Montadoras driblam juros altos com crédito especial e serviços para fechar negócios na TranspoSul

Para Volkswagen Caminhões e Ônibus, Mercedes-Benz e DAF, o Sul, que responde por uma fatia expressiva das vendas, tornou-se o estratégico para medir o apetite dos transportadores para investir em frota

Aline Feltrin

De Porto Alegre (RS)

Com o mercado de caminhões pressionado por juros elevados e queda nas vendas de pesados, as montadoras recorrem a pacotes de financiamento, consórcios e serviços agregados para estimular negócios durante a TranspoSul, maior feira de transporte do Sul do país, que ocorre até sexta-feira (26), em Porto Alegre (RS).

Embora o segmento de extrapesados continue desaquecido, executivos veem sinais de reação entre clientes que postergaram a renovação da frota e agora encaram custos crescentes de manutenção. O Sul, que concentra grandes transportadoras e responde por uma fatia expressiva das vendas de veículos comerciais, tornou-se o palco estratégico para medir o apetite do empresário do transporte.

A Volkswagen Caminhões e Ônibus espera fechar até 400 intenções de compra durante a feira. Considerando caminhões pesados. Com preço médio entre R$ 700 mil e R$ 1 milhão por unidade, o faturamento estimado pode ser de R$ 280 milhões a R$ 400 milhões.

O diretor vendas da montadora, Sérgio Pugliese, avalia a TranspoSul como um “termômetro” após o hiato de 2024, quando o evento foi cancelado devido às enchentes no Rio Grande do Sul. “O principal impeditivo para investimento ainda é a taxa de juros, mais até do que fatores conjunturais ou ambientais”, afirmou. Para reduzir essa barreira, a empresa aposta no financiamento pelo Banco Traton Financial Services e no consórcio Volkswagen Maggi, que cresceu quase 50% em relação ao ano passado.

(Foto: Aline Feltrin)

Na feira, a marca já registrou vendas concretas, incluindo dez unidades do Meteor para uma transportadora do Paraná. O modelo é o carro-chefe da empresa na região, voltado a operações de longa distância. A Volkswagen também apresenta ao mercado regional o recém-lançado Constellation 24.480 4×2, com motor de 13 litros e suspensão pneumática, voltado a nichos rodoviários.

A região Sul representa cerca de 20% das vendas da marca, com destaque também para operações de distribuição de alimentos e média distância.

Serviços e recuperação do RS

A Mercedes-Benz chega à Transposul após um período de recuperação, depois que enchentes devastaram parte da rede de concessionárias no Rio Grande do Sul em 2024, incluindo as unidades de Lajeado e Porto Alegre. Segundo Fernando Michetti Resende, gerente regional de vendas, a montadora estruturou pacotes de apoio envolvendo veículos, peças, serviços e soluções financeiras, com equipes de engenharia para reparos em equipamentos eletrônicos danificados.

Com a feira retomada, a Mercedes-Benz apresenta para a região Sul a nova geração do Axor, que já soma mais de 100 mil unidades vendidas no país, e aposta no Atego, com foco em operações de médias distâncias. Para driblar o crédito caro, a marca oferece pacotes que incluem planos de manutenção de até cinco anos, garantia estendida e valorização extra do usado na troca.

O executivo estima movimentar cerca de R$ 50 milhões em negócios durante e logo após a feira. O Sul responde por cerca de 30% das vendas nacionais da marca.

(Foto: Aline Feltrin)

Taxa especial e proximidade com o transportador

A DAF Caminhões também enxerga na TranspoSul oportunidade de reforçar sua presença em uma das regiões mais relevantes do país. O Rio Grande do Sul concentra a maior participação de mercado da DAF, com o grupo Eldorado à frente de seis concessionárias.

“Quando olhamos para os três estados do Sul, vemos volumes expressivos. Especificamente no Rio Grande do Sul, temos nossa maior participação, com um posicionamento muito forte. O concessionário Eldorado tem seis casas e está investindo em mais duas, que devem ficar prontas ainda este ano”, disse Luis Gambim, diretor comercial da DAF.

(Foto: Aline Feltrin)

Ao todo, a DAF conta com 77 concessionárias no país, sendo o grupo do Sul — com unidades no Paraná, Santa Catarina e RS — o maior da rede, com sete casas. A base sustenta o desempenho regional: em 2025, o Sul respondeu por cerca de 15% das vendas nacionais da marca.

Para a feira, a expectativa é negociar entre 200 e 300 caminhões, o que representa potencial de até R$ 200 milhões em negócios. A montadora oferece taxa especial de 1,19% ao mês, além de terceiro ano de garantia, dependendo do perfil do cliente, para veículos faturados no mês da feira.

O consórcio também ganha espaço. “O cliente gosta dessa modalidade, e as vendas cresceram cerca de 30% entre janeiro e agosto, em relação ao mesmo período do ano passado. É uma venda futura, fruto do que estamos plantando agora”, afirmou Gambim.

A proximidade com o transportador é outro pilar da estratégia da DAF, que realiza eventos com clientes durante a feira e patrocina o Projeto Sobre Rodas, do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga e Logística no Estado do Rio Grande do Sul (Setcergs), que organiza a Transposul, cujo objetivo é a profissionalização do setor.

A jornalista viajou a convite da organização do evento.

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