Portos Itapoá e de São Francisco do Sul preparam salto logístico com dragagem de R$ 325 milhões

Obra inédita de parceria público-privada vai permitir receber navios de 366 metros e pode dobrar movimentação de contêineres em 10 anos

Aline Feltrin

De Balneário Camburiú (SC)

O Complexo Portuário da Babitonga, formado pelo Porto Itapoá e pelo Porto de São Francisco do Sul, deve alcançar um novo patamar de competitividade a partir de 2026. Uma obra de dragagem e alargamento do canal de acesso, orçada em R$ 325 milhões, permitirá a entrada de navios porta-contêineres de até 366 metros — os maiores que operam na costa brasileira — totalmente carregados, reduzindo custos e tempo de operação.

“Essa é uma obra estratégica para o presente e para o futuro”, afirmou Cleverton Vieira, CEO do Porto de São Francisco do Sul, em entrevista ao portal Transporte Moderno durante a feira Logistique realizada em Balneário Camboriú (SC) até quinta-feira (14). Segundo ele, o projeto deve dobrar a movimentação anual de contêineres do terminal privado em dez anos — de 1,5 milhão para quase 3 milhões de TEUs —, tornando-o o maior do Brasil. A expectativa é que o impacto no mercado de trabalho também seja expressivo, com o número de empregos diretos e indiretos na região saltando dos atuais 8 mil para cerca de 40 mil.

A dragagem será viabilizada por um modelo inédito de financiamento no setor portuário brasileiro. Sem contar com recursos do PAC e após negativa do governo federal, o Porto Itapoá emprestará R$ 300 milhões ao Porto de São Francisco do Sul. O pagamento será feito ao longo de 10 a 12 anos, por meio de tarifas adicionais geradas pelo aumento do tráfego de navios. O contrato já foi validado pelo Ministério de Portos e Aeroportos.

A multinacional belga Jan De Nul venceu a licitação na terça-feira (12). O cronograma prevê início das obras em novembro, após dois meses dedicados ao projeto executivo. “O prazo de execução é de 10 meses, com possibilidade de entrega antecipada para meados de 2026”, revelou o executivo.

Eficiência e crescimento

Desde 2023, quando a atual gestão assumiu o Porto de São Francisco do Sul, melhorias operacionais vêm sendo implantadas. Entre elas, a instalação de duas novas balanças e sistemas automatizados de controle, que reduziram gargalos e elevaram a capacidade de atendimento para 1,5 mil caminhões por dia — acima da demanda atual de mil veículos.

“Essas mudanças destravaram investimentos e nos permitiram crescer quase 35% na movimentação de cargas entre 2023 e 2024, o maior avanço proporcional entre os portos públicos do país”, destaca Vieira

O porto também destinou R$ 20 milhões à modernização tecnológica, com novas câmeras, servidores e integração de sistemas com cooperativas de transporte e a Receita Federal.

No primeiro semestre de 2025, o Porto de São Francisco do Sul movimentou 10,5 milhões de toneladas, 7% acima do mesmo período do ano anterior. A exportação de grãos foi o destaque, com mais de 1 milhão de toneladas embarcadas apenas em julho, 90% destinadas à China. O terminal também responde por 50% da importação de aço no país.

Perspectivas e integração logística

A dragagem vai eliminar a necessidade de paradas intermediárias para manobras de navios de granéis sólidos e fertilizantes, reduzindo filas e acelerando o giro das embarcações. O CEO do Porto de São Francisco do Sul afirma que a obra se soma a outros investimentos, como novos berços de atracação e a entrada em operação de terminais privados, incluindo o TGSC e o futuro terminal da Coamo.

Segundo Vieira, a desconcentração portuária, somada à infraestrutura complementar — como a duplicação da BR-280 e a integração ferroviária —, reforça a competitividade frente ao Porto de Santos, hoje sobrecarregado. “Temos mão de obra qualificada, apoio do governo estadual e um ambiente favorável para crescer. Estamos preparando o complexo para ser referência nacional e internacional”, afirmou.

Em um painel sobre a expansão logística em Santa Catarina realizado durante a feira, o secretário de Estado de Portos, Aeroportos e Ferrovias, Beto Martins, ressaltou que a dragagem é parte de uma estratégia mais ampla para ampliar a capacidade portuária e que o desafio logístico vai além das áreas de atracação.

Segundo Martins, apesar da expansão portuária, o grande gargalo logístico ainda está nas rodovias. Atualmente, 94% do transporte de cargas depende do modal rodoviário e apenas 6% utiliza ferrovias. As principais vias de acesso aos portos catarinenses são a BR-101, BR-470 e BR-280.

Para mitigar o problema, Beto Martins citou o projeto Viamar, previsto para começar em 2026, com o objetivo de reduzir o tráfego de cargas na BR-101 e melhorar a fluidez logística. “Se não fizermos nada, vamos comprometer o desenvolvimento e perder competitividade. A infraestrutura é a espinha dorsal da nossa economia”, alertou. O Corredor Litorâneo Norte terá 145 quilômetros entre Joinville e Biguaçu, ligando a cidade mais populosa do estado com o Contorno Viário da Grande Florianópolis. Não há prazo para início das obras.

*A jornalista viajou a convite da feira Logistique.

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