Mesmo com a taxa de juros em patamar elevado, o mercado de caminhões a gás dá sinais de avanço no Brasil em 2025. De janeiro a abril, as vendas totais saltaram de 77 para 267 unidades — um crescimento de 247% em um ano. Além disso, o aumento do volume de financiamentos para aquisição desses veículos chama a atenção: foram 115 unidades financiadas por meio do Crédito Direto ao Consumidor (CDC) Verde, contra 33 no mesmo período de 2024.
O CDC Verde é uma linha de financiamento criada pelo Scania Banco que oferece condições especiais para aquisição de veículos menos poluentes, como os movidos a gás natural ou biometano. A proposta é viabilizar a renovação da frota com juros mais baixos e prazos facilitados, tornando a tecnologia sustentável também financeiramente atrativa.
“Hoje, o caminhão a gás tem preço muito próximo ao diesel e, com o CDC Verde, o custo financeiro fica bem menor”, afirma André Gentil, gerente de vendas de soluções de transporte a frotistas da Scania. Segundo ele, a linha verde pode reduzir o custo de capital de R$ 1,40 para R$ 1,10 a cada R$ 100 financiados — o que representa uma economia de até R$ 200 mil em operações de maior porte.
Além do crédito facilitado, benefícios como a isenção de IPVA em estados como São Paulo até 2029 ampliam a atratividade. “Esse incentivo gera um alívio adicional de R$ 70 mil a R$ 80 mil por caminhão ao longo do período”, acrescenta Gentil.
Infraestrutura de abastecimento
Outro fator que contribui para a viabilidade da tecnologia é o avanço dos chamados corredores azuis — infraestrutura de abastecimento de gás natural e biometano. “Hoje o cliente pode sair com GNC do pátio e abastecer com biometano ao longo da rota, o que garante autonomia de até 650 km com eficiência operacional”, diz o executivo.
Segundo ele, o mapeamento de pontos de abastecimento revela uma expansão consistente dessa malha pelo interior do país, além da já ampla cobertura ao longo do litoral. Cidades como Cuiabá, em Mato Grosso, e Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, já contam com postos preparados para atender veículos pesados movidos a gás — um indicativo do avanço para regiões estratégicas do transporte rodoviário de cargas
A infraestrutura de biometano também está em expansão. No Rio Grande do Sul, a Companhia Riograndense de Valorização de Resíduos (CRVR) se prepara para iniciar, em julho, a operação da sua primeira usina comercial em Minas do Leão, com produção inicial de 45 mil m³ por dia, podendo chegar a 60 mil m³/dia em pouco tempo. A distribuição será feita pela Ultragaz.
A empresa também ergue uma segunda planta em São Leopoldo (RS), com metade da capacidade da unidade de Minas do Leão. A operação deve começar no segundo semestre de 2026. Os investimentos nas duas usinas somam R$ 250 milhões — sendo R$ 111 milhões aplicados apenas em 2025.
Conforme o relatório da Agência Internacional de Energia (AIE), Brasil, China e Índia concentram cerca de 80% do potencial de produção sustentável de biogás entre as economias emergentes. O estudo Perspectivas para o Biogás e o Biometano destaca que o Brasil está entre os países com maior capacidade de desenvolvimento nesse setor.
Produzido a partir da decomposição de resíduos orgânicos, o biogás é composto por metano (45% a 75%), dióxido de carbono e outros gases. Após purificação, o biometano se torna equivalente ao gás natural fóssil, podendo ser usado no transporte, indústria e geração de energia — com a vantagem de origem renovável.
Frota Scania a gás
Desde 2019, a Scania já colocou em circulação cerca de 1.500 caminhões a gás no país. A expectativa é de vender mais 1.000 unidades até o fim de 2025, quase dobrando a frota acumulada. “Mais de 5% da produção atual da Scania já é composta por veículos a gás, o que mostra a consolidação dessa tecnologia no portfólio”, afirma Gentil.
A demanda também mudou de perfil. Inicialmente puxada por embarcadores que buscavam soluções de menor impacto ambiental, a tecnologia passou a ser adotada de forma proativa pelos transportadores. “Hoje, é o transportador que compra o caminhão a gás e, com isso, busca embarcadores alinhados com metas de ESG. A lógica se inverteu”, conclui o executivo.
Atualmente, a Scania lidera o mercado de caminhões a gás no Brasil, com mais de 1.500 unidades em circulação desde 2019. No entanto, o cenário começa a mudar com a entrada de novos concorrentes. A Iveco, por exemplo, está intensificando seus investimentos para ampliar sua participação no mercado brasileiro de caminhões movidos a gás. A montadora firmou um acordo com a Companhia de Gás de Minas Gerais (Gasmig) para incentivar o uso do Gás Natural Veicular (GNV) e do biometano no transporte de cargas e passageiros no estado.
A parceria visa impulsionar a adoção de veículos movidos a essas fontes de energia. A montadora já tem 100 unidades a gás encomendadas no Brasil, sendo 30 delas destinadas ao Grupo Cetric. A expectativa da Iveco é de um crescimento expressivo no segmento, impulsionado pelo lançamento do modelo Tector a gás, apresentado na Fenatran do ano passado, ampliando as opções disponíveis para o mercado.
Além disso, a Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO) apresentou na Fenatran 2024 o protótipo Constellation 26.280 movido a biometano, com capacidade de armazenamento de 240 metros cúbicos (960 litros) e autonomia de até 300 km. O veículo é projetado para o setor de coleta de resíduos sólidos e promete reduzir em até 90% as emissões de CO₂e. Os primeiros testes em operação real do veículo serão realizados por clientes em breve.
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