Aline Feltrin
Nos últimos meses, o setor de importação marítima no Brasil tem enfrentado um aumento exponencial dos custos de frete, especialmente nas rotas que vêm da Ásia. No início deste ano, o frete médio girava em torno de US$ 1.800 a US$ 2.000, mas ao final de junho, esse valor saltou para aproximadamente US$ 9.000. O aumento expressivo tem causado uma série de dificuldades para os importadores brasileiros, que precisam lidar com os desafios de planejamento logístico. Uma das empresas que tem sentido esse efeito é a Allog, que atua no setor de logística e transporte internacional, com soluções para importação e exportação. A empresa é especializada em frete marítimo, aéreo e rodoviário, além de fornecer serviços de desembaraço aduaneiro e gerenciamento de carga.
Em entrevista ao portal Transporte Moderno, a gerente de produto de importação marítima, do Grupo Allog, Caroline Ferlin (abaixo), disse que um dos fatores que influenciaram esse aumento foi a mudança nas rotas de navegação, especialmente devido aos ataques a navios de carga no Mar Vermelho no final do ano passado. “Com isso, as rotas que passavam pelo Canal de Suez agora precisam fazer um desvio, passando pelo Cabo da Boa Esperança na África, o que aumenta o tempo de trânsito em pelo menos 20 dias”, explica. De acordo com a executiva, esse atraso no trânsito também impacta a disponibilidade de contêineres, especialmente nos portos chineses.
Importação de veículos
Caroline também atribui o problema ao feriado chinês no início do ano, que fechou as fábricas no país asiático e causou um aumento subsequente na demanda. Além disso, a corrida para a importação de carros elétricos no primeiro semestre, impulsionada pelo anúncio do governo brasileiro sobre o aumento da alíquota de imposto de importação desses veículos, contribuiu para a escassez de contêineres e o aumento dos custos de frete.
As tensões geopolíticas globais e questões climáticas, como a seca no Canal do Panamá e no Rio Amazonas, também causaram impactos. “Problemas, como a seca em Manaus, afetam diretamente as importações, contribuindo para os atrasos e aumentos nos custos logísticos”, analisa a gerente da Allog.
Além disso, há gargalos de infraestrutura nos portos brasileiros. Terminais importantes, como o de Santos, enfrentam restrições operacionais. E obras em portos, como o de Navegantes, ainda levarão tempo para serem concluídas. Isso resulta em atrasos na liberação de mercadorias e aumento nos custos para os importadores.
Soluções que reduzem o impacto
No entanto, algumas soluções estão sendo implementadas para mitigar esses problemas. Conforme Caroline, armadores estão introduzindo novos serviços e navios maiores para aumentar a capacidade de transporte para o Brasil. “A partir de julho, a MSC lançará uma serviço que trará navios com capacidade nominal de cerca de 8 mil TEUs por semana da Ásia para o Brasil, o que pode ajudar a estabilizar os preços dos fretes.”
Segundo a executiva, buscar rotas alternativas e transbordos em portos menos movimentados também tem sido uma estratégia para contornar a falta de espaço nos navios. Além disso, ela destaca a importância de manter uma comunicação estreita com os clientes e fornecer informações precisas e rápidas para que possam planejar suas operações logísticas de maneira mais eficiente.
Apesar das providências, a perspectiva é de que os preços dos fretes continuem altos no curto prazo devido às demandas da Black Friday e do Natal. “No entanto, a introdução de novas capacidades de transporte e serviços pode levar a uma estabilização dos preços no médio prazo”, conclui.
O especialista em inteligência marítima da consultoria Solve, Leandro Carelli Barreto, diz que, apesar das perspectivas para a continuidade do aumento do frete no segundo semestre, a rota China-Brasil deverá perceber um comportamento diferente, Isso porque armadores como Cosco e CMA CGM estão começando a trazer navios maiores. Aliado a isso, o novo servilo da MSC também ajudará a segurar o valor do frete. “Esse conjunto de soluções resultará em um incremento de capacidade de 30% para o próximo semestre, o que ajudaria a tirar um pouco da pressão”, diz,
Ainda assim, de acordo com o especialista, não adianta ter mais capacidade nas embarcações se os portos lá fora continuarem congestionados e se os portos aqui no Brasil seguirem com restrições. “É preciso resolver a questão do berço 1 da BTP (uma das docas de atracação no porto de Santos) e garantir que as atividades no Porto de Itajaí retornem o quanto antes.”
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