Indústria de implementos rodoviários recua 3,72% no quadrimestre e sente impacto dos juros altos

Em abril, mercado caiu 11,24% na comparação anual; segmento pesado acumula retração de quase 20% no ano, puxado pela baixa na demanda do agronegócio

Aline Feltrin

A indústria brasileira de implementos rodoviários segue em ritmo lento em 2025. No primeiro quadrimestre, o setor registrou retração de 3,72% no volume de emplacamentos, com 48.005 unidades entregues entre janeiro e abril, contra 49.862 no mesmo período do ano passado, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários (Anfir)

Em abril, o mercado teve desempenho ainda mais negativo: foram emplacados 12.276 produtos, queda de 11,24% em relação ao mesmo mês de 2024, quando foram registradas 13.830 unidades. O recuo foi puxado principalmente pelo segmento pesado (reboques e semirreboques), que caiu de 8.025 para 5.968 unidades, retração de 25,6%. Já o segmento leve (carrocerias sobre chassis) cresceu 8,66%, passando de 5.805 para 6.308 unidades.

No acumulado do ano, o setor pesado apresenta queda de 19,11%, reflexo direto da retração da demanda por parte de transportadores e embarcadores. Em sentido contrário, os implementos leves tiveram alta de 19,81%, impulsionados por setores urbanos e de distribuição.

Para o presidente da Anfir, José Carlos Spricigo, o fator determinante para o freio no setor é o ambiente de crédito restrito. “Juros altos afastam investimentos e, sem aportes aos negócios, as empresas não renovam nem ampliam suas frotas”, afirma, ao comentar o novo patamar da taxa Selic, fixada em 14,75%.

Descompasso com o campo

Mesmo com previsões otimistas para o agronegócio — segmento com forte peso no mercado de implementos pesados —, a demanda por equipamentos específicos segue em queda. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) projetam crescimento de 11,9% na safra de grãos, que deve alcançar 327 milhões de toneladas. A produção de laranja deve avançar 4,5%, chegando a 12,8 milhões de toneladas, enquanto a cana-de-açúcar tende a registrar a segunda maior safra da história, com 699 milhões de toneladas.

Apesar disso, modelos voltados à logística agrícola acumulam fortes retrações no quadrimestre: graneleiros e carga seca (-39,92%), basculantes (-38,49%) e canavieiros (-23,99%). “Com o novo aumento na taxa de juros, fica difícil estimar quando o desempenho do segmento de reboques e semirreboques apresentará melhora, porque as empresas não querem se endividar”, conclui Spricigo. Segundo o executivo, a indústria aposta em uma eventual reversão do ciclo de alta dos juros para retomar o crescimento, mas o ambiente macroeconômico e o apetite por crédito continuam como barreiras à frente.

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