Sonia Moraes
Transporte Moderno – A Frasle Mobility já está habilitada no Mover?
Anderson Pontalti – Sim, a Frasle Mobility já está entre as empresas habilitadas, juntamente com outras unidades da Randoncorp. Estamos seguindo os procedimentos necessários de inscrição para apresentar nossos projetos no momento oportuno e requisitar os créditos proporcionais aos investimentos que estamos projetando.
Transporte Moderno – Como a Frasle Mobility avalia a nova política industrial? Qual o impacto positivo que o Mover trará para a indústria de autopeças?
Anderson Pontalti – Todo o programa ou incentivo estatal que potencialize a atuação da iniciativa privada em pesquisa, desenvolvimento e produção tecnológica é fundamental para a evolução da indústria vinculada à mobilidade. Acredito que o caminho adotado pelo Mover indica para essa jornada, focada na descarbonização, o que é bastante positivo. O programa ainda está cumprindo etapas importantes de regulamentação e aprovações legislativas, que condicionam ainda uma avaliação completa de todo o impacto potencial que ele pode ter na indústria brasileira.
Transporte Moderno – Como a Frasle Mobility está se preparando para enfrentar a transição energética no setor automotivo com o avanço da eletrificação no país?
Anderson Pontalti – Para a Frasle Mobility, a jornada de transição é um percurso longo e sem volta, que exige de todos os players uma participação ativa, com atitude transformadora e focada no desenvolvimento sustentável do planeta. Para nós, o tema está entre os pilares fundamentais do nosso negócio, uma prioridade em linha com o objetivo de desenvolver soluções seguras e sustentáveis para a mobilidade. A energia que temos e utilizamos em algumas das nossas operações já está no nível de menor emissão de carbono, mas continuamos buscando sempre aquela que é carbono neutra. Trabalhamos com o cálculo da pegada de carbono dos nossos produtos – iniciamos com um componente de frenagem para setor ferroviário, que nos trouxe o aprendizado necessário para ampliar futuramente para novas linhas de produtos. Essa nossa jornada já começou e está em pleno andamento.
Transporte Moderno – A empresa já fez mudanças na linha de montagem para incluir novos produtos no portfólio que atendam os novos veículos?
Anderson Pontalti – Temos três frentes principais de atuação na transição energética: buscar energias limpas para nossas operações, ter uma economia circular cada vez mais otimizada dos nossos componentes e desenvolver produtos verdes. Já temos duas usinas fotovoltaicas em operação nas nossas operações, uma na planta fabril da China e outra no Centro Tecnológico Randon – empresa que operamos em conjunto com a Randoncorp e que apoia todo processo de desenvolvimento de novas tecnologias. Estamos realizando também um diagnóstico completo de todo o consumo de energia para entender contratos futuros que possam ser providos de fontes limpas. E estamos trabalhando muito a questão de economia circular. Temos projetos de coleta de materiais para que possamos reutilizar em nossos processos – principalmente itens fundidos e de fricção – e várias iniciativas dentro das empresas de reutilização de resíduos. Os resíduos gerados em uma planta fabril são utilizados em outra. Dessa forma, aproveitamos 100% dos materiais adquiridos, eliminando descartes e reintegrando-os ao processo produtivo
Transporte Moderno – Como são os produtos verdes?
Anderson Pontalti – Os produtos verdes são mais leves, permitem que nossos veículos transportem mais carga com o mesmo consumo de combustível. A redução de tara é algo que buscamos muito fortemente. Para isso, investimos em tecnologias muito avançadas, utilizando materiais compósitos e nanoestruturados, por meio das nossas ações com a marca Composs e da nossa empresa de nanotecnologia NIONE.
Transporte Moderno – Quais foram os investimentos feitos para enfrentar essa transformação?
Anderson Pontalti – A Frasle Mobility, juntamente com a Randoncorp, tem programado investimentos de R$ 100 milhões até 2030 destinados apenas a energias renováveis. Recentemente, a Randoncorp captou R$ 500 milhões junto a International Finance Corporation, maior instituição global de desenvolvimento voltada para o setor privado nos mercados emergentes e que faz parte do Grupo Banco Mundial, para utilização desses recursos também em iniciativas sustentáveis. Metade desse valor será aplicado em projetos da Frasle Mobility. Entre as principais ações que serão beneficiadas com os recursos está o chamado “Caldeira Verde”, que consiste na construção de uma nova caldeira alimentada por biomassa, na unidade fabril da nossa empresa em Caxias do Sul (RS). Esse equipamento vai diminuir os níveis de consumo de combustíveis fósseis como gás natural, utilizado atualmente. O projeto tem potencial para redução em 60% das emissões de gases de efeito estufa da Frasle Mobility – o que equivale a uma redução de 20% das emissões consolidadas da Randoncorp.
Transporte Moderno – Há investimentos programados para este ano?
Anderson Pontalti – Para 2024, a empresa tem programado investimentos orgânicos entre R$ 130 milhões e R$ 170 milhões com o objetivo de aumentar a capacidade produtiva e os ganhos de produtividade e um dos principais projetos será a expansão de 25% da capacidade da fábrica de Joinville (SC), que produz discos de freios. Também está no planejamento expandir a fábrica localizada no Alabama, Estados Unidos. São alguns exemplos que compõe uma ampla jornada de investimentos anuais que fazemos para manter nossas operações alinhadas com o desenvolvimento sustentável, dotadas do que há de mais atual em inovação e automação industrial.
Transporte Moderno – Como a transformação da indústria automobilística rumo à descarbonização afetará a indústria de autopeças? Os veículos elétricos terão a metade das peças que são usadas hoje…
Anderson Pontalti – Sem dúvida nenhuma, é um caminho sem volta e está provocando todos os players a revisitarem seus processos para se adequarem a essa nova realidade. A descarbonização implica mudanças na economia e requer atuação conjunta do governo, indústria e sociedade. Eu não consigo afirmar se é uma prioridade para todas as indústrias, mas o que se observa de dois anos para cá é que essa pauta se intensificou em todas as empresas nacionais. Na nossa companhia, é uma prioridade. Parte da nossa jornada de evolução para a nossa identidade atual como Frasle Mobility também atende esse propósito: como uma empresa global, que está atenta às transformações e busca se antecipar no desenvolvimento de novas soluções. O nosso investimento na Composs e na criação de novos produtos em materiais compósitos é bastante simbólico nesse contexto. Nele, usamos o nosso conhecimento tecnológico na fabricação de produtos de fricção e adotamos em novo tipo de componente para novas aplicações sustentáveis, apostando numa transformação que viria em décadas, mas que está cada vez mais ágil e abrindo oportunidades ímpares de negócios já no presente.
Transporte Moderno – Quais os tipos de produtos a Frasle Mobility incorporou no seu portfólio para atender veículos híbridos e elétricos?
Anderson Pontalti – A Frasle Mobility tem no seu DNA a inovação como atitude fundamental e permanente, sendo vanguardista em muitos momentos da sua história, no desenvolvimento de novos produtos e na atualização das soluções às demandas do mercado e da sociedade. Nesse sentido, posso citar alguns lançamentos recentes de produtos para a eletromobilidade e sustentabilidade, como a linha de pastilhas de freios para veículos elétricos e híbridos Fras-le EHnergy, além de discos de freio Fremax.