Com raízes dinamarquesas, SGL acelera plano de expansão no Brasil

Após concluir a integração da Blu Logistics, empresa reforça posicionamento estratégico em mercados globais e aposta no Brasil como hub logístico para a América Latina

Valeria Bursztein

Com a aquisição da Blu Logistics Brasil concluída em setembro de 2024, a Scan Global Logistics do Brasil (SGL) iniciou oficialmente suas atividades no país. A transição de marca culminou na integração das equipes — que até então atuavam sob o nome Blu Logistics Brasil — com os mais de 4.500 colaboradores da companhia em nível global. Agora, a SGL do Brasil reforça seus serviços em importação marítima (seu core business), frete aéreo, exportações de commodities e cargas consolidadas, além de prever novos investimentos para ampliar a oferta de serviços e expandir a equipe.

Considerada um dos principais players globais no segmento de freight forwarding (agenciamento de cargas) — incluindo seguro de carga, desembaraço aduaneiro, transporte rodoviário, cabotagem e outras soluções logísticas integradas —, a Scan Global, originária da Dinamarca, tem forte presença no modal marítimo.

A empresa vem ampliando suas operações na América Latina nos últimos dois anos por meio de novas entradas em mercados estratégicos e aquisições. No continente, a companhia está presente na Argentina, Colômbia, Chile, Peru, México e Brasil, além de atuar fortemente na Europa, Ásia e Estados Unidos. Com mais de 40 anos de atuação, opera hoje em cerca de 50 países, com um time global de mais de 4.500 colaboradores.

Globalmente, a SGL movimentou 550 mil TEUs em 2024, entre importações e exportações, conforme divulgado no relatório anual da matriz na Dinamarca. A expectativa é manter o crescimento de dois dígitos ao ano.

A empresa não divulga os números por país, mas, segundo o CEO da Scan Global Logistics Brasil, Gabriel Carvalho, o país tem potencial para representar uma fatia relevante desse volume, com base em um plano de crescimento sólido e sustentável. Atualmente, a companhia conta com 300 colaboradores no Brasil, distribuídos entre operações, áreas comerciais, atendimento ao cliente, tecnologia e gestão.

Embora não revele detalhes da política de investimentos, a Scan Global Logistics mantém sua estratégia de crescimento via aquisições. “Já foram dezenas de aquisições nos últimos anos — e esse ritmo deve continuar. A aquisição da Blu Brasil reforça que o país está, sim, no radar estratégico da companhia. Queremos ser também um consolidador no Brasil e na América Latina, com foco em crescimento de longo prazo e geração de valor para os nossos clientes e parceiros”, antecipou o executivo.

Transição para SGL

Em entrevista para o portal Transporte Moderno, a Import Chief Commercial Officer da Scan Global Logistics do Brasil, Carolina Maciel, o processo de transformação da Blu Logistics em SGL foi tranquilo. “Foi uma transição muito rápida. Normalmente, quando é feita uma aquisição desse porte, pode levar até mais de um ano. No nosso caso, em menos de três meses já tínhamos avançado bastante e, agora, com seis meses, podemos dizer que a transição está completa. E isso aconteceu porque as culturas das duas empresas são muito similares.”

Ela acrescenta que a composição de clientes e mercados atendidos também facilitou a integração. Enquanto a Blu concentrava suas operações na Ásia — com quase 85% do volume ligado a eletrônicos e tecidos — e exportação de commodities, a SGL tem forte presença no setor automotivo na Europa e nos Estados Unidos, onde mantém 40 escritórios. “Agora, temos acesso a contas globais e empresas que antes não atendíamos, podendo oferecer aos nossos clientes no Brasil uma capilaridade muito mais consistente, dentro de uma rede segura.”

Ao avaliar o cenário internacional e o vai e vem da política tarifária imposta pela atual gestão norte-americana, Carolina se mostra otimista. “O Brasil tem certa vantagem por ser o segundo maior exportador de commodities agrícolas do mundo. É uma porta que se abre. Vemos dois cenários: um é o aumento na importação de produtos chineses, cujo volume precisa ser redirecionado — e o Brasil pode absorver parte disso. Mas não vejo impacto relevante nos níveis de frete ou na oferta de contêineres, porque há muitos serviços disponíveis para o Brasil hoje, inclusive indiretos. Temos capacidade para absorver novos volumes. Nos próximos meses, teremos a oportunidade de observar melhor o comportamento do mercado.”

Embora a importação continue sendo o carro-chefe da operação, a SGL do Brasil vem ganhando musculatura também nas exportações. “Tivemos um aumento de exportações muito robusto agora e queremos continuar investindo nessa frente, porque, nos últimos três anos, conseguimos nos consolidar de forma muito palpável.”

Vendas inteligentes

Sobre o futuro, Carolina destaca que a empresa está investindo em “vendas mais inteligentes”. “O cliente já não quer contratar apenas um serviço. Ele quer um pacote completo: frete, transporte terrestre, desembaraço, entre outros. Essas empresas procuram fornecedores que ofereçam estrutura, consultoria e assessoria.” Na sua visão, capilaridade, escala e flexibilidade são cruciais no mercado atual.

“Temos hoje nove escritórios. Recentemente, inauguramos uma unidade em Salvador (BA) e planejamos abrir mais dois, em Manaus (AM) e Vitória (ES). Temos muito volume para Manaus e está chegando o momento de ter uma estrutura própria por lá.”

Na América do Sul, a empresa já opera na Argentina, Colômbia, Peru e Chile. “A maioria desses países está crescendo aos poucos, já com volumes recorrentes. Aliás, uma das metas da empresa é se tornar um hub logístico na América Latina — e estamos avançando nesse objetivo não apenas com a operação tradicional internacional, mas também com o transporte internacional terrestre, que ainda é pequeno, cerca de 1% da operação. Temos uma operação ainda tímida com o mercado argentino, mas queremos expandir porque agora, com a nova estrutura, conseguimos realmente olhar de ponta a ponta. É um novo cenário.”

No mercado doméstico, a SGL do Brasil atua de forma pontual, atendendo demandas específicas da carteira de clientes, mas o segmento está no radar. “É uma questão de capacidade. Realizamos algumas operações domésticas pontuais, mas estamos atentos ao potencial da cabotagem. No entanto, é um processo. Não queremos crescer a qualquer custo, mas de forma sustentável.”

Sustentabilidade

Ao falar sobre sustentabilidade, Carolina ressalta que a descarbonização do transporte passou a ser um norte para a empresa. “Já estamos trabalhando no desenvolvimento de produtos específicos e, desde o ano passado, começamos a vender algumas soluções diferenciadas. Mas há resistência — o mercado brasileiro ainda não está disposto a pagar mais por esse tipo de produto. Mesmo assim, seguimos comprometidos em desenvolver soluções que façam sentido para algumas empresas.”

Um dos serviços da SGL que teve melhor adesão no mercado internacional é a compra de créditos de carbono em operações marítimas.

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