Luís Fernando Resano, diretor executivo da Associação Brasileira dos Armadores de Cabotagem (ABAC): “Falta vontade política para realmente apoiar e promover o transporte marítimo, especialmente a cabotagem”

Na visão do executivo da ABAC, embora a cabotagem ainda represente uma pequena fatia na matriz de transporte de carga no Brasil, apresenta um grande potencial de crescimento. No entanto, para que isso aconteça é necessário continuar a batalha para torná-la uma alternativa mais viável

Redação

Transporte Moderno -Como você enxerga a vontade política em relação à cabotagem no Brasil?

Luís Resano – A cabotagem no Brasil ainda sofre com a falta de vontade política. A navegação interior, especialmente após o surgimento da demanda para transportar cargas pelo Norte do país, tem enfrentado desafios. O transporte de grãos, por exemplo, está crescendo, e, agora, há mais produtos do agronegócio saindo pelo Norte do que por Santos e Paranaguá. Isso exigiu investimentos significativos por parte das empresas.

Transporte Moderno –  Você mencionou a importância do agronegócio. Como a cabotagem se insere nesse contexto?

Luís Resano – O agronegócio é uma área vital, mas é frustrante ver que o transporte está nas mãos de empresas estrangeiras. Isso resulta em uma remessa significativa de dólares para fora do país, para pagar os fretes. Deveríamos ter uma presença mais forte e autônoma no transporte das nossas riquezas, como soja e milho. A navegação interior é outra oportunidade que não está sendo aproveitada, e precisamos separar as discussões para abordá-la adequadamente.

Transporte Moderno – Você mencionou que o Brasil ainda é dependente de navios estrangeiros. Poderia nos falar um pouco mais sobre isso?

Luís Resano – Exatamente. Embora consigamos transportar mercadorias internamente até Santarém, Itacoatiara, ou o Rio Grande, quando as cargas chegam a esses pontos, muitas vezes são transferidas para navios estrangeiros. Não estou dizendo que o Brasil deva operar apenas com navios brasileiros, mas acredito que deveríamos ter uma participação mais significativa no transporte internacional com nossa bandeira. No entanto, enfrentamos dificuldades para sermos competitivos devido aos regimes tributários e trabalhistas em países como as Ilhas Marshall e Panamá, que oferecem condições muito mais vantajosas.

Transporte Moderno – No Congresso, quem está defendendo a bandeira da cabotagem? Existe alguém articulando por vocês?

Luís Resano – Infelizmente ninguém está realmente assumindo essa bandeira, embora o Ministério dos Portos e Aeroportos (Mpor) devesse ser o articulador natural, a Política Marítima Nacional – que deveria guiar o setor – está em revisão há mais de 10 anos. Falta vontade política para realmente apoiar e promover o transporte marítimo, especialmente a cabotagem.

Transporte Moderno –  O setor de cabotagem é inteiramente sustentado por investimentos privados, correto? Como você vê o papel do governo nessa questão?

Luís Resano – Sim, todo o investimento é privado e sob risco das empresas de navegação. Acredito que o governo está perdendo uma excelente oportunidade. Ele tem todos os recursos para criar condições que tragam mais investimentos, mais cargas e mais pessoas para o setor. Porém, não está criando as condições necessárias para que possamos continuar operando e expandindo.

Transporte Moderno –  Sem ajuda do governo, o que as empresas de cabotagem podem fazer para aumentar a participação no mercado?

Luís Resano – Diversificar a carga é uma estratégia. Muitas companhias já estão oferecendo serviços de consolidação de carga, o que permite a pequenas e médias empresas embarcarem suas mercadorias mesmo sem lotar um contêiner inteiro. Isso tem trazido novos clientes que antes não usavam a cabotagem por não existir volume suficiente.

Transporte Moderno – A diversificação de carga é uma ferramenta importante?

Luís Resano – Com certeza. Oferecer a consolidação de carga tem possibilitado a expansão do mercado de cabotagem. Isso permite que empresas que produzem volumes menores possam compartilhar um contêiner, tornando o transporte viável e econômico

Transporte Moderno  –  Como o setor de cabotagem pode agir para atrair mais operadores e inseri-los nessa cultura?

Luís Resano – Tem que convencer os operadores de que vale a pena. As empresas de cabotagem, nos últimos anos, focaram em reduzir a burocracia, que era um dos maiores obstáculos. Antes, os operadores diziam: “colocar carga na cabotagem envolve muita burocracia”. Nossa resposta foi simplificar o processo, oferecendo um serviço de transporte multimodal integrado e eficiente.

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