Volkswagen prevê muitos desafios para o mercado de caminhões em 2025

A preocupação da empresa é a taxa de juros, que está próxima de 15% ao ano e inibe o crescimento do mercado, além da alta do dólar, que eleva os custos dos fornecedores e, consequentemente, o preço dos caminhões

Sonia Moraes

A Volkswagen Caminhões e Ônibus (VWCO) prevê muitos desafios em 2025 que serão impulsionados por questões internacionais, como os conflitos globais que afetam o fluxo logístico e as incertezas em torno da posse de Donald Trump na presidência dos Estados Unidos. No Brasil, a preocupação é com a valorização do dólar e o aumento da taxa de juros, que impactam diretamente os financiamentos.

A Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) projeta para este ano um crescimento de 4,5% nas vendas de caminhões, enquanto a Anfavea prevê um avanço de 1,8%. “A projeção da Volkswagen está baseada nesses números, mas acreditamos que há potencial para um crescimento ainda maior. No entanto, o que preocupa é a taxa de juros, que está próxima de 15% ao ano. Isso exerce um efeito inibidor sobre o crescimento do mercado, pois interfere diretamente nas taxas de financiamento das linhas CDC e Finame”, disse Ricardo Alouche, vice-presidente de vendas, marketing e serviços da Volkswagen Caminhões e Ônibus, em entrevista à Transporte Moderno.

Em janeiro, a taxa de financiamento aumentou um pouco mais do que no quarto trimestre do ano passado, segundo Alouche. “Um cliente que pagava R$ 100 por mês no financiamento de um caminhão em setembro do ano passado, hoje paga ao redor de R$ 120 e essa parcela não cabe no bolso de muitos clientes”, exemplificou.

Outro impacto negativo, na avaliação de Alouche, é decorrente da valorização do dólar. “Grande parte dos fornecedores utiliza componentes importados e, quando o dólar está mais caro, o fornecedor precisa elevar o preço dos produtos e a indústria tem que reajustar o preço do caminhão. A minha perspectiva é que o preço dos caminhões irá subir nos próximos meses porque a taxa de financiamento já aumentou. Então, provavelmente, isso terá um impacto negativo no mercado”, afirmou.

Agropecuária e setor industrial

Em sua análise sobre o mercado brasileiro, Alouche comentou que há expectativas negativas em relação à economia que deve encolher neste ano. “Mas o Bradesco aponta para um crescimento do PIB de 2,2%. É menor do que em 2024, mas é crescimento e não queda. Quando o PIB cresce, o mercado de caminhões também cresce, e isso nos dá um relativo conforto de que temos boas perspectivas para o ano.”

As projeções do Bradesco também apontam para um crescimento de 5,5% para a agropecuária. “Apesar das dificuldades noticiadas todos os dias em todos os jornais, encontramos perspectivas positivas e acreditamos que 2025 seja bom para retomada do agronegócio e do setor industrial que está produzindo mais e contratando, o que aumenta o consumo e tudo isso chega ao seu destino é através do caminhão. Então, do outro lado da balança, tem outros fatores positivos: o agro vai crescer, o investimento da construção civil está crescendo e o e-commerce continua avançando. São indicadores que, na nossa visão, compensam os fatores inibidores”, destacou o vice-presidente de vendas e marketing da Volkswagen.

Liderança no mercado

No mercado de caminhões, a Volkswagen encerrou 2024 na liderança, com 31.328 veículos vendidos, 16,0% acima do mesmo período do ano passado (27.018 unidades) e mais de 6.000 unidades à frente do segundo colocado. “Pela vigésima primeira vez, a empresa conquistou a liderança de mercado num segmento competitivo. O volume foi bom e a participação em relação ao segundo colocado foi ampliada”, afirmou Alouche.

O desempenho positivo da Volkswagen no ano passado foi atribuído por Alouche à boa aceitação dos seus produtos. A participação da Volkswagen no mercado foi de 25,6%, o Delivery Express atingiu 17,8%, o Delivery de 6 a 9 toneladas garantiu 50%, o Delivery de 11 toneladas conseguiu 52% e os Constellation ao redor de 50%.

Com o Delivery elétrico, a empresa obteve 49% de participação entre todos os caminhões elétricos vendidos no país em 2024, que totalizaram 480 unidades. “Foi uma marca muito importante, pois em 2022 a participação era de 20%, e o veículo custa o dobro do modelo importado vendido no Brasil”, observou Alouche.

No segmento de extrapesados acima de 420 toneladas, a Volkswagen aumentou a participação com o Meteor ocupando a terceira colocação, depois caiu um pouco por falta de produto. “Vendi muito mais do que a média em julho e em agosto acabou e a Volkswagen não conseguiu produzir a tempo mais unidades do Meteor, mas até o fim do primeiro trimestre vai conseguir recuperar”, disse Alouche e destacou: “O Meteor se manteve num ritmo crescente durante todo o ano de 2024 e é assim que vamos continuar em 2025.”

Alouche ressaltou que a marca Volkswagen está fortalecida, com uma linha de produtos que se destaca como a mais completa do mercado, oferecendo excelência em robustez, economia de combustível e satisfação do cliente.

Locação

Na área de locação, em que atua desde 2022 com a inauguração da Truck Rental, em parceria com o banco Volkswagen, a companhia fechou 2024 com crescimento de 130% em relação a 2023, tendo 4.200 veículos alugados por meio da rede de concessionária.

Com o consórcio lançado durante a Agrishow no ano passado, a empresa vem registrando crescimento mensal com o modelo Meteor. “Nos últimos 12 meses, vendemos 3.500 cotas e emplacamos 1.500 caminhões adquiridos por meio dessa modalidade”, destacou Alouche.

Para assegurar a sustentabilidade no pós-venda, a Volkswagen mantém em Vinhedo, interior de São Paulo, seu centro de distribuição de peças, que completou 20 anos de operação em 2024 e registrou recorde de faturamento de peças. “Nos últimos cinco anos, crescemos 20% ao ano e dobramos o negócio de peças. A frota aumentou, e o padrão de atendimento também, com um crescimento de 17% em 2024. Não apenas vendemos peças, mas também criamos inovações para o mercado.”

Segundo Alouche, o crescimento das vendas de caminhões no ano passado foi impulsionado pelos setores de infraestrutura e construção civil, com destaque para a compra de veículos betoneira e caçamba basculante, embora esses segmentos não representem uma grande fatia do mercado. “Em termos de volume, a linha Delivery teve desempenho significativamente superior, pois o mercado é mais pulverizado e manteve-se forte ao longo de todo o ano de 2024.”

Ritmo de produção

Na fábrica de Resende, no Rio de Janeiro, o ritmo de trabalho está normal para o início de ano. “A produção não está tomada, mas como fechamos bons negócios na Fenatran, temos caminhões para entregar até abril”, disse Alouche.

“Apesar do aumento da taxa de financiamento e de todas as dificuldades relacionadas à alta do dólar, os empresários continuam comprando caminhão”, afirmou Alouche. “Mas ainda não temos um bom termômetro para avaliar como serão os negócios em 2025. Nesta quarta semana de janeiro, comparada com as duas semanas anteriores, notamos um brando crescimento do mercado, mas longe de dizer se está pior, ou melhor, que em dezembro do ano passado. Ainda não é possível ter uma previsão. No mês de fevereiro, embora seja mais curto, será possível ter uma visão mais assertiva de como será o resto do ano”, finalizou Alouche.

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