Sem previsão de queda, Selic a 15% ameaça recuperação do mercado de caminhões

Juros altos e restrição de financiamento freiam a compra de caminhões pesados e extrapesados, mantendo o mercado sob pressão no segundo semestre

Aline Feltrin

O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou na última terça-feira (27) durante o 33º Congresso & Expo Fenabrave, que a taxa básica de juros (Selic) deve permanecer elevada por um período prolongado, atualmente em 15% ao ano. Segundo Galípolo, a política monetária restritiva é necessária para controlar a inflação, que ainda não convergiu de forma consistente para a meta estabelecida pelo Copom de 3%, com margem de 1,5 ponto para cima ou para baixo.

“O processo de convergência para a meta de inflação está sendo lento, e isso demanda manter a Selic em patamar ainda bastante restritivo”, afirmou o presidente do BC. Para a economista da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), Tereza Fernandez, a manutenção da Selic em nível elevado tem efeito direto sobre a compra de caminhões, principalmente porque esses veículos são considerados bens de capital e, em grande parte, financiados. “Praticamente 100% dos caminhões pesados e tratores agrícolas dependem de crédito. Mas, com juros de 15% ao ano, restrição de financiamento e margens apertadas, muitas empresas — especialmente do setor agrícola — acabam adiando a renovação de frota”, explica.

Recuperações judiciais

Tereza detalha que o setor agrícola enfrenta desafios adicionais: diversas empresas estão em recuperação judicial, tiveram safras ruins no ano anterior e sofreram aumento no custo de insumos, como fertilizantes, o que reduziu significativamente a rentabilidade.

“Mesmo com uma safra melhor este ano, o preço das commodities caiu em real, restringindo a capacidade de investimento. Além disso, os três ou quatro anos anteriores haviam permitido alguma reorganização da frota, mas agora os empresários seguram a compra de novos caminhões”, acrescenta.

Ela ressalta que, enquanto linhas mais leves e de médio porte apresentam recuperação, os caminhões pesados e extrapesados — usados no transporte de grãos e longas distâncias — enfrentam retração próxima a 20% em relação ao ano passado.

Aumento da inadimplência

Marco Borba, presidente da Associação Brasileira dos Concessionários Volkswagen Truck & Bus (ACAV), confirma a forte correlação entre juros e demanda por caminhões: veículos de maior valor, acima de R$ 1 milhão, dependem de financiamento e sofrem mais com o custo elevado do crédito. “O cenário macroeconômico e político também aumenta a cautela do comprador, que tende a adiar aquisições ou limitar-se à substituição de frota”, afirma.

Ele ressalta que segmentos urbanos e de transporte leve mantêm crescimento, impulsionados por entregas last mile, enquanto transportes de longa distância registram queda de 20%. Borba observa ainda que a inadimplência em veículos de maior valor aumentou, levando bancos a analisar crédito com mais rigor.

Segundo dados da Fenabrave, o acumulado de 2025 registra queda de 5,3% frente a 2024, passando de 71.906 para 68.084 caminhões emplacados até o 11º dia útil de agosto.

O setor de implementos rodoviários é o que mais sofre no mercado de caminhões em 2025. Segundo dados da Fenabrave, o acumulado do ano registra queda de 5,3% frente a 2024, passando de 71.906 para 68.084 unidades emplacadas até o 11º dia útil de agosto.

No comparativo mensal, os emplacamentos de agosto têm leve alta de 0,4% sobre julho, mas caem 20,3% em relação a agosto do ano passado, e acumulam retração de 19,9% em comparação com 2024.

Caso a taxa Selic se mantenha elevada, a tendência é que o segundo semestre repita o desempenho do primeiro, sem perspectivas de melhora significativa.

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