Indústria de caminhões e ônibus fecha 445 vagas em cinco meses

O movimento é uma resposta à queda na produção de caminhões pesados, o segmento mais afetado pela desaceleração do mercado

Aline Feltrin

Entre maio e setembro deste ano, a indústria de veículos pesados, caminhões e ônibus, eliminou 445 vagas, segundo dados da Associação Nacional das Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Somente em setembro foram 32 vagas fechadas.

O movimento é uma resposta à queda na produção de caminhões pesados, o segmento mais afetado pela desaceleração do mercado. Entre janeiro e setembro, foram 49.616 unidades produzidas, recuo de 16,7% em relação às 59.555 fabricadas no mesmo período de 2024.

“Precisamos atuar para que haja uma retomada no mercado de caminhões, sobretudo no segmento de pesados, que tem puxado essa retração”, afirmou Igor Calvet, presidente da Anfavea.

Considerando todos os segmentos, a indústria produziu 98.632 caminhões nos nove primeiros meses do ano, uma queda de 3,9% frente às 102.611 unidades de 2024. Em setembro, foram 10.107 veículos fabricados — volume praticamente estável ante agosto (10.096), mas 23,5% inferior ao registrado um ano antes (13.210).

Agronegócio e juros travam o mercado

A demanda reprimida está fortemente ligada à piora do ambiente econômico e à pressão sobre o agronegócio, tradicional comprador de caminhões pesados.

“O agro sofre com preços mais baixos das commodities e custos elevados. Mesmo com safra recorde, muitos produtores e transportadoras enfrentam recuperação judicial, o que derrubou a demanda”, afirmou Alcides Cavalcanti, diretor-executivo da Volvo Caminhões, em entrevista recente ao portal Transporte Moderno. (Leia aqui).

O executivo lembra que a montadora ajustou a produção neste ano para adequar o ritmo das fábricas ao mercado e não descarta novas reduções caso a demanda siga fraca. “Toda a indústria está calibrando os estoques. Nós também fizemos nossos ajustes e, se necessário, voltaremos a fazer.”

Segundo Cavalcanti, os juros altos também limitam o apetite por renovação de frota. “O transportador só investe se tiver segurança de retorno. Hoje o mercado vive um ambiente de incertezas econômicas e políticas, além de riscos no comércio internacional”, destaca.

A Volvo conseguiu reduzir os impactos da crise: enquanto o mercado de pesados caiu 19,4%, a marca recuou 15%. Nos semipesados, porém, cresceu 32%, o dobro da média do setor. “Os segmentos leves e semipesados ajudam a segurar o mercado, mas a relevância dos pesados ainda é determinante”, diz Cavalcanti.

A demanda externa tem ajudado a mitigar as perdas. As exportações de caminhões cresceram 84,7% de janeiro a setembro, com 21.639 unidades embarcadas, ante 11.716 no mesmo intervalo de 2024. Países da América Latina, como Argentina, têm puxado a demanda, beneficiados pela valorização do dólar.

Ainda assim, o ganho externo é limitado pela forte dependência do mercado interno. “As exportações são um respiro, mas a base de sustentação da indústria ainda é o Brasil”, observa Cavalcanti.

Ritmo moderado

Na DAF Caminhões, a retração também exigiu atenção. Segundo Luiz Gambim, diretor comercial da montadora, o segmento de semipesados tem sustentado parte da demanda, impulsionado por construção civil e e-commerce, que ampliaram a necessidade de veículos de distribuição urbana e regional.

“É um nicho que vem crescendo e no qual vamos ampliar a oferta nos próximos anos”, diz o executivo. A DAF cresceu 2,9% nesse mercado — abaixo da média de 9% do setor — por ainda não oferecer modelos competitivos em todas as configurações.

Nos pesados, a DAF recuou 18,5%, um desempenho levemente melhor que a queda de 19,4% do mercado, o que mostra resiliência. A fábrica de Ponta Grossa (PR) opera com cerca de 30% de ociosidade, nível considerado administrável e sem risco de cortes de pessoal, segundo Gambim.

O executivo cita ainda a queda nas cotações de soja, milho, açúcar e algodão, além do tarifaço dos Estados Unidos, que elevou em até 50% as tarifas sobre produtos como café, aço e autopeças. “Vários clientes reduziram ou pararam as exportações. Isso se reflete diretamente na compra de caminhões”, afirma.

Para enfrentar o cenário de crédito caro, a DAF tem recorrido a consórcios, planos de manutenção e campanhas de incentivo a vendedores. “Com juros altos, o consórcio tem se tornado uma alternativa importante para o cliente planejar a renovação”, explica Gambim.

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