A Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb) realizou nesta quarta-feira (23), na Ceagesp, zona oeste da capital paulista, uma blitz ambiental voltada à verificação de veículos pesados e orientação de motoristas sobre emissões veiculares. A ação faz parte da Operação Inverno 2025, que visa mitigar os efeitos da poluição atmosférica durante a estiagem, período crítico para a qualidade do ar.
O foco da operação foi o controle da emissão de poluentes por caminhões a diesel, especialmente aqueles fabricados a partir de 2012, que utilizam o sistema SCR (Redução Catalítica Seletiva) para reduzir óxidos de nitrogênio (NOx). Técnicos da Cetesb realizaram testes de qualidade do Arla 32, fluido essencial para o funcionamento desse sistema. As amostras foram coletadas diretamente dos tanques dos veículos e analisadas com reagentes químicos e refratômetros. O reagente muda de cor conforme a conformidade do produto: o azul indica fluido dentro das especificações, enquanto tons rosados apontam possíveis adulterações ou má conservação.
Além do Arla, os veículos passaram por diagnóstico ambiental completo, incluindo leitura do sistema OBD (On-Board Diagnostics), verificação da lâmpada LIM (indicadora de falhas) e teste de opacidade, que mede a densidade da fumaça preta emitida pelo escapamento.
“Avaliamos os veículos gratuitamente, com foco na educação e orientação dos transportadores. O controle das emissões é ainda mais essencial no inverno, quando a poluição tende a se concentrar mais próxima ao solo”, afirmou Carlos Lacava, gerente do departamento de fontes móveis de emissão da Cetesb.
A Ceagesp foi escolhida por sua relevância logística, já que recebe diariamente centenas de caminhões que abastecem a Região Metropolitana de São Paulo e outras localidades. A operação teve apoio da administração do entreposto e da Federação das Empresas de Transportes de Cargas do Estado de São Paulo (Fetcesp).
O que os técnicos da Cetesb encontraram durante a operação reforça uma preocupação crescente no setor: o aumento da fraude no Arla 32, fluido à base de ureia que, quando adulterado, perde a capacidade de reduzir emissões e ainda compromete seriamente os sistemas dos veículos.
Mais de 50% do Arla 32 adulterado
Segundo Everton Minatti, diretor da fabricante Usiquímica, cerca de 50% do Arla vendido nas rodovias brasileiras está adulterado — geralmente com ureia agrícola, que contém aldeído, substância proibida no uso automotivo.
“Quando o caminhão usa Arla com aldeído, o sistema entra em looping, tenta compensar injetando mais fluido, o que gera aquecimento, queima chicotes, bombas e até o catalisador. É um efeito cascata que custa caro e aumenta a emissão de poluentes”, explica Minatti. A empresa realizou estudos e testes de campo que embasaram o dado de que uma em cada duas amostras coletadas nas estradas apresenta contaminação.
A fraude costuma ter origem nos próprios fabricantes, alguns dos quais perderam o selo do Inmetro, mas continuam comercializando o produto enquanto recorrem da penalidade. A fiscalização, atualmente, depende de ações do Ibama, da Polícia Federal e do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipem), muitas vezes motivadas por denúncias.
O cenário é particularmente prejudicial para os caminhoneiros autônomos, que não têm acesso direto aos fabricantes e abastecem nos postos de estrada. “Na prática, o posto compra o produto adulterado mais barato, mas vende ao mesmo preço do correto. E o motorista não tem como saber a procedência”, diz Minatti. Como agravante, o Arla adulterado frequentemente apresenta coloração idêntica ao original e o preço também não serve como indicador.
Para combater essa prática, a Usiquímica desenvolveu um teste rápido de identificação de aldeído, semelhante aos testes de combustível, que será lançado no segundo semestre. A tecnologia já consta na norma da ABNT, mas ainda não é obrigatória.
Além disso, a empresa propõe a criação de um código fiscal específico (NCM) para o Arla 32, já que hoje todas as ureias — agrícola, pecuária e automotiva — compartilham a mesma classificação tributária, o que facilita fraudes e dificulta a fiscalização.
Com cinco plantas de produção e capacidade de 6 milhões de litros por mês apenas em sua unidade de Guarulhos (SP), a Usiquímica é uma das maiores fabricantes do fluido no Brasil. Segundo Minatti, grandes frotas conseguem mitigar os riscos com tanques próprios e testes laboratoriais, mas os autônomos seguem vulneráveis.
“É preciso conscientizar e oferecer ferramentas para o transportador se proteger. Porque, quando a luz de falha acende, muitas vezes já é tarde: o sistema está contaminado e o prejuízo é certo”, conclui.
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