Domingo, dia 15 de setembro, véspera do Press Day do mais tradicional evento de transportes do mundo, existia uma apreensão sobre como seriam os próximos dias. De um lado a percepção que a maioria das grandes produtoras europeias de veículos comerciais haviam reduzido substancialmente a metragem de seus estandes e do outro a informação do recorde histórico de expositores – 1640 – de 41 países.
Mas como manda a tradição alemã vamos ser profissionais e frios. E tomar uma boa cerveja regional. O Dia da Imprensa transcorreu como sempre, com muitas entrevistas dos principais executivos das maiores empresas de produção de veículos, implementos rodoviários, pneus, motores, tanques de combustível, — inclusive para hidrogênio—baterias de todos os tamanhos, formatos, potencias e autonomias – além de toda parafernália para estes novos tempos de sistemas eletrônicos para viabilizar novos sistemas de propulsão, maior segurança, conectividade, etc.
Nos estandes a preocupação era mostrar, explicar, demonstrar para os jornalistas a evolução das novas tecnologias de fuel cell, hidrogênio, elétricos, HVO, metano, biometano, etc. Afinal, boa parte dos produtos eram evoluções daqueles mostrados no evento de 2022. Tecnologia é assim mesmo, tem um tempo de maturação. E a cada biênio o produto fica mais perfeito.
A grande sensação, até então, pela falta de caminhões efetivamente novos, eram as dezenas de estandes de produtores de baterias. E os caminhões chineses no mesmo pavilhão das tradicionais fabricantes europeias. Eles ficavam sempre meio escondidos, nunca tinham destaque nos principais pavilhões. O jogo agora mudou…
O primeiro dia com frequência de público, terça-feira, dia 17, teve um publico bastante razoável, com apenas alguns pavilhões com muita gente.
Mas a quarta-feira, dia 18, tornou-se um dia histórico. Todos os pavilhões – e são muito e muito grandes—estavam absolutamente lotados. Restaurantes, truck-foods, lanchonetes, estandes, tudo lotado. E lógico, gente demais fez a conexão com a internet ser praticamente impossível. Mas não era apenas um público de curiosos. Tinha uma enorme contingente de profissionais, realmente do setor, a visitar estandes, sentar nas mesas e iniciar sondagens comerciais. E negócios entre os expositores também tinham andamento, com alguns pensando em sinergias, outros em parceiras e até mesmo compras.
Esta foi uma das surpresas. Afinal, a Europa está com uma guerra em seu quintal, com a invasão da Ucrânia pela Rússia, ao mesmo tempo as coisas entre Israel e seus vizinhos andam muito conflituosas e explosivas. Estas questões afetam os negócios e a economia europeia não vive os seus melhores momentos.
A outra grata surpresa foi o volume de pessoas, de todas as nacionalidades, tipos, raças, credos e cores. O mundo se encontrou desta vez em Hannover. Na definição de Aline Feltrin, editora da Transporte Moderno, “agora, transporte ficou pop.”
A enorme roda gigante tinha filas para comprar ingresso, os banheiros completamente lotados, a gigantesca área externa tornou-se atração pela variedade de produtos e de marcas. Um verdadeiro happening.
Os alemães são tradicionais em feiras e exposições. Pela posição central e bem servida de transportes, sempre produziram excelentes eventos, desde feira de livros até automóveis, de trens a filmes, de autopeças a indústria eletroeletrônica.
Desta vez, na segunda edição com o nome Transportation, mostrou o acerto da VDA – a Anfavea alemã – de abrir mais o leque de expositores – agregando as empresas de tecnologias e serviços.
Curiosamente, seja pela contenção de custos devido aos enormes investimentos em novas tecnologias – tanto de emissões quanto segurança e conectividade – as grandes produtoras de veículos reduziram muito os estandes. E os ônibus simplesmente desapareceram.
Fred Carvalho é jornalista profissional há mais de 50 anos e é palestrantre em vários eventos do setor automotivo, qlém de ser um estudioso de economia e negócios da indústria e apaixonado em transformar informações em conhecimento. Lecionou sobre a história da indústria automobilística e, atualmente, é diretor editorial na OTM Editora. O jornalista viajou para Hannover, Alemanha, para realizar a cobertura da IAA Transportation 2024.