Dia do Caminhoneiro expõe crise de mão de obra no transporte rodoviário de cargas

São Paulo celebra os profissionais da estrada em meio a um cenário de déficit de motoristas, envelhecimento da categoria e dificuldade em atrair jovens para o setor

Aline Feltrin

Nesta segunda-feira, 30 de junho, o estado de São Paulo celebra oficialmente o Dia do Caminhoneiro, conforme instituído pela Lei Estadual nº 5.487/1986. A data reconhece a importância dos profissionais que movimentam a economia brasileira pelas rodovias, transportando alimentos, medicamentos, combustíveis e outros insumos essenciais. Embora existam outras datas comemorativas em cenário nacional — como 25 de julho, dia de São Cristóvão, padroeiro dos motoristas, e 16 de setembro, o Dia Nacional do Caminhoneiro — é neste mês que o estado paulista presta homenagem a esses trabalhadores. Mas a celebração ocorre em um momento desafiador para a categoria.

De acordo com o Instituto Paulista do Transporte de Cargas (IPTC), as admissões de motoristas recuaram 0,4% no primeiro trimestre de 2025 frente ao mesmo período de 2024, mesmo com alta demanda. A região Sudeste contratou 1.300 motoristas a menos no período, contrastando com o crescimento registrado nas regiões Norte e Sul.

Em âmbito nacional o cenário também é preocupante. Segundo levantamento da plataforma Motorista PX com base em dados da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), o Brasil perdeu 1,2 milhão de motoristas de caminhão nos últimos dez anos. “Estamos perdendo mão de obra, não conseguimos reduzir a idade média da categoria e não há reposição na mesma velocidade, o que compromete o futuro da logística no país”, afirma Thiago Alam, diretor financeiro da Motorista PX.

Além da escassez, outro fator agrava a crise: o envelhecimento da mão de obra. Faixas etárias mais maduras lideram as contratações no setor, e motoristas com mais de 71 anos continuam ativos. Dados da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) indicam que a idade média dos motoristas autônomos no país é de 46 anos.

Marcelo Rodrigues, presidente do Conselho Superior e de Administração do Sindicato das Empresas de Transportes de Carga de São Paulo e Região (Setcesp), destaca que o fenômeno é global. “O mundo todo soma mais de 3 milhões de vagas abertas para motoristas de caminhão. O envelhecimento dos profissionais e a falta de atratividade da profissão têm gerado aumento de custos logísticos e queda na produtividade”, diz.

Rodrigues atribui o desinteresse dos jovens à busca por profissões ligadas a entretenimento e tecnologia, bem como à baixa remuneração e às longas jornadas longe da família. “Hoje, os próprios caminhoneiros não querem que seus filhos sigam a mesma profissão”, afirma.

Iniciativas para enfrentar a crise

Para enfrentar a crise, empresas do setor têm investido em escolas internas de formação, remuneração variável atrelada a metas de segurança e eficiência, e programas de inclusão de mulheres, cuja participação cresceu 30% na categoria E nos últimos quatro anos, segundo o movimento Vez e Voz.

Neste 30 de junho, foi lançada em São Paulo a campanha nacional “Orgulho de Carregar o Brasil”, criada pela startup CarboFlix com apoio de marcas como Ambipar e Bradesco Vida e Previdência. A ação busca valorizar os caminhoneiros e atrair jovens para a profissão, com vídeos nas redes sociais, colaborações com influenciadores como Tiago Dionísio e engajamento de pilotos da Fórmula Truck.

“A categoria enfrenta uma crise silenciosa. Esse movimento nasceu para dar visibilidade a quem está no coração da economia brasileira”, afirma Thelis Botelho, CEO da CarboFlix e idealizador da campanha. O projeto também propõe soluções estruturais para o setor, como renovação da frota, ampliação de benefícios e inclusão de tecnologia.

A Motorista PX aposta na digitalização da profissão, com um aplicativo que conecta motoristas autônomos a cargas em um modelo de economia compartilhada, mais flexível e compatível com o estilo de vida das novas gerações. “As gerações mais jovens valorizam liberdade e qualidade de vida. Para elas, isso é mais importante do que o salário. Precisamos aprender a nos comunicar com esses futuros motoristas”, diz Alam.

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