Transporte Moderno – Como a Cummins está enfrentando a fase de transição energética para descarbonizar o setor de transporte?
Antonio Almeida – O caminho da Cummins está sendo percorrido por duas vias: o desenvolvimento de motores de combustão interna, que utilizam variedade de combustíveis desde diesel avançado e diesel renovável até gás natural, biometano, etanol, gasolina e hidrogênio. Ao mesmo tempo, a Accelera by Cummins, empresa lançada em 2023, está liderando o caminho em soluções pioneiras de emissão zero, incluindo células de combustível de hidrogênio, baterias, eixos elétricos, sistemas de tração e eletrolisadores, para alimentar de forma sustentável uma variedade de indústrias, desde o transporte comercial até a produção química.
Transporte Moderno – Qual a avaliação da empresa para esta mudança?
Antonio Almeida – A Cummins acredita que o caminho da descarbonização passa necessariamente pela diversificação. Não existirá uma solução única para um caminho zero emissão e zero carbono. Essa jornada não dependerá apenas de uma matriz energética e, por isso, estamos trabalhando em um conjunto de soluções que se diferenciam em aplicação, oferta de energia e vai estar disponível na região onde essa aplicação faça sentido. A empresa visualiza o potencial dos combustíveis renováveis para contribuir com a descarbonização por meio de uma transição energética que faça sentido do ponto de vista do negócio, ganho de escala, aplicabilidade, capacidade de serviço e infraestrutura, de acordo com a realidade e características de cada região e setor de negócios.
Transporte Moderno – O que a empresa tem feito para acelerar os processos de descarbonização?
Antonio Almeida – A Cummins completa 53 anos no Brasil e investe no cerca de R$ 50 milhões anualmente no país – globalmente os investimentos são superiores a US$ 1,3 bilhão, cerca de R$ 7 bilhões. Além de produção local, possui um centro de pesquisa e desenvolvimento. Entre os investimentos para transição energética, estão o projeto Euro 6, que favorece a redução das emissões poluentes, com menor índice de gases tóxicos lançados no ambiente. Tem ainda os motores a gás (6.7, 9, 15 litros), disponível no Brasil para operar com GNV e biometano.
Transporte Moderno – O que a Cummins considera essencial neste momento de transição energética?
Antonio Almeida – Neste momento de transição energética consideramos três pilares fundamentais para avançarmos em ondas progressivas, aproveitando a viabilidade econômica: infraestrutura, prontidão de tecnologia e regulamentação. A empresa acredita que a transição de tecnologias vai ocorrer de maneira granular, mas requer trabalho na capilaridade de distribuição de combustível, com cobertura para atingir custos por meio de investimentos realizados em toda a cadeia, ou seja, a infraestrutura. Quando falamos prontidão de tecnologias, a Cummins tem investido na HELM (Higher Efficiency Lower Emissions Multiple Fuels – maior eficiência, menos emissões e múltiplos combustíveis), plataforma versátil, pois pode trabalhar com diesel, diferentes misturas de biodiesel, biocombustíveis, HVO, gás natural, gasolina, além do hidrogênio. Para o Brasil, faz sentido uma plataforma de motores a combustão interna que consiga trabalhar com diferentes tipos de combustíveis, como o biometano e o etanol. E seguimos investindo para que essa tecnologia seja adequada ao mercado brasileiro.
Transporte Moderno – Na jornada da descarbonização, a nacionalização de componentes é um dos principais de investimentos para estar de acordo com as exigências da nova política industrial?
Antonio Almeida – Certamente. A nacionalização de componentes sempre esteve presente na estratégia da empresa e agora está no contexto das exigências da nova política industrial no Brasil. Vale reforçar que a Cummins é parte do movimento MBCB – Mobilidade de Baixo Carbono para o Brasil – e está completamente imersa nesta agenda em prol da descarbonização dos transportes com um foco em promover todas as tecnologias disponíveis.
Transporte Moderno – O que a Cummins tem feito para atender às novas exigências?
Antonio Almeida – A Cummins Brasil tem realizado de forma contínua estudos para realização de investimento e localização. Temos estudos no Brasil para a produção de conjuntos de baterias, algo que não temos localmente. Neste ano, afunilamos os estudos, mas ainda não estão concluídos. Outro estudo (viabilidade um pouco mais distante do que as baterias) é em relação a produção de eletrolisadores para a produção de hidrogênio verde. O Brasil tem uma matriz bastante limpa de energia limpa principalmente no Nordeste, além de grandes investimentos em tecnologias solar e eólica, propícias para a produção de hidrogênio verde.
Transporte Moderno – Quais são as metas da Cummins em relação à pesquisa e desenvolvimento neste momento de transformação da indústria automobilística?
Antonio Almeida – A Cummins tem um longo histórico de trabalho para reduzir seu impacto ambiental. Nas últimas duas décadas, a empresa acelerou os seus esforços e estabeleceu metas públicas para impulsionar o seu progresso dentro desta temática, que é o nosso maior desafio. A estratégia de sustentabilidade ambiental Planet 2050 da Cummins inclui metas programadas para 2030 e metas ambiciosas para 2050 para reduzir os gases de efeito de estufa e a qualidade do ar por meio de avanços em seus produtos.
Transporte Moderno – A Cummins aposta no hidrogênio como mais uma solução para a descarbonização?
Antonio Almeida – A Cummins não só aposta como também é parte estratégica da empresa para transição energética das indústrias nas quais atuamos. Desde 2019, após a aquisição da Hydrogenics Corporation, a Cummins e seus centros de pesquisa e desenvolvimento trabalham com diferentes tipos de eletrolisadores de última geração no mundo. São equipamentos que produzem hidrogênio verde usando eletricidade de fontes renováveis como hidrelétricas, eólica e solar. Essa energia alimenta os eletrolisadores da empresa para produção de hidrogênio. Como as fontes primárias são renováveis (daí o nome hidrogênio verde), tem-se um combustível livre de emissões de poluentes e que pode ser usado por veículos, além de ter aplicações industriais e químicas. O engajamento da Cummins rumo à descarbonização inclui também tecnologias de células de hidrogênio para atingir zero emissão. Neste processo, a célula de combustível utiliza o hidrogênio como combustível para criar uma reação com o oxigênio, gerando eletricidade, carregando as baterias do veículo que, por sua vez, alimentam o motor de tração elétrico.
Transporte Moderno – Dê mais detalhes sobre os investimentos em baterias.
Antonio Almeida – A Cummins Brasil tem realizado de forma contínua estudos para realização de investimento e localização no Brasil para a produção de conjunto de baterias, algo que não temos localmente e que é difícil de encontrar. No entanto, sabemos que existe essa demanda por meio de alguns nichos. Neste ano, afunilamos os estudos, mas ainda não estão concluídos. Vale acrescentar que a Cummins atende montadoras globais e que estão presentes em nossa região. Essas parcerias são consideradas estratégicas e com grande potencial de migração para o Brasil, de acordo com as demandas de mercado.
Transporte Moderno – Qual a avaliação da empresa sobre o setor automotivo no Brasil?
Antonio Almeida – Em 2023, o setor automotivo de veículos pesados no Brasil enfrentou alguns desafios que contribuíram para um desempenho econômico abaixo do esperado, principalmente devido as regulamentações Euro 6 no ano anterior. Hoje temos mais aceitação da tecnologia Euro 6 por parte do consumidor e frotista e o TCO (custo total de operação) tem encorajado os compradores a investirem em veículos novos. Além disso, visualizamos um horizonte mais otimista, com potencial de crescimento devido a fatores como aumento dos investimentos em infraestrutura que irá demandar novos veículos e os programas governamentais, como o Mover e o Caminho na Escola.
Transporte Moderno – A Cummins tem investimentos programados para o Brasil?
Antonio Almeida – Os investimentos em nossa unidade fabril são contínuos. Além dos avanços necessários para a fabricação das soluções Euro 6, também nacionalizamos dois motores para o setor off-highway e seguimos progredindo com a implementação de métodos 4.0. Um exemplo bem recente, concluído no primeiro semestre de 2024, foi o Centralized, concebido como um projeto de transformação para a nossa fábrica de motores em Guarulhos (SP). Com sistemas de I/O wireless, rastreabilidade por RFID, sistema MES, robotização e interface com os novos AMR, a célula produz toda a gama de pistões fabricados (cerca de 40 modelos diferentes) e abastece todas as plataformas de motores produzidos no Brasil. Este avanço trouxe melhorias em segurança, qualidade do produto e rastreabilidade, tornando esta etapa de montagem mais segura, sustentável e mais eficiente. A tecnologia implementada, habilita uma estratégia da Cummins de aumento da sua taxa de produção diária de motores em um processo ainda mais eficaz. Além disso, os ganhos deste projeto também possuem relação com o meio ambiente, pois houve uma redução no descarte de peças defeituosas a praticamente zero. Estes projetos transformadores, tem ajudado a Cummins do Brasil a atingir objetivos de qualidade nos produtos e se tornar referência entre outras unidades ao redor do mundo.
Transporte Moderno – Quanto a empresa produz para o mercado brasileiro e quanto é destinado para exportação?
Antonio Almeida – A Cummins tem conseguido avançar nas exportaçõe um pouco menos do que gostaríamos, mas hoje o índice está em cerca de 15% do nosso volume de produção de motores, sendo que 60% são componentes – usinagem de bloco, cabeçote etc. O destino dos produtos são o Canadá, Estados Unidos e México. Há uma parte de componentes que vai para Europa.