Com a previsão de uma safra de grãos de 322,6 milhões de toneladas e 10,2% maior que a colheita do ano anterior, a expectativa é que o escoamento pós-safra aqueça a demanda por transporte a partir de março, o que pressionará para cima o preço do frete rodoviário. Pelos cálculos do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (ESALQ-LOG), ligado ao Departamento de Economia, Administração e Sociologia da USP, o valor deverá aumentar em 20%. Em entrevista ao portal Transporte Moderno, Fernando Bastiani, pesquisador da instituição, explica que a projeção se baseia na própria produção recorde, na concentração da colheita em alguns estados – sobretudo no Mato Grosso – e nas consequências da ‘queda de braço’ entre as tradings de soja (empresas que compram, vendem ou intermediam a comercialização do grão) e as concessionárias de ferrovias. “Isso poderá refletir na menor exposição do grão em ferrovias e um aumento da demanda para o transporte rodoviário, sobretudo em rotas para o Porto de Santos, por exemplo.”
Segundo o pesquisador, o transporte rodoviário de cargas também terá uma demanda adicional devido à necessidade mais acelerada de escoamento dos grãos ocasionada pelo déficit de armazenagem existente no país, um problema significativo para o setor de logística agrícola. “Com essa necessidade de caminhões adicionais para acelerar o escoamento, haverá um aumento no volume de caminhões, que elevará também as margens de lucro dos transportadores, um cenário diferente do ano passado.”
Preço do diesel comprometerá a rentabilidade?
Embora as margens de lucro das transportadoras tendam a aumentar com a elevação da demanda, a previsão da ESALQ-LOG é de que também ocorra um aumento no custo operacional, especialmente em relação ao diesel, que pode representar até 40% das despesas das empresas de transporte. De acordo com o pesquisador, fatores geopolíticos indicam que o preço do diesel poderá subir entre 5% e 10% nas refinarias e ainda mais nas bombas nos próximos meses.
“Existem vários motivos importantes que podem influenciar esse aumento. O preço do diesel é impactado pela cotação internacional do petróleo, que está sendo afetada por mudanças no cenário global, como as restrições impostas pelos EUA à Rússia, o que tem desestabilizado os preços internacionais do petróleo. Além disso, a desvalorização do real em relação ao dólar pressiona os custos. Por isso, acredito que, ainda em 2025, a Petrobras possa realizar um reajuste no preço do diesel no mercado interno”, explica o pesquisador.
Ele observa que, em períodos de alta demanda, os transportadores geralmente enfrentam dificuldades para repassar o aumento de custos aos clientes. “Isso pode ser observado pelo histórico dos preços de frete, em que, muitas vezes, o repasse de custos leva alguns meses para ser efetivado, impactando negativamente a rentabilidade das transportadoras.”
Desafios da infraestrutura e soluções para o futuro
Na visão do pesquisador, o número de caminhões disponíveis no Brasil é suficiente para atender à demanda, porém, o país ainda enfrenta ineficiências operacionais em momentos de pico. Em períodos de alta demanda, como a colheita de grãos, os caminhões podem ficar presos em longas rotas ou parados nos portos devido à lentidão no processo de carregamento e descarregamento, o que reduz a produtividade do transporte. A impressão é que não há veículos suficiente.
“O cenário poderia ser amenizado com melhorias na infraestrutura de armazenagem, permitindo maior flexibilidade no escoamento da produção”, diz. Bastiani também aponta que uma maior diversificação na matriz de transporte do país, com investimentos em ferrovias e hidrovias, seria crucial para reduzir a pressão sobre as rodovias e permitir que os caminhões realizem trajetos mais curtos, com maior eficiência operacional.
“É fundamental investir em modernização portuária, melhorar as condições das rodovias e diversificar as rotas de transporte. O ideal seria que as longas distâncias fossem cobertas por ferrovias e hidrovias, enquanto os trajetos curtos ficassem a cargo dos caminhões. Isso não apenas reduziria os custos de transporte, mas também aumentaria a competitividade do Brasil no mercado global”, conclui o pesquisador.
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