Evento Brasil nos Trilhos debate a expansão do modal ferroviário no Brasil

Encontro realizado na última terça-feira (27), em Brasília, coincidiu com a comemoração dos 170 anos do sistema ferroviário brasileiro

A ferrovia como modal de transporte de carga menos poluente e mais eficiente em termos energéticos, a necessidade de sua maior participação na matriz de transporte e a urgência do setor por um ambiente de negócios mais previsível, com modelagens de contratos, linhas de financiamento e incentivos mais atraentes para investidores, foram as principais temáticas do evento VIII Brasil nos Trilhos, realizado, na última terça-feira (27), em Brasília

Valeria Bursztein

De Brasília

A ferrovia como modal de transporte de carga menos poluente e mais eficiente em termos energéticos, a necessidade de sua maior participação na matriz de transporte e a urgência do setor por um ambiente de negócios mais previsível, com modelagens de contratos, linhas de financiamento e incentivos mais atraentes para investidores, foram as principais temáticas do evento VIII Brasil nos Trilhos, realizado na última terça-feira (27), em Brasília.

O evento coincidiu com a comemoração dos 170 anos do sistema ferroviário brasileiro e contou com a presença de representantes do governo federal, do Poder Legislativo, do TCU, das principais entidades do setor, além de especialistas e presidentes das concessionárias.

O tema central do evento foi “Sustentabilidade em Movimento”, e abordou estratégias para inserir a ferrovia na agenda de sustentabilidade brasileira e global. Na abertura, o secretário executivo do Ministério dos Transportes, George Santoro, destacou que o momento é propício devido ao destaque atual do modal no governo federal.

Segundo o secretário, no ministério há a Secretaria Nacional de Ferrovias e a subsecretaria de Sustentabilidade, o que permite a interação com os órgãos ambientais. “Criamos paradigmas que possibilitam o avanço no desenvolvimento da ferrovia. Aliás, o setor possui uma agência reguladora considerada a melhor do Brasil e a equipe da Infra S.A., que realiza modelagens de licenciamento que atraem o mercado. O que falta é governança colaborativa entre todos os agentes. O setor precisa pensar de forma coletiva”,

Integração de portos e ferrovias

A secretária executiva adjunta do Ministério dos Portos e Aeroportos, Gabriela Rosa, concordou com Santoro e destacou a importância da integração entre infraestruturas portuárias e ferroviárias. “Mais de 90% dos minérios que chegam aos portos vêm por ferrovia. É necessário diversificar o tipo de carga. O granel sólido vegetal deve ganhar protagonismo, considerando que o país terá um papel estratégico em fornecer alimentos para o mundo.”

Na visão de Gabriela, o crescimento do transporte de granéis vegetais deve ser exponencial, passando dos atuais 40%. “A importância da ferrovia é logística e social. Além disso, a eficiência energética é crucial para o ecossistema. O aumento da movimentação pela malha ferroviária é determinante para isso. E esse processo pode ocorrer por meio da complementaridade, e não necessariamente da concorrência”.

Ainda na abertura do evento, o diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), Rafael Vitale, enfatizou que o diálogo sobre a ferrovia está sendo resgatado pela ANTT e pela Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF). “Não há dúvida sobre a sustentabilidade da ferrovia, assim como a necessidade de uma regulação mais eficaz para viabilizar o crescimento de novos fluxos. Esse arcabouço legal existe, mas precisa ser testado e aperfeiçoado com a colaboração de todos.”

Papel estratégico das ferrovias

O diretor-presidente da ANTF, Davi Barreto, afirmou que a ferrovia desempenha um papel estratégico e que, há 170 anos, viabiliza a conexão do país e o trânsito de pessoas e cargas. “As mudanças climáticas exigem alterações estruturais, e o modal ferroviário é uma das soluções. Um aumento de apenas 1% na participação da ferrovia na matriz de transporte pode reduzir em 2 milhões de toneladas as emissões de CO2. Além disso, o setor promove investimentos significativos. De 2024 a 2026, estão previstos investimentos de R$ 45 bilhões entre as associadas da ANTF, o maior ciclo de investimentos de todos os tempos.”

Barreto destacou que é crucial criar um ambiente favorável aos negócios, com um marco regulatório que transmita segurança aos investidores e que resolva, por exemplo, os passivos históricos do setor. “É necessário ajustar a regulação para garantir eficiência ao setor. As ferrovias representam uma oportunidade única.”

O evento também contou com painéis sobre o transporte ferroviário como solução climática para o Brasil e o mundo, financiamentos verdes para as ferrovias, inovação e novas tecnologias voltadas à sustentabilidade e o papel da regulação nos incentivos à sustentabilidade do transporte.


Confira a cobertura completa sobre o VIII Brasil nos Trilhos na edição n°522 da revista digital Transporte Moderno, que estará no ar em breve.

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