Sonia Moraes
A Eaton, uma das fabricantes de autopeças que está habilitada no programa nacional de Mobilidade Verde e Inovação (Mover) do Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), considera a nova política industrial uma continuidade ao Inovar Auto e ao Rota 2030. “Um programa que estimula a produção de novas tecnologias, ao passo que faz exigências quanto às emissões de carbono, promove importantes investimentos em eficiência energética, colocando o setor automotivo brasileiro em linha com as tendências globais”, afirma Rafael Werneck, diretor de engenharia de produto da Eaton para a América do Sul, em entrevista para o portal Transporte Moderno. “Acreditamos que projetos de longo prazo são essenciais para a indústria automotiva, que vem enfrentando profunda transformação, tanto pelas propulsões alternativas (veículos híbridos, elétricos e biocombustível), quanto pelos sistemas de assistência ao motorista, que visam conforto e segurança.”
Em relação ao Rota 2030, o Mover traz novos incentivos que são pertinentes tanto na área de pesquisa e desenvolvimento quanto em manufatura, segundo o diretor da Eaton. “A convergência do programa ao que tem sido desenvolvido globalmente no setor automotivo tem o potencial de gerar competitividade da nossa indústria em um cenário em que a sustentabilidade se torna cada vez mais importante.”
O diretor acredita que o Mover pode aumentar o protagonismo da engenharia brasileira em desenvolver produtos com foco em combustíveis alternativos, assim como trazer um aumento da eficiência energética e da segurança. “Do ponto de vista produtivo, há grande potencial de desenvolvimento da manufatura brasileira visando fabricar produtos competitivos, que possam não apenas competir com soluções importadas, mas, principalmente, tornar o produto brasileiro competitivo para exportação.”
Nacionalização de componentes
Sobre as exigências da nova política industrial, o diretor da Eaton afirma que a matriz energética brasileira é muito positiva quanto à regulação das emissões de carbono. “A nacionalização de componentes favorece o uso dessa matriz verde, ajudando a descarbonização quando analisamos de uma perspectiva do início ao fim.” Ele cita as quatro fábricas da Eaton com padrão de qualidade global, que produzem há décadas soluções para o mercado local e global. “Localizar componentes e subsistemas é um
foco da Eaton, e o Mover ajuda nesse sentido”, diz Werneck.
Com relação aos programas de investimentos, Werneck afirma que a engenharia da Eaton tem expandido seu escopo e capacidade ao longo da última década, tendo hoje competência de desenvolver novas plataformas tanto para veículos convencionais quanto para veículos elétricos e híbridos. “Temos projetos importantes relacionados a transmissões automatizadas, que acreditamos ser a melhor solução para o segmento de veículos comerciais, e estamos desenvolvendo novidades a serem lançadas em breve no mercado”, afirma o diretor. “Além das transmissões automatizadas, a Eaton tem projetos em andamento para veículos híbridos e elétricos, com potencial não apenas para o mercado local como para aplicações em outros países, como os conectores e terminais. Esses são itens de nosso portfólio que possuem ampla aplicação em veículo eletrificados e os estudos de localização já estão em andamento”, informa Werneck e acrescenta: “Em relação à manufatura, nossas fábricas possuem inúmeras possibilidades de desenvolvimento de novos produtos, inclusive para exportação, assim como iniciativas relevantes de Indústria 4.0, fazendo com que nossos produtos se tornem mais competitivos.”
Pesquisa e desenvolvimento
Na área de pesquisa e desenvolvimento a Eaton tem o compromisso de desenvolver soluções que sejam referência em seus segmentos. “Vemos que a utilização de transmissões automatizadas em veículos comerciais veio para ficar e estamos trabalhando em produtos diferenciados que serão lançados em breve. Além disso, desenvolver as competências do nosso corpo de engenharia, com especialistas em projetos mecânicos, software, eletrônica e integração de sistemas embarcados, tem nos possibilitado expandir nosso portfólio de produtos, desenvolvendo soluções específicas às demandas do mercado brasileiro”, comenta o diretor e revela que na última década, a equipe de pesquisa e desenvolvimento da Eaton cresceu em mais de 50%, se tornando uma referência global.
Neste momento de transição energética para chegar ao novo veículo, seja elétrico, híbrido, movido a gás natural ou biomentano, o ponto crucial, segundo o diretor de engenharia da Eaton, é entender a necessidade do consumidor. “No século passado, com o Proálcool, o Brasil tinha grande potencial de descarbonização. Mas, por inúmeros fatores, a utilização de etanol ainda é baixa, mesmo quando seu preço é mais economicamente viável que o da gasolina. A menor autonomia do etanol comparado a gasolina é um dos motivos principais, senão o principal, para sua baixa adoção”, avalia Werneck.
Na opinião do diretor, são inúmeras as possibilidades de reduzir as emissões de carbono. “Entretanto, as soluções vencedoras serão aquelas que agregarem de fato valor ao consumidor, considerando infraestrutura, serviços, qualidade e robustez. E serão vencedoras principalmente aquelas soluções que sejam desenvolvidas pensando nas características do Brasil. Temos dimensões continentais, com inúmeras
peculiaridades referentes a clima, topografia, trânsito, baixa qualidade nas rodovias, entre outros. Soluções que sejam fabricadas e desenvolvidas no Brasil terão grande diferencial para atender as necessidades do consumidor brasileiro, como são os produtos que a Eaton desenvolve e produz.”
Na avaliação de Werneck, o maior desafio a ser enfrentado pela Eaton e toda a indústria de autopeças atualmente é a alta competitividade do setor, aliada às rápidas mudanças ocorridas ao longo da última década, como sistemas de propulsão e sistemas de assistência ao motorista, e torna essencial o foco em inovação, antecipando as tendências e mantendo um portfólio de última geração. “Além disso, o aumento da produtividade e da qualidade é fundamental para que continuemos competitivos tanto globalmente quanto localmente.”
O diretor acrescenta que ter uma estrutura completa de engenharia na região permite a Eaton desenvolver produtos adequados ao mercado local e responder rapidamente às demandas de nossos clientes. “O foco em excelência operacional e qualidade nos permite aprimorar continuamente nossos processos, mantendo um padrão de excelência na indústria automotiva.”
Avanço do veículo elétrico no Brasil
Para Werneck, o veículo elétrico já é realidade no Brasil e em várias partes do mundo. “Vemos um avanço considerável, ao passo que ainda são muitos os desafios em infraestrutura. Acreditamos que o veículo elétrico tem potencial elevado, mas irá conviver com outras tecnologias, que vão do modelo movido a biocombustível ao movido por célula a combustível, passando pelos híbridos ou mesmo os motores de
combustão interna movidos a hidrogênio.”
O diretor acrescenta que essa década será fundamental para determinar quais serão os benefícios e barreiras de cada tecnologia. “Acreditamos que em 2030 teremos um cenário claro sobre quais sistemas serão mais adequados aos diversos nichos do mercado automotivo.
Sobre a transição para o uso de outros combustíveis alternativos, Werneck afirma que o Brasil possui grande diferencial em termos de disponibilidade de energia quando comparado a outros países. “Nossa matriz energética é composta por mais da metade da energia elétrica gerada através de hidroelétricas, e nossa capacidade de geração eólica e solar é enorme. Investimentos relevantes têm sido feitos nessas fontes alternativas e limpas de energia”, informa o diretor.
Werneck destaca ainda que o Brasil é um dos líderes na produção de biocombustíveis, com destaque para o etanol. “O hidrogênio verde também tem se mostrado com grande potencial. Dessa forma, além dos veículos elétricos a bateria, temos muitas alternativas que serão cada vez mais testadas pelo mercado. Portanto, a capacidade produtiva, a infraestrutura (considerando todo o território nacional) e, sem dúvida, os custos serão determinantes na definição dessa transição.”
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