Infraestrutura e incentivos devolvem atratividade ao Porto do Rio, avalia o presidente do Sindicarga

O reflexo já aparece nas estatísticas: o Porto do Rio movimentou 5,4 milhões de toneladas no primeiro quadrimestre de 2025, alta de 27,48% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados da Antaq

Aline Feltrin

Após mais de uma década em declínio, perdendo espaço para portos concorrentes em Santa Catarina e no Espírito Santo, o Porto do Rio de Janeiro começa a recuperar sua relevância nas rotas logísticas do país. A avaliação é de Filipe Coelho, presidente do Sindicato das Empresas do Transporte Rodoviário de Cargas e Logística do Rio de Janeiro (Sindicarga), em entrevista exclusiva ao portal Transporte Moderno. A retomada foi Impulsionada por mudanças fiscais, melhorias na infraestrutura e maior articulação entre setor privado e governo estadual.

“Estamos recuperando cargas que, por lógica, sempre deveriam ter vindo para o Rio, mas migraram por causa da guerra fiscal”, afirma Filipe Coelho. Segundo ele, a virada teve início em 2020, com a aprovação de uma lei estadual que passou a oferecer incentivos fiscais semelhantes aos do Espírito Santo, autorizados por convênio do Conselho Nacional de Política Fazendária (Confaz), um acordo firmado entre os estados que trata de questões fiscais e tributárias, especialmente relacionadas ao ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços).

A regulamentação atrasou durante a pandemia, mas os efeitos começaram a aparecer em 2023. Desde então, três grandes tradings já passaram a operar pelo Rio: a Comexport, a Sertrading (do BTG Pactual) e a CS Trade (especializada em pneus importados)).

A competitividade logística também ganhou fôlego com a conclusão das obras de dragagem do canal principal, em abril deste ano, que ampliaram o calado do porto para 15,3 metros — acima dos 14,2 metros operacionais de Santos. O novo calado permite a entrada de navios de longo curso com até 800 contêineres a mais. “Esse diferencial faz do Rio uma escala estratégica para aliviar carga antes de Santos, que opera no limite”, afirma Coelho.

O reflexo já aparece nas estatísticas: o Porto do Rio movimentou 5,4 milhões de toneladas no primeiro quadrimestre de 2025, alta de 27,48% em relação ao mesmo período do ano passado, segundo dados da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq). O destaque foi a carga conteinerizada, que cresceu 21,92%, somando 3,8 milhões de toneladas. O granel líquido teve alta de 74,98% e atingiu 540 mil toneladas. Também avançaram o granel sólido (20,86%) e a carga geral (60,85%).

No recorte por tipo de navegação, a cabotagem — que reflete o transporte entre portos nacionais — cresceu 35,18%, com 1,1 milhão de toneladas. O longo curso, que inclui exportações e importações, somou 3,6 milhões de toneladas, alta de 19,61%.

Além da dragagem, o porto recebeu outros investimentos relevantes, como o leilão do terminal RDJ11, voltado para granéis sólidos e produtos siderúrgicos, com concessão de 10 anos e R$ 6,8 milhões em aportes previstos.

“Os números refletem a nova política de investimentos e modernização da infraestrutura portuária brasileira”, afirma Alex Ávila, secretário nacional de Portos.

Avanço no ranking e localização estratégica

Com esse desempenho, o Porto do Rio retomou a quarta colocação no ranking nacional de movimentação de cargas e mira agora a vice-liderança. “Já foi o primeiro. Depois caiu até a oitava posição. Agora está de volta ao quarto lugar, e a meta é que seja novamente o segundo maior porto do país”, diz Coelho.

Porto do Rio (Divulgação: Portos Rio)

A localização estratégica também pesa a favor. O Rio está a menos de 500 km dos três maiores PIBs estaduais — São Paulo, Minas Gerais e o próprio Rio — e oferece tempos de trânsito menores e custos logísticos mais baixos do que concorrentes no Sul e Sudeste.

Com o fim dos incentivos fiscais previsto na reforma tributária a partir de 2032, o peso do fator logístico tende a aumentar ainda mais. “O Rio voltou ao jogo. Nosso foco agora é comunicar essas vantagens e atrair mais empresas para operar por aqui”, conclui o presidente do Sindicarga.

Quer receber em primeira mão as principais notícias do transporte de cargas e logística? Clique aqui para entrar no nosso canal oficial no WhatsApp.

Veja também