O mercado brasileiro de caminhões vive um 2025 desafiador, com retração acentuada no segmento de pesados. Para o fechamento do ano, a expectativa não é de retomada. “A indústria está ajustando estoques e produção ao ritmo de mercado. Se a taxa de juros permanecer no atual patamar, o setor deve ‘andar de lado’ até o final do ano”, afirma Alcides Cavalcanti, diretor-executivo da Volvo, em entrevista ao portal Transporte Moderno, durante o evento ABX 2025, realizado nesta quarta-feira (17), em São Paulo.
O executivo relembra que, entre janeiro e agosto, o mercado de caminhões acima de 16 toneladas caiu quase 20% em relação a 2024. Já os semipesados avançaram cerca de 16%, compensando parcialmente a retração. No consolidado, o setor recuou em média 16%.
Segundo Cavalcanti, a pressão vem principalmente do agronegócio, altamente relevante para os pesados. “Mesmo com safra recorde, o agro sofre com preços mais baixos das commodities e custos elevados. Muitos produtores e transportadoras enfrentam recuperação judicial, o que derrubou a demanda”, explica.
Além disso, os juros altos limitam o apetite por renovação de frota. “O transportador só investe se tiver segurança de retorno. Hoje o mercado vive um ambiente de incertezas econômicas e políticas, além de riscos no comércio internacional”, destaca.
Produção em queda e exportações em alta
Os dados da Anfavea confirmam o cenário de retração. Entre janeiro e agosto, as montadoras produziram 88,5 mil caminhões, uma queda de 1% em relação ao mesmo período de 2024. Em agosto, a retração foi mais expressiva: 10,1 mil unidades, 22,9% abaixo do registrado no mesmo mês do ano passado e 16,3% menor que em julho.
O resultado só não foi pior graças ao desempenho das exportações. No acumulado do ano, os embarques cresceram 89,6%, somando 19 mil unidades, com destaque para a Argentina, que absorveu 11 mil caminhões — quase todos pesados. O volume enviado ao país vizinho triplicou em relação a 2024.
Apesar do impulso externo, o impacto no emprego mostra a fragilidade interna: enquanto a indústria automotiva como um todo abriu 746 novas vagas, o setor de caminhões e ônibus fechou 148 postos até agosto. “Temos uma retração de 6,7% no acumulado do ano, mas o mais importante é observar que os pesados, que representam 45% do mercado, caem 19%. O grosso do mercado está em queda”, afirmou o presidente da Anfavea, Igor Calvet.
Redução de impactos
A Volvo conseguiu reduzir os impactos da crise. Enquanto o mercado de pesados recuou, a montadora caiu 15%. Já nos semipesados, cresceu 32%, o dobro da média do setor. Cavalcanti ressalta, porém, que nem mesmo o avanço do modelo VM, voltado a setores como construção civil, foi suficiente para compensar a queda dos pesados. “Os segmentos leves e semipesados ajudam a segurar o mercado, mas a relevância dos pesados ainda é determinante.”
As exportações também têm papel importante para a montadora. Segundo Cavalcanti, mercados da América Latina, em especial Peru e Argentina, têm absorvido parte da produção brasileira, favorecidos pela valorização do dólar. Ainda assim, o ganho externo é limitado diante da forte dependência do setor em relação ao consumo interno.
O executivo lembra que a Volvo já realizou ajustes de produção neste ano para adequar o ritmo das fábricas à velocidade do mercado e não descarta novas reduções caso a demanda siga fraca. “Toda a indústria está calibrando os estoques. Nós também fizemos nossos ajustes e, se necessário, voltaremos a fazer”, finaliza.
Riscos e oportunidades em 2026
Para 2026, Cavalcanti enxerga um cenário de oportunidades, mas também de riscos. O ano pode representar um ponto de virada para o mercado de caminhões, embora ainda cercado de incertezas. A queda esperada da taxa de juros surge como principal fator de estímulo à renovação de frota e a novos investimentos.”
“A queda da Selic é um ponto fundamental porque melhora as condições de financiamento e dá mais confiança ao transportador para investir”, afirma o executivo. Ele acrescenta que, em ano de eleições presidenciais, historicamente há aumento de investimentos públicos em obras e infraestrutura, o que também tende a beneficiar o setor de transportes.
Apesar dos possíveis estímulos, Cavalcanti alerta que o agronegócio ainda atravessa um momento delicado, com exportadores altamente endividados, e as transportadoras continuam pressionadas pelos fretes baixos. “Essa combinação pode limitar a recuperação da demanda por caminhões pesados, mesmo em um ambiente macroeconômico mais favorável”, observa.
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