“Diversificação protege exportações frente à taxação dos EUA”, diz executivo da Allog

Com mercados, produtos e modais diversificados, a empresa especializada em logística internacional está conseguindo reduzir os impactos do tarifaço de 50% dos EUA

Aline Feltrin

De Itajaí (SC)

O aumento das tarifas sobre produtos brasileiros nos Estados Unidos, promovido pela administração Trump, representou risco para setores estratégicos, como a indústria da madeira em Santa Catarina, que concentra grande parte do emprego local. Para a Allog, especializada em logística internacional, a estratégia de diversificação de mercados, produtos e modais foi decisiva para minimizar os efeitos da taxação, preservando exportações e postos de trabalho. “A diversificação protege exportações frente à taxação dos EUA”, disse explica Rodrigo Vitti, diretor comercial da Allog, em entrevista ao portal Transporte Moderno.

A indústria de madeira catarinense é particularmente sensível. “É um produto de baixo valor agregado, então, em termos de receita exportada, o impacto não é tão grande, mas o número de pessoas envolvidas na produção é significativo”, explica Rodrigo Vitti.

Uma das operações que contribuem para essa resiliência é a US Domestics, criada há alguns anos nos EUA. O terminal recebe a carga em área alfandegada e pode aguardar até 30 dias pelo desfecho da política tarifária antes de nacionalizá-la. Se os impostos se estabilizam, a mercadoria é nacionalizada; caso contrário, exportador e importador dividem as perdas. “Se a taxação se prolongar, o Brasil deixa de ser interessante para esses produtos”, alerta Vitti.

A Allog, que há sete anos tinha a madeira respondendo por 50% do volume de exportação, reduziu a dependência para cerca de 15%, mantendo equilíbrio entre importação e exportação e atuação pulverizada em diferentes segmentos e regiões. A diversificação incluiu investimentos em carga líquida, reefer e transporte aéreo — que hoje representa entre 5% e 10% do volume total e deve dobrar até 2031.

Cargas líquidas ganham protagonismo

As exportações de cargas líquidas, com destaque para a glicerina, têm ganhado papel estratégico no comércio exterior brasileiro, impulsionadas pelo crescimento da produção nacional de biodiesel e pela demanda internacional por insumos renováveis. Em 2024, o Brasil bateu novo recorde de exportação de glicerina, consolidando o produto como um dos principais subprodutos da indústria de combustíveis verdes.

Na Allog, o avanço se refletiu em crescimento de 9% nas exportações de cargas líquidas, movimentando 14.907 TEUs no ano passado. Desses, a glicerina bruta e refinada representou 79% do volume, com 10.184 TEUs embarcados, reforçando o papel logístico da empresa na conexão entre a indústria nacional e mercados internacionais, principalmente no Leste Asiático.

Com a produção de biodiesel em alta — 9,07 milhões de metros cúbicos em 2024, segundo a Agência Nacional de Petróleo (ANP) —, o Brasil tem exportado volumes cada vez maiores de glicerina, um subproduto gerado na fabricação do combustível renovável. O avanço foi impulsionado por medidas como a adoção do B15 (15% de biodiesel no diesel) e pelo bom desempenho do mercado de diesel em geral.

A glicerina exportada é valorizada nos setores farmacêutico, cosmético e alimentício, utilizada na fabricação de solventes, adoçantes, conservantes, anestésicos e plastificantes. O principal destino dessas exportações tem sido a Ásia, com destaque para portos chineses como Qingdao, Ningbo, Nanjing e Fuzhou — regiões de elevado consumo industrial da substância.

“A grande vantagem da Allog é ter uma estrutura nacional e internacional robusta, que permite redirecionar mercadorias para outros mercados e segmentos quando um setor enfrenta dificuldade”, acrescenta Vitti. A empresa mantém presença na China com três funcionários e nos EUA com duas pessoas, reforçando a internacionalização iniciada em 2014.

Expectativas para 2025

Apesar de um segundo semestre ainda incerto — devido à taxação e a eventos sazonais como Black Friday e Natal —, a empresa mantém perspectiva otimista. A diversificação por cliente, segmento e região garante resiliência, preserva empregos e permite crescimento mesmo em cenário de instabilidade externa.

“Para nós, o impacto pode ser maior apenas no início, até conseguirmos realizar a transição, mas temos contratos e estrutura para atender às necessidades dos clientes e explorar outros mercados”, conclui Vitti.

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