Scania projeta estabilidade para o mercado de caminhões em 2025

A empresa prevê uma baixa demanda por veículos em alguns segmentos e alta em outros, mas aponta a taxa de juros como o principal vetor para entender qual será o tamanho real do mercado neste ano

Sonia Moraes

A Scania projeta estabilidade para o mercado de caminhões em 2025, com desempenho similar ao ano passado, sem expressivo crescimento, devido ao atual momento econômico com taxas de juros elevadas, que podem impactar os negócios. “Será um ano bem interessante, com baixa demanda por veículos em alguns segmentos e alta em outros”, disse Alex Nucci, diretor de vendas de soluções da Scania operações comerciais Brasil, em entrevista à Transporte Moderno.

Ao contrário de 2024, quando o mercado de caminhões iniciou o ano recompondo os volumes e com perspectiva de forte retomada, em 2025 o cenário é diferente, com leve desaquecimento vindo dos últimos três meses do ano passado devido ao aumento das taxas de juros, segundo o diretor da Scania.

Embora menor do que em 2024, o ritmo de atividades está numa normalidade, sem grandes percalços. “Até esse momento o mercado está equilibrado e menos turbulento do que 2024, mas a taxa de juros será principal vetor para entender qual será o tamanho real neste ano, pois alguns segmentos estão indo bem”, afirmou Nucci. “Após o fechamento do primeiro trimestre e, com a consolidação dos patamares da taxa de juros, será possível entender se 2025 tem potencial de crescimento, estabilidade ou se haverá queda.”

Nucci não vê possibilidade de as questões internacionais, como as guerras e as decisões do novo presidente dos Estados Unidos, afetarem o desempenho do Brasil. “O desafio é interno e está ligado diretamente à taxa de juros”, ressaltou.

Potencial de crescimento

A Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) prevê um crescimento de 1,3% para as vendas de caminhões e uma estabilidade na produção neste ano, como sinal de alerta, que está atrelado aos desafios em relação ao câmbio e à taxa de juros. “O mercado poderia crescer até 5% neste ano, mas teremos muitos desafios para encontrar o ponto de equilíbrio entre preço, taxa de juros, restrição de crédito e demanda aquecida”, destacou Nucci.

O diretor da Scania ressaltou que neste momento é difícil encontrar um número que jogue o mercado para baixo porque o PIB deve crescer de 1,5% a 2% e, embora seja menor do que 2024, é um índice positivo. “Se o PIB cresce, naturalmente o mercado de caminhões cresce também e tem segmentos que estão indo bem.”

Entre os segmentos que a Scania tem grande participação nas vendas de caminhões, o de cana-de-açúcar poderá ter queda de 10% em 2025, após enfrentar as queimadas no ano passado e, mesmo com o maior investimento para o replantio, não será suficiente para a produtividade alcançar o volume de 2024, segundo Nucci.

A construção civil, que apresentou bom desempenho em 2024, deverá ficar estável e com possível queda, na avaliação de Nucci, devido à limitação de recursos, especialmente por parte do governo para investimentos em infraestrutura, e a taxa de juros elevada não irá contribuir para um crescente investimento das companhias na construção de imóveis. “O governo vai reduzir a demanda de infraestrutura e a construção civil estará um pouco devagar neste ano.”

Exceto o setor de cana e de construção civil, outros segmentos terão pequeno ou razoável crescimento neste ano, na visão do diretor da Scania. “O segmento de carga frigorificada tem investimentos para que as vendas cresçam de 4% a 5% a mais do que em 2024, especialmente devido ao dólar próximo de R$ 6. O agronegócio deve crescer entre 9% a 10% porque choveu na hora certa e a produtividade vai bem. A expectativa é que a nova safra chegue a 320 milhões de toneladas em 2025 e, com o dólar acima de R$ 6, é muito favorável para a exportação”, destacou Nucci.

Outro segmento, o de mineração, tende a ter recuperação este ano. “A China deve demandar um pouco mais, o que faz com que o Brasil seja um grande player de exportação de minério novamente. A celulose segue firme nas grandes produtoras e a indústria de celulose no Brasil mantém investimentos milionários para aumentar a produção”, informou Nucci.

“Quando olhamos para o segmento de mineração, madeira, o baixo nível de desemprego e a maior capacidade de renda da população, notamos claramente que os segmentos de carga geral e carga industrializada têm projeção de crescimento em 2025 e serão puxados pelo e-commerce, o que demandará caminhão”, disse Nucci.

Desafios e oportunidades

Apesar dos desafios, o ano de 2025 será de oportunidades, na avaliação de Nucci. “A Scania segue firme com a sua estratégia. Tem um portfólio robusto de veículos, desde semipesados até os extrapesados. Lançou o caminhão de sete litros que está indo muito bem e com boa aceitação do mercado. Tem o modelo 8×2 de 9 litros e 320 cv, que é líder do segmento; ampliou o portfólio com o modelo de 370 cv, que é o veículo de entrada. O caminhão Plus tem espaço no mercado com custo mais acessível, o Super com melhor desempenho e eficiência energética e os veículos segmentados para o transporte de cana, madeira e mineração”, detalhou.

No mercado de caminhões, a Scania fechou 2024 em quarto lugar, com 19.142 veículos emplacados, 53,8% superior a 2023, quando vendeu 12.443 veículos no país, e a sua participação foi de 15,67%, segundo a Anfavea. No segmento de pesados, aumentou em 49,8% as suas vendas, de 11.619 unidades em 2023 para 17.407 unidades no ano passado, e o seu market share saltou de 22% para 27,7%. “A Fenatran foi um momento bom, com volume expressivo de quase 3.000 unidades comercializadas e ajudou a incrementar as vendas no primeiro trimestre de 2025”, disse Nucci.

A produção na fábrica de São Bernardo do Campo (SP) está em ritmo normal. “Não há desafios logísticos na cadeia de suprimentos e já temos encomendas com prazo de entrega para 45 e 60 dias e, em alguns casos, 90 dias”, disse Nucci.

O carro-chefe da empresa neste ano tem sido o semipesado e o modelo para o segmento de cana. “Agora começa a ganhar tração com os veículos 6×4 conectados ao agronegócio. Até o fim de março, com a colheita da soja no Mato Grosso e depois no Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul, o mercado ficará mais aquecido para veículos 6×4, depois há uma tendência de crescimento do modelo 6×2 para o transporte de carga industrializada, que é um segmento mais estável, conectado ao desempenho da economia”, comentou Nucci.

“O agronegócio tem um pico agora, depois tem a entressafra de milho, mas carrega soja, insumos, suprimentos para a safra do milho, colhe o milho e vai até o final do ano movimentando carga nos portos, ferrovias e terminais. São cargas maiores, commodities, produto de maior valor agregado e tem demanda para todos os caminhões pesados.”

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