradas. Outras, com cadeias de suprimento mais flexíveis, podem ter menos dificuldades”, avalia.
Alerta e cautela
Mesmo com o alerta das entidades, especialistas pedem cautela. “Nem todas as fabricantes estão enfrentando o problema com a mesma intensidade. Em alguns casos, a narrativa da escassez também serve para justificar ajustes internos de produção”, diz Martins.
Ainda assim, a situação preocupa. A indústria automotiva global não se recuperou totalmente da crise de semicondutores iniciada durante a pandemia, e a nova turbulência geopolítica reacende o temor de gargalos em um momento de recuperação lenta das vendas e custos elevados de financiamento.
O setor aguarda que da reunião desta terça-feira saiam medidas concretas — como ações de coordenação com fornecedores internacionais e priorização logística para componentes críticos. Enquanto isso, as montadoras monitoram seus estoques e cadeias de suprimentos com atenção redobrada.
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