A falta de motoristas de caminhão no Brasil não é novidade, mas ganha destaque nesta quinta-feira (25 de julho), data em que se comemora o dia desses profissionais. Um estudo recente da Confederação Nacional do Transporte (CNT) mostrou que a carência de motoristas é apontada como um dos principais desafios do setor por 65% das empresas entrevistadas. Além disso, dados do Registro Nacional de Condutores Habilitados, fornecidos pelo SENATRAN, revelam uma diminuição de aproximadamente 1,1 milhão de motoristas entre 2013 e 2023, representando uma queda de 20% em uma década.
Essa realidade faz com que ocorra o envelhecimento da mão de obra que, atualmente, tem 53,5 anos, um aumento de 9% desde 2013. O diretor operacional da Zorzin Logística, Marcel Zorzin, confirma que está muito difícil contratar e que não consegue vislumbrar uma renovação. Segundo o executivo, muitas vezes a empresa perde serviços por falta de profissionais. “Temos todos os equipamentos necessários, mas não conseguimos encontrar motoristas disponíveis.”
A operadora logística Mahnic também enfrenta a escassez de motoristas. Segundo a diretora de operações, Ludymila Mahnic, hoje o déficit é de 25 profissionais. Com a grande concorrência entre as transportadoras para contratar profissionais, a executiva conta que a principal dificuldade é o comprometimento do candidato, que acaba desistindo do processo quando outra empresa oferece uma oferta financeira mais vantajosa. Outro desafio apontado por Ludymila é com relação às rotas longas. “A maioria quer ficar em curtas para não se distanciar da família, e hoje nós atendemos o Brasil inteiro, ou seja, percursos com mais de 800 quilômetros.”
Conforme, Ludymila, o tempo que empresa leva para contratar um motorista é de 15 a 30 dias. Há cinco anos o cenário era diferente. “Chegamos a ter 10 motoristas reservas e nenhum veiculo sem motorista”, revela. Para atrair mais motoristas, a companhia investe em benefícios diferenciados que incluem desde plano de saúde, de vida e psicológico. Também há a busca por veículos mais novos dotados com as mais novas tecnologias. Além disso, a operadora logística vem aprimorando a estrutura em suas filiais para refeições e pernoites.
O cenário na Ghelere Transportes é semelhante. Em média, a empresa leva 17 dias para preencher uma vaga de motorista. Segundo a diretora de Gente e Gestão da empresa, Tatiane Rabuske, o déficit atual é de 37 motoristas. A maior dificuldade, segundo ela, é encontrar profissionais qualificados que se adaptem ao padrão de condução da companhia.
“Motoristas experientes, assim como profissionais de outras áreas, muitas vezes já possuem hábitos estabelecidos. Aqui, é essencial que eles sigam as regras de segurança da empresa e os padrões de condução que desenvolvemos”, explica Tatiane. Ela também destaca que os veículos possuem tecnologias embarcadas, o que pode representar um obstáculo para motoristas que não estão familiarizados com essas inovações.
Mulheres representam apenas 7% dos motoristas
Para driblar a escassez de motoristas, algumas empresas estão investindo em qualificação para quem não tem experiência ao volante, mas que gostaria de abraçar a profissão. Inclusive, muitas dessas ações estão sendo feitas para atrair as mulheres. A JSL, por exemplo, mantém cursos de capacitação para o público feminino. Dados do Ministério das Cidades indicam que o número de mulheres aptas a dirigir veículos pesados está em torno de 150 mil. Apesar disso, ainda representa menos de 7% das 2,3 milhões de pessoas habilitadas a dirigir caminhões e carretas no Brasil.
Em 2021, a JSL lançou o programa Mulheres na Direção com o objetivo de capacitar mulheres para atuarem como motoristas de carreta, operadoras de máquinas de grande porte e empilhadeiras – áreas tradicionalmente dominadas por homens. Desde então, o programa já resultou em mais de 100 contratações femininas na empresa.
Um exemplo é Rachel Mourato, de 35 anos. Natural do Nordeste do Brasil, Rachel sempre sonhou em seguir os passos de sua família de caminhoneiros, mas precisou deixar sua terra natal para realizar esse sonho. Ela conta que, onde morava, as transportadoras ainda resistem em contratar mulheres. “Mesmo com a falta de motoristas homens, os empresários de lá optam por não preencher as vagas com mão de obra feminina”, diz.
Além da falta de oportunidade para profissionais do sexo feminino, ela diz que as mulheres enfrentam receios durante as viagens e hesitam em parar em postos devido à falta de segurança. Além disso, banheiros sem estrutura adequada, e empresas que, mesmo contratando mulheres, não se preocupam em oferecer um ambiente apropriado e seguro. “O que buscamos são condições de trabalho melhores”, finaliza Rachel.