Azul Cargo aposta em cargueiros, e-commerce e intermodalidade para crescer 30% até dezembro

Estratégia da empresa inclui ampliação da frota cargueira, novas rotas internacionais, parceria com operadora rodoviária e avanço com clientes como Amazon, Via e Shopee

Aline Feltrin

A Azul Cargo mira alto no setor logístico e projeta crescer entre 25% e 30% até o fim de 2025, impulsionada por um conjunto de medidas que vai desde a renovação da frota de aviões cargueiros até a entrada em novas rotas internacionais e a diversificação dos serviços com uma operação logística completa. Segundo Izabel Reis, diretora-geral da Azul Cargo, o objetivo é consolidar a empresa como uma operadora de soluções logísticas integradas — e não apenas uma divisão de transporte aéreo de encomendas. A executiva compartilhou a informação durante as gravações do 10º episódio do videocast Transporte Moderno, que vai ao ar nesta quinta-feira (24), às 13h. Assista aqui.

A projeção de crescimento é sustentada principalmente pelo reforço na capacidade de transporte. Neste ano, a companhia incorporou dois novos Airbus A321 cargueiros, que oferecem 40% mais capacidade e 27% mais eficiência no consumo de combustível em relação aos anteriores. “Além do ganho operacional, conseguimos reduzir mais de 9 mil toneladas de CO₂ por ano”, destaca Izabel.

Os novos cargueiros já operam em rotas estratégicas para o Nordeste e Manaus, atendendo com mais agilidade e frequência os principais centros de distribuição do e-commerce nacional. A flexibilidade dessas aeronaves também tem permitido à empresa criar rotas dedicadas, conforme a demanda dos clientes. “Nós conseguimos tirar uma carga de São Paulo e entregar em Manaus em quatro horas”, diz.

O comércio eletrônico, que já representa 39% do faturamento da Azul Cargo, é outro pilar do crescimento. A meta é chegar a 50% ainda em 2025, impulsionada pela entrada de novos contratos com grandes players do setor, como a Shopee, anunciada recentemente. A empresa já atende gigantes como Amazon e Via (dona da Casas Bahia e Ponto), que, segundo Izabel, têm ampliado suas operações em parceria com a Azul.

A capilaridade da malha da Azul — com mais de 150 cidades atendidas e 352 lojas próprias — é um diferencial valorizado por esse tipo de cliente. “Essas lojas fazem coleta, distribuição, entregas e middle mile. Juntando isso com a malha aérea e os cargueiros, temos uma fortaleza logística difícil de bater”, afirma a executiva.

Novos mercados e rotas internacionais

Além da expansão doméstica, a Azul Cargo vai começar a operar rotas internacionais com os cargueiros. Após a homologação, prevista para as próximas semanas, os voos devem iniciar para Santiago e Buenos Aires, abrindo caminho para uma futura ampliação na América do Sul e Central.

Também com foco internacional, a empresa começou recentemente a operar voos comerciais de passageiros com rotas para Madri e Porto. Essas novas conexões têm potencial logístico, especialmente para cargas com destino ou origem na Ásia. “É um mercado promissor. A carga na ida ainda está mais limitada, mas temos muito espaço para crescer na volta desses voos”, afirma Izabel.

Atualmente, 80% da carga transportada pela Azul Cargo viaja nos porões dos aviões de passageiros — o que garante maior aproveitamento da malha existente. A importância da divisão de cargas na operação da Azul tem crescido a ponto de influenciar decisões estratégicas da malha aérea da companhia. “Hoje, quando a Azul vai abrir uma nova rota, somos consultados sobre o potencial de carga”, revela a executiva.

Frota de caminhões

Outra frente para ampliar a atuação da Azul Cargo é a intermodalidade. A empresa firmou neste ano uma parceria com a L´auto, transportadora rodoviária com uma frota de mais de 500 caminhões — dos leves aos pesados, incluindo veículos blindados e refrigerados. Com isso, a Azul passa a oferecer ao cliente uma solução completa de transporte — do ponto de origem até o destino final, incluindo armazenagem.

“Estamos estruturando um modelo de operação logística 360 graus. O cliente nos passa o que precisa — prazo, preço, tipo de carga — e nós montamos o projeto completo”, afirma Izabel. A integração já permite ganhos operacionais e financeiros. A expectativa é que os clientes tenham uma redução de até 15% nos custos logísticos com o novo modelo, em comparação com o modelo anterior, em que a Azul contratava transportadoras pontualmente.

Além da frota, a Lauto contribui com centros de distribuição espalhados pelo país, aumentando a capilaridade e capacidade de armazenagem da Azul Cargo. A parceria já atende grandes clientes, como a PagMenos e a Samsung, que demandam soluções específicas e integradas entre aéreo e rodoviário.

Tecnologia para reduzir custos

Com custos dolarizados — como combustível e leasing de aeronaves — e um cenário macroeconômico ainda desafiador, a Azul Cargo tem investido fortemente em tecnologia para ganhar produtividade e reduzir despesas. Um exemplo é o sorter automatizado instalado no terminal de Viracopos, responsável por agilizar a triagem e processamento de milhares de encomendas por dia. O sistema foi recentemente ampliado.

Outro destaque é o rastreamento completo da carga, que permite à empresa monitorar o status em tempo real e prevenir perdas, avarias e extravios. A rastreabilidade também contribui para o controle de qualidade e segurança, fatores especialmente valorizados no transporte de cargas com alto valor agregado.

No campo da sustentabilidade, os novos cargueiros já garantem menores emissões por tonelada transportada. A Azul também atua com projetos específicos, como o Amazônia Legal, que leva produtos da floresta até São Paulo em menos de 24 horas. “É um impacto direto em desenvolvimento, renda e visibilidade para produtores da região”, diz Izabel. Clientes como Kuehne+Nagel já firmaram parcerias com a Azul para desenvolver cadeias logísticas sustentáveis, com rastreabilidade de emissões e metas de ESG conjuntas.

Operadora logística

Para Izabel Reis, que atua na aviação desde a inauguração do aeroporto de Guarulhos, na década de 1980, o avanço da Azul Cargo ao longo dos anos é também reflexo de uma mudança de mentalidade do mercado. “Hoje mostramos ao cliente que não somos apenas uma transportadora de carga aérea, mas uma operadora logística completa, com soluções desenhadas sob medida”, afirma.

Segundo ela, esse processo começou com abordagens diretas aos clientes, portfólio debaixo do braço, e hoje evoluiu para um cenário em que a própria demanda bate à porta. “Tem cliente nos procurando para transportar sêmen bovino, por exemplo. Eles nem sabiam que era possível fazer esse tipo de operação com segurança e agilidade pelo modal aéreo.”

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