Transporte Moderno – Como você avalia o mercado de caminhões para 2025 no Brasil?
Elmar Gans – A gente está vendo o mercado entre 120 e 125 mil unidades. Deve ficar mais ou menos no mesmo nível do ano passado, talvez com um leve aumento. Os primeiros meses de 2025 começaram bem, refletindo o otimismo visto na última Fenatran, mas a preocupação principal continua sendo a taxa de juros, que dificulta muito o financiamento de caminhões.
Transporte Moderno – Se não fosse a questão da taxa de juros, o mercado teria mais potencial de crescimento?
Elmar Gans – Com certeza. A taxa de juros alta impacta diretamente o financiamento, e isso freia as vendas. Além disso, o PIB não deve crescer tanto em 2025, o que também segura o mercado. A combinação de um PIB mais fraco e juros altos trava tanto o financiamento quanto a demanda.
Transporte Moderno – Nesse cenário desafiador, a locação de caminhões pode ganhar mais espaço?
Elmar Gans – A locação é uma tendência forte, sim. As locadoras se tornaram clientes muito importantes para as montadoras. Algumas montadoras, inclusive, criaram suas próprias locadoras para disputar esse mercado. Mas elas também sofrem com o custo do financiamento. Mesmo assim, a locação facilita a adoção de novas tecnologias, como caminhões elétricos e a gás, porque o transportador não precisa se preocupar com manutenção e revenda.
Transporte Moderno – A aposta é que a eletrificação e o gás vão ganhar mais espaço no mercado de caminhões pesados neste ano?
Elmar Gans – Sim, mas ainda de forma lenta. O diesel continua dominante, mas caminhões leves elétricos estão ganhando mercado, e o gás também tem potencial. O problema do gás é o valor de revenda, que acaba sendo mais baixo que o diesel. Empresas como a Scania têm investido no biometano para tentar contornar isso.
Transporte Moderno -O mercado de caminhões a gás pode crescer quanto nos próximos anos?
Elmar Gans – Eu acredito que, em até 10 anos, o gás pode chegar a representar 10% das vendas totais de caminhões no Brasil. Hoje, ele ainda não passa de 1%, mas o aumento da oferta de biometano e a busca por metas de sustentabilidade devem impulsionar esse mercado.
Transporte Moderno – E o hidrogênio? Pode ser uma solução viável para o Brasil?
Elmar Gans – O hidrogênio tem grande potencial, principalmente o verde, que o Brasil pode produzir a um custo competitivo. Mas ainda é uma tecnologia cara e distante da realidade atual. A infraestrutura para hidrogênio e elétricos pesados também é um grande desafio.
Transporte Moderno – O agronegócio será o grande impulsionador das vendas de pesados em 2025?
Elmar Gans: Com certeza. O crescimento da demanda por caminhões pesados está muito ligado ao agronegócio e às regiões do interior do Brasil. Isso influencia até as estratégias de marketing das montadoras, que se voltaram mais para o setor agro.
Transporte Moderno – Para encerrar, o Brasil continua sendo um mercado estratégico para as grandes montadoras?
Elmar Gans – Sim, mas o desafio é a volatilidade. O Brasil sempre foi um mercado rentável para as montadoras europeias, mas com altos e baixos. Tivemos uma grande queda durante o governo Dilma, por exemplo. As montadoras sabem que o potencial é enorme, mas também estão cientes dos riscos.
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