Marcio Salmi, diretor da Costa Brasil: “Uma de nossas estratégias é orientar o cliente a programar um estoque avançado durante a pré-estiagem, antecipando os carregamentos para a Zona Franca de Manaus e região”

A Costa Brasil, operadora de transporte multimodal especializada em cabotagem fracionada, finalizou a expansão de sua infraestrutura em Manaus (AM) para atender à crescente demanda por cargas. Em entrevista ao portal Transporte Moderno, o diretor Marcio Salmi explicou como a empresa está desenvolvendo novos produtos e soluções logísticas para mitigar os impactos das mudanças climáticas, como a seca, e aumentar a eficiência, destacando a cabotagem na logística de seus clientes.

Valeria Bursztein

Transporte Moderno – A Costa Brasil é especialista em operações logísticas que interligam Manaus (AM) ao restante do país utilizando cabotagem associada a outros modais. A empresa está investindo na ampliação da capacidade de armazenagem?

Marcio Salmi – Criamos estruturas de apoio à logística, com terminais e armazéns nas regiões Norte e Nordeste. Nossa expansão ocorre agora nessas duas regiões, especialmente em Manaus (AM) e no porto local. Em 2023, começamos a investir em uma segunda área, composta por galpão e terminal que, somados, chegam a 50 mil metros quadrados de área de suporte logístico. A empresa investiu nessa infraestrutura em Manaus porque é um polo muito relevante para a logística doméstica, conectando o Norte ao Sul do país. A Zona Franca de Manaus é uma região importante para a produção de uma série de produtos essenciais à economia de consumo. Além disso, por estar isolada, a região necessita de logística de distribuição eficiente para garantir o abastecimento. Uma das características daquela região é a escassez de áreas para armazenagem de estoques. As indústrias instaladas ali produzem e precisam exportar ou distribuir rapidamente, em um modelo just-in-time. Muitas vezes, essas empresas dependem de encaixes na cadeia logística para o embarque. A armazenagem, tanto de insumos quanto de produtos finais, exige um planejamento complexo. Nossa estrutura é uma solução para a região, tanto para importação quanto para exportação.

Transporte Moderno – Como a multimodalidade entra na operação da Costa Brasil?

Marcio Salmi – Nossa operação utiliza a versatilidade dos modais, com caminhão e trem, em uma modalidade ferro-rodo-fluvial. Fizemos uma operação que coletou carga no interior de São Paulo e, de caminhão, levamos até um terminal ferroviário, que transportou o carregamento até a região de Rondonópolis. De lá, seguimos com mais um trecho de caminhão e balsa até Manaus, tudo isso em 15 dias. A Costa Brasil tem essa vocação para inovar.

Transporte Moderno – O destino das operações ponta a ponta hoje é, principalmente, Manaus?

Marcio Salmi – Um volume importante tem origem e destino em Manaus, mas também operamos consistentemente nas regiões Sudeste e Nordeste. Na verdade, atuamos em todo o Brasil, tanto na origem quanto no destino, no caso da cabotagem, conforme as ramificações logísticas oferecidas pelos armadores. Complementamos com opções logísticas terrestres. Quando a solução não vem dos armadores, optamos pelas balsas, que são uma alternativa muito interessante, dependendo da rota da operação.

Transporte Moderno – Como é a composição das cargas e volumes operados?

Marcio Salmi – Operamos com cargas conteinerizadas e temos uma atuação diversificada no setor industrial, com algumas especializações. Por exemplo, no atendimento ao setor siderúrgico, desenvolvemos expertise nas características da utilização do contêiner na operação, como a particularidade de estufar um contêiner com bobinas, chapas, perfis etc., tanto na origem quanto no destino. Também atuamos no varejo e no setor alimentício, o que nos proporciona uma variedade importante de segmentos atendidos.

Transporte Moderno – A empresa opera nos modelos FCL (Full Container Load) e LCL (Less Than a Container Load)?

Marcio Salmi – Nos especializamos em FCL (Full Container Load), mas a Costa Brasil também atende embarcadores que operam com volumes menores. Oferecemos o compartilhamento de frete, o que reduz o custo logístico. Essas cargas geralmente saem de São Paulo com destino a Manaus.

Transporte Moderno – Em termos de volumes, qual é a hierarquia desses serviços? Qual é o carro-chefe da empresa?

Marcio Salmi – Certamente o Full Container. Temos um cliente no segmento de siderurgia que envia 50 contêineres por semana. No fracionado, às vezes temos 25 clientes em um único contêiner, mas mantemos um equilíbrio saudável. Hoje, somos o maior operador logístico de cabotagem, com aproximadamente 20 a 25% da participação nacional, dependendo da sazonalidade. Quando consideramos o mercado global, a Costa Brasil detém 2%. Entre os grandes embarcadores, estamos entre os 10 maiores. Movimentamos mais de 20 mil TEUs em 2023 e vamos superar a marca de 30 mil TEUs neste ano. Temos crescido de forma consistente, inovando processos e soluções que geram ganhos de eficiência operacional para nossos clientes.

Transporte Moderno – Pode citar exemplos dessas inovações?

Marcio Salmi – Uma de nossas estratégias é orientar o cliente a programar um estoque avançado durante a pré-estiagem, antecipando os carregamentos para a Zona Franca de Manaus e região. Por meio do transporte multimodal e da armazenagem, conseguimos reduzir custos e riscos, além de garantir a pontualidade nas entregas. Temos saídas semanais de São Paulo para Manaus, via Porto Velho, e estamos utilizando contêineres para assegurar a segurança no transporte. Nos períodos de estiagem, os armadores aplicam taxas adicionais, mas com nossa solução o embarcador evita esse custo extra e ainda se beneficia de um pacote de vantagens abaixo do valor de mercado. Isso nos permitiu quase dobrar o volume mensal entre os meses de julho e agosto.

Transporte Moderno – Entre as soluções em equipamentos e serviços que a empresa desenvolveu, está o Smart Loader. Pode nos dar mais detalhes?

Marcio Salmi – Desenvolvemos o Smart Loader, um equipamento automatizado para estufagem de contêineres no setor siderúrgico, que reduziu o tempo de estufagem de quatro horas para seis minutos, aumentando a produtividade em 80%. Além de reduzir custos operacionais e otimizar o espaço, o Smart Loader contribui para a agenda ESG, pois opera com energia elétrica e diminui as emissões de CO2. É uma esteira que entra no contêiner e é capaz de movimentar até 28 toneladas, proporcionando um ganho significativo de eficiência operacional. Foi uma solução desenvolvida para um cliente do setor siderúrgico.

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