De Caxias do Sul (RS)
Em meio à instabilidade no comércio internacional e às taxações inesperadas dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, a Frasle Mobility, fabricante gaúcha de componentes de fricção do Grupo Randoncorp, segue em expansão. A companhia aposta em engenharia própria, aquisições estratégicas e investimentos consistentes para consolidar sua presença global — mesmo diante de um cenário cada vez mais restritivo no principal mercado do mundo.
Segundo levantamento do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), o tarifaço de 50% imposto pelo governo de Donald Trump não atinge a totalidade dos embarques brasileiros. Dos produtos exportados para os Estados Unidos, 44,6% ficaram de fora da sobretaxação graças a uma lista de cerca de 700 exceções, que inclui aviões, celulose, suco de laranja, petróleo e minério de ferro. Para esses itens, segue em vigor a tarifa de até 10%, definida em abril.
Ainda assim, 35,9% das exportações brasileiras para os EUA passaram a ser impactadas diretamente pela nova sobretaxa, segundo o MDIC. Além disso, 19,5% das vendas já vinham sendo tributadas com tarifas específicas sob a justificativa de “segurança nacional”. Nessa categoria estão automóveis e autopeças, que desde maio pagam 25% de imposto para entrar no mercado norte-americano. Aço, alumínio e cobre também entraram nessa lista, com alíquota de 50% desde março.
Esse ambiente de incertezas não desestimula a Frasle Mobility. Pelo contrário: a empresa reforça sua estratégia de internacionalização com foco em inovação e presença local. “Não é simplesmente uma questão econômica de achar outro fornecedor com produto similar — o componente precisa ser desenvolvido, e o processo de homologação envolve não só nossos clientes, mas também as montadoras, garantindo estabilidade”, explica Luciano Matozo, diretor de engenharia e vendas OEM.
A operação nos Estados Unidos começou em 2008, no estado do Alabama, e já recebeu cerca de US$ 15,5 milhões em investimentos. O plano inicial foi ampliar a presença em pastilhas e lonas de freio para veículos comerciais e de passageiros. Em 2012, a planta foi modernizada, e em 2017 novos aportes foram destinados para dobrar o faturamento em cinco anos. Hoje, a base americana atende especialmente fabricantes de eixos e sustenta o crescimento no mercado local.
A estratégia também inclui aquisições de peso. A mais recente foi a compra da divisão de aftermarket do Grupo KUO, no México, por R$ 2,1 bilhões, a maior já realizada pela companhia. O negócio inclui fábricas de pistões, juntas para motores, materiais de fricção e uma distribuidora, fortalecendo a atuação no mercado mexicano e ampliando as sinergias com os Estados Unidos.
Segundo o COO Anderson Pontalti, a aquisição posiciona a Frasle como referência no aftermarket latino-americano, com Brasil, Argentina e México como pilares. Globalmente, a companhia já está presente em 125 países, com engenharia 100% brasileira e fábricas também na China e Índia.
Resultados comprovam a estratégia
Os números comprovam a resiliência da estratégia. No segundo trimestre de 2025, a Frasle Mobility registrou receita líquida consolidada de R$ 1,4 bilhão, alta de 38,8% sobre o mesmo período de 2024. O EBITDA ajustado mais que dobrou, alcançando R$ 238,4 milhões, com margem de 17,5%.
No acumulado do semestre, a receita líquida somou R$ 2,7 bilhões, 47,8% superior ao ano anterior, sendo 54% provenientes do mercado externo.
“Mesmo em um cenário desafiador, com dinâmica mais dura no Brasil e instabilidade na produção de veículos nos EUA, seguimos ajustando nossa estratégia e avançando em novos mercados, mantendo foco na geração de valor”, afirmou Pontalti.
*A jornalista viajou a convite da Frasle Mobility.
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