Thiago Braga Ferreira, gerente executivo da Fenatran: “O Brasil apresenta um enorme potencial, especialmente no setor de transporte rodoviário. Nesse contexto, as empresas de outros países reconhecem a oportunidade de explorar novos negócios”

À frente da maior feira de transporte rodoviário da América Latina, o executivo contou ao portal Transporte Moderno como o cenário atual do setor influencia as expectativas de negócios para esta edição do evento

Aline Feltrin

Transporte Moderno – O que o público pode esperar da edição de 2024 da Fenatran? Você acredita que as inovações apresentadas no evento refletirão a mensagem do IAA Transportation, realizado em setembro? Na edição anterior do evento europeu, o foco estava nos caminhões elétricos, mas, neste ano, o diesel voltou a ganhar relevância. Como isso influenciará a Fenatran?

Thiago Ferreira – Na Fenatran, a forte tendência global por veículos elétricos é evidente, mas muitos reconhecem que a realidade é mais complexa, especialmente pela falta de infraestrutura e pelas longas distâncias a serem percorridas. Atravessar o Brasil é comparável a cruzar toda a Europa, exigindo um sistema robusto para garantir viagens seguras. Além disso, na Europa, os custos aumentaram e muitos veículos elétricos dependem de usinas de carvão, gerando maior poluição. Essa complexidade tem levado a um ressurgimento do diesel no setor.

Transporte Moderno – Mesmo com o diesel de volta aos holofotes, você acredita que a Fenatran será pautada nas múltiplas soluções energéticas?

Thiago Ferreira – A Fenatran deste ano irá destacar as diversas soluções energéticas disponíveis e a integração entre diferentes meios de transporte, já adotada por algumas empresas. O evento apresentará um portfólio robusto para que empresários e transportadores avaliem qual tecnologia atende melhor às suas necessidades, considerando sustentabilidade, economia e a natureza da carga. A edição anterior abordou alternativas energéticas, mas ficou claro que o Brasil, por ser um país continental, precisa de soluções específicas para curtas e longas distâncias. O elétrico é ideal para trajetos curtos, enquanto o gás pode servir como uma transição para percursos mais longos. Este ano, a Fenatran consolidará essas informações, ajudando os participantes a entenderem como aplicar cada tecnologia de forma eficaz em suas operações

Transporte Moderno – As empresas de transporte estão começando a ter uma visão mais clara sobre a necessidade de adaptarem suas frotas na trajetória da descarbonização?

Thiago Ferreira – Sim, sem dúvida, e estão percebendo que a consultoria aprofundada feita pela montadora é essencial. Por exemplo, um transportador pode precisar de um caminhão elétrico, enquanto outro pode se beneficiar mais com um modelo a diesel.

Transporte Moderno – Então, essa consultoria é fundamental para esse momento de redução de emissões no transporte…

Thiago Ferreira – Exatamente. É preciso alinhar a proposta à realidade da infraestrutura disponível e ao uso que o cliente fará do veículo. A descarbonização deve ser consciente e aplicada onde realmente faz sentido.

Transporte Moderno – E sobre a popularização dos caminhões elétricos, como você enxerga essa transição?

Thiago Ferreira – Inicialmente, houve uma euforia em relação aos elétricos, mas, agora, a realidade se impõe. É crucial entender que a viabilidade do uso de um caminhão elétrico depende do tipo de operação. Rodar de São Paulo a Fortaleza com um elétrico, por exemplo, é um grande desafio.

Transporte Moderno – Neste ano, a Fenatran tem apenas duas marcas chinesas de caminhão, no passado esse número já foi maior. Por que essa redução?

Thiago Ferreira – O mercado brasileiro é exigente, e isso torna a entrada de novas marcas um desafio. Apenas algumas empresas, como a XCMG e a TEVX Higer, estão na feira, comparando com anos anteriores, a presença chinesa diminuiu.

Transporte Moderno – Por outro lado, houve um incremente de expositores internacionais. O que que motivou essas empresas a participar da Fenatran este ano?

Thiago Ferreira – O Brasil é um mercado de grande potencial, especialmente no transporte rodoviário, que é fundamental para a logística do país.  Por isso, as empresas enxergam a oportunidade de entender melhor o mercado e buscar negócios, já que a demanda por caminhões continua alta.

Transporte Moderno – Qual é a expectativa de negócios para essa edição?

Thiago Ferreira – É muito positiva. Na última edição, o valor foi de aproximadamente R$ 9,5 bilhões. Agora, com um aumento de 30% a 35% no credenciamento, as perspectivas são ainda melhores.

Transporte Moderno –  Você acredita que a Fenatran pode ajudar a melhorar a competitividade da indústria brasileira no exterior?

Thiago Ferreira – Com certeza. A presença de compradores de 70 países fortalece nossa posição. Apesar das dificuldades com a exportação, eventos como a Fenatran podem ser um ponto de força para o setor. A feira é um hub crucial para negócios e networking. Estamos ocupando todo o espaço do São Paulo Expo, fato que destaca a importância para a indústria de transporte e a logística.

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