Vez & Voz completa cinco anos e impulsiona mulheres no transporte rodoviário de cargas

Movimento do Setcep já impactou mais de 10 mil mulheres diretamente, com apoio, incentivo e oportunidades reais de evolução em suas carreiras

Valeria Bursztein

O movimento Vez & Voz – Mulheres no TRC, criado pelo Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região (Setcesp) em 2020, completa cinco anos em 2025. Desde sua criação, mais de 10 mil mulheres foram impactadas diretamente, com apoio, incentivo e oportunidades reais de evolução em suas carreiras. O objetivo da iniciativa é estimular contratações, capacitação, liderança e inclusão em diferentes funções dentro do transporte rodoviário de cargas, setor historicamente dominado por homens.

Durante décadas, o transporte rodoviário de cargas foi essencialmente masculino, com homens presentes em quase todos os níveis hierárquicos — das cabines dos caminhões às salas de reunião. Hoje, esse cenário vem mudando. Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), mulheres representam 17,8% do total de trabalhadores do setor — cerca de 390 mil profissionais. Embora a maior parte ainda atue em áreas administrativas, a tendência é de crescimento constante em funções operacionais.

Em São Paulo, o Setcesp registrou aumento de 61% nas contratações femininas em 2022 em relação ao ano anterior. Porém, a presença feminina em operação ainda é desafiadora: apenas 3,4% das habilitações para dirigir caminhões, ônibus e carretas pertencem a mulheres, segundo a Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran).

O Índice de Equidade no TRC 2023-2024, conduzido pelo Instituto Paulista do Transporte de Carga (IPTC), aponta que mulheres já representam 26% da força de trabalho nas transportadoras. Apesar disso, apenas 3% ocupam cargos de liderança e a mesma proporção atua como motoristas profissionais.

Entre as empresas, 81% têm estratégias para aumentar a contratação de mulheres, 63% divulgam planos de ação para ampliar sua presença em cargos de gestão, 87% contrataram novas líderes femininas no último ano e 90% garantem que o gênero não interfere no processo seletivo.

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Debates, ações e oportunidades

O Vez & Voz vai além de ser uma rede de apoio é um catalisador de debates e ações concretas sobre liderança, empoderamento, combate ao assédio, autoconhecimento e networking. Também lançou instrumentos estratégicos como o próprio Índice de Equidade e o Prêmio Vez & Voz, que reconhece empresas com projetos voltados à equidade de gênero, capacitação e promoção de mulheres.

Um dos projetos mais relevantes do movimento é o programa de empregabilidade em parceria com a ONG Nações Valquírias, que conecta mulheres em situação de vulnerabilidade social a empresas dispostas a oferecer a primeira oportunidade de trabalho. A iniciativa reflete a mudança de mentalidade dentro das transportadoras, que investem mais em capacitação e infraestrutura para receber e manter essas profissionais.

Caminho sem volta

Os resultados dos cinco anos do Vez & Voz são expressivos. Um exemplo emblemático é o crescimento de caminhoneiras autônomas: em 2024, 61.221 mulheres possuíam RNTRC ativo, equivalente a 10,7% do total, contra apenas 1.404 em 2014. Paulla Demeneghi, caminhoneira e jurada do Prêmio Vez & Voz, afirma: “Vivi a experiência de ser caminhoneira porque sempre fui apaixonada por motores, mas agora posso ajudar outras pessoas a crescer no setor de transportes e logística”.

Apesar dos avanços, desafios permanecem. Machismo estrutural, preconceito, falta de infraestrutura adequada em pontos de parada e rodovias e a subestimação da capacidade técnica feminina ainda dificultam a rotina de muitas profissionais, segundo informou o movimento Vez & Voz.

O futuro do transporte

Ana Carolina Jarrouge, presidente executiva do Setcesp, afirma que a participação feminina é essencial para o futuro do transporte: “Colhemos avanços significativos em apoio, incentivo e direcionamento. Se queremos mudanças estruturais, precisamos de mais vozes femininas em entidades de classe e federações”.

O movimento mostra que equipes diversas são mais inovadoras e produtivas, capazes de enfrentar os desafios da logística moderna. Nos próximos anos, a expectativa é que mulheres ocupem posições estratégicas em gestão de frotas, manutenção e operação, além de ampliar sua presença como motoristas profissionais.

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