Mercedes-Benz avalia biocombustível nacional em rota de 4.000 km

Primeiros testes entre Passo Fundo (RS) e São Bernardo do Campo (SP) mostram redução de até 99% nas emissões de CO₂ do tanque à roda com caminhões abastecidos com Bevant em comparação ao diesel B15

Aline Feltrin

A descarbonização do transporte rodoviário brasileiro ganhou um novo capítulo. A Mercedes-Benz do Brasil iniciou testes com o Bevant, biocombustível avançado produzido pela Be8, em uma rota de aproximadamente 4.000 quilômetros que liga Passo Fundo (RS) a Belém (PA), sede da COP 30, no início de novembro. A iniciativa, chamada “Rota Sustentável COP30”, tem auditoria de emissões realizada pelo Instituto Mauá de Tecnologia (IMT).

A primeira fase da rota foi realizada entre a sede da Be8 em Passo Fundo e a fábrica da Mercedes-Benz em São Bernardo do Campo (SP), com dois caminhões Actros 2553 S 6×2 — um abastecido com diesel B15 e outro com Bevant — e dois ônibus O500RSDD, igualmente abastecidos com diesel B15 e Bevant. Nesse trecho, os veículos apresentaram redução de até 99% nas emissões de CO₂ do tanque à roda. Quando considerado todo o ciclo do combustível — do poço à roda, incluindo produção — a diminuição foi de 65%, segundo dados preliminares auditados pelo IMT.

“É uma comprovação prática de que podemos gerar ganhos expressivos em sustentabilidade com investimento mínimo, sem necessidade de novas infraestruturas como hidrogênio, eletrificação ou gás natural. É praticamente o mesmo veículo, operando com um combustível mais limpo, estável e seguro”, afirma Marcos Andrade, gerente sênior de Marketing de Produto da Mercedes-Benz do Brasil.

Na segunda fase da Rota Sustentável, os mesmos dois caminhões e dois ônibus percorrerão cerca de 4.000 quilômetros do Sul ao Norte do país, passando por nove estados e o Distrito Federal, com paradas em 11 cidades. Durante o percurso, serão monitorados consumo, desempenho e emissões, reforçando a confiabilidade do biocombustível em operação de longa distância.

“Queremos demonstrar as vantagens ambientais de 100% de biocombustível em caminhões e ônibus, realizando essa experiência com modelos top de linha equipados com motores BlueTec 6”, acrescenta Luiz Carlos Moraes, diretor de Comunicação e Relações Institucionais da Mercedes-Benz do Brasil.

Mais barato que o HVO

O Bevant é similar ao HVO (óleo vegetal hidrotratado), amplamente usado na Europa. A diferença está no custo e na origem nacional: enquanto o HVO custa o dobro, o Bevant utiliza tecnologia brasileira, matérias-primas do agronegócio e processo de bidestilação, que reduz riscos de contaminação e mantém alto desempenho a preço competitivo.

O HVO custa mais por dois motivos: primeiro, não há produção local; segundo, o custo de produção e o investimento em uma unidade de HVO são mais elevados que os do Bevant, conforme explicação da Be8. Segundo o CEO da companhia, Erasmo Carlos Battistella, o combustível deve chegar às bombas cerca de 10% mais caro que o diesel B15, mas o preço pode cair com o aumento da escala de produção, tornando-se uma alternativa viável e acessível para transportadores. A empresa possui capacidade industrial para produzir 120 mil litros diários, com possibilidade de expansão conforme a demanda do setor rodoviário.

Battistella revelou que a Mercedes-Benz não é a primeira montadora a testar o Bevant. “Temos projetos com Volvo, Scania, DAF e até tratores John Deere. Estamos dialogando com praticamente todas as montadoras”, disse. Segundo ele, o Bevant pode substituir o HVO, oferecendo um combustível seguro, estável e mais barato, capaz de atender às exigências de frotistas que enfrentam problemas com a borra gerada por biodiesel convencional.

Impacto ambiental e aplicabilidade

O teste comprova que é possível reduzir emissões de forma expressiva, de maneira simples e econômica, sem comprometer a operação dos veículos.

O Bevant pode reduzir até 99% das emissões do tanque à roda, diminuir em até 50% o CO2, 85% dos materiais particulados e 90% da fumaça preta, além de apresentar maior lubricidade e baixo teor de contaminação. É indicado para logística, transporte de cargas e coletivo, além de equipamentos em modais rodoviário, hidroviário, marítimo e ferroviário.

“Estamos falando de uma solução pragmática, segura e acessível, que aproveita a capacidade produtiva já instalada e responde de forma imediata à agenda de descarbonização do transporte rodoviário brasileiro”, finalizou Battistella.

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