O Brasil perdeu 1,2 milhão de motoristas de caminhão nos últimos dez anos, segundo levantamento da Secretaria Nacional de Trânsito (Senatran), analisado pela plataforma Motorista PX. O dado acende um alerta sobre a dificuldade crescente do transporte rodoviário em renovar sua força de trabalho e atender à demanda logística do país.
“O cenário é crítico. Estamos perdendo mão de obra, não conseguimos reduzir a idade média da categoria e não há reposição na mesma velocidade, o que compromete o futuro da logística no Brasil”, afirma Thiago Alam, diretor financeiro na Motorista Motorista PX. A análise foi apresentada durante o painel “Experiência dos motoristas e usuários de dados na gestão de frotas”, no evento Frotas Conectadas 2025, que acontece até hoje (18), no São Paulo Expo.
Segundo ele, 67% de toda a produção nacional depende do transporte rodoviário, e o impacto da escassez de profissionais já está evidente. “Há caminhões parados por falta de motoristas. Empresas enfrentam dificuldade especialmente em operações de longa distância”, alerta.
Envelhecimento da categoria agrava o problema
O envelhecimento da mão de obra acelera a crise. Dados da Senatran mostram que mais de 500 mil motoristas ativos no país têm mais de 71 anos. “A idade média não está caindo. Muitos se aposentam e poucos entram no mercado. É uma bomba-relógio”, alerta Thiago.
A dificuldade de atrair jovens está ligada às condições de trabalho, que incluem jornadas longas, baixa qualidade da infraestrutura, insegurança nas estradas e uma remuneração que nem sempre compensa os desafios da profissão.
Fenômeno global, com desafios locais
A falta de motoristas não é um problema isolado do Brasil. Estados Unidos, Europa e América Latina também enfrentam o mesmo gargalo. Nos EUA, empresas elevaram salários — com propostas que ultrapassam US$ 2.500 por semana — e flexibilizaram a contratação de estrangeiros, especialmente mexicanos. Mesmo assim, não conseguiram suprir a demanda.
O mesmo se repete em países como Alemanha, Reino Unido e México, onde o transporte de cargas sofre com a escassez de mão de obra.
Mudança geracional desafia o setor
Mais do que infraestrutura e salário, há uma transformação cultural e geracional em curso. “As gerações mais jovens valorizam liberdade, flexibilidade e qualidade de vida. Para 75% dos nascidos a partir da geração Y, a sensação de liberdade pesa mais que o salário. Isso é inegociável”, explica Thiago da PX.
Ele alerta que ações paliativas — como aumento de salário, regionalização das viagens ou contratação de motoristas estrangeiros — não resolverão o problema estrutural. “É preciso que o setor aprenda a se comunicar com os jovens. Eles são os motoristas do futuro”, afirma.
Soluções passam pela tecnologia, protagonismo e novos modelos
Iniciativas que aproximam os jovens da profissão começam a surgir. É o caso da própria Motorista PX, uma plataforma que conecta motoristas autônomos a cargas de forma digital, no modelo da economia compartilhada. O motorista escolhe quando e como quer rodar e é pago por demanda, com emissão de nota fiscal e relacionamento formal.
“O jovem quer um modelo diferente de trabalho, que proporcione liberdade e flexibilidade. Nossa plataforma entrega isso, com formalização e geração de renda, de forma simples e tecnológica”, diz Thiago.
A empresa também investe na formação de novos profissionais, com programas que aproximam jovens ajudantes das transportadoras, incentivando a evolução da carteira C para D, o que também melhora a remuneração.
Foco no protagonismo do motorista
Para Ronaldo Lemes, sócio diretor da Gobrax, a mudança de mentalidade das empresas é urgente. “As transportadoras precisam enxergar o motorista como peça central do negócio, e não apenas como custo. Investir na qualificação, no bem-estar e na tecnologia aplicada ao motorista é fundamental para tornar essa profissão novamente atrativa.”
Ele defende a adoção de tecnologias de gestão baseadas em eficiência, gamificação e reconhecimento de desempenho, colocando o motorista no centro da operação. “Se não fizermos isso, estamos caminhando para a extinção dessa profissão no modelo atual.”
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