Sonia Moraes
“O desafio da descarbonização não está somente na tecnologia e na fonte energética utilizada para movimentar o veículo. Envolve também a cadeia de produção, a manutenção da logística, além do descarte do veículo”, afirmou João Irineu Medeiros, vice-presidente de assuntos regulatórios da Stellantis, durante o Conexão Sindipeças, evento online que abordou a descarbonização sustentável na cadeia automotiva. Medeiros alertou que sair de um veículo a combustão para um modelo 100% elétrico significa desativar toda a cadeia automotiva, isso envolve a produção de motor e todos os seus componentes, transmissão, sistema de aspiração, sistema de escapamento, de alimentação de combustível, o processo de powertrain e todos os seus agregados necessários para o funcionamento do motor e da transmissão.
“Como o Brasil tem biocombustível, um mix de baixo carbono muito importante, defendemos que essa transição seja feita de forma gradual. A combinação da eletrificação e biocombustíveis com motor de combustão atual é o processo mais equilibrado de fazer essa transição de forma gradual.”
O veículo elétrico possui de 20% a 30% menos peças, segundo Medeiros. “Mas a dificuldade maior é a bateria, que representa 40% do custo de um veículo, pesa de 300 a 400 quilos e tem grande quantidade de materiais críticos e vai continuar passando por um processo intenso de evolução.”
Em seu plano estratégico de longo prazo, Dare Forward 2030, a Stellantis prevê a descarbonização de seus processos e produtos até 2038, com redução das emissões em 50% já em 2030. Com a nova tecnologia Bio-Hybrid, a empresa pretende combinar a propulsão térmica flex e elétrica em plataformas a serem adotadas em novos produtos no Brasil. “O veículo elétrico está na nossa trajetória até 2030 e, no futuro, célula de combustível a etanol. Essa é uma oportunidade que temos que continuar explorando para ter um veículo 100% elétrico, mas usando biocombustível, cuja cadeia está desenvolvida na América do Sul”, disse Medeiros.
Transformação tecnológica
Márcio Alfonso, diretor de engenharia e pesquisa e desenvolvimento e inovação da Great Wall Motors (GWM), ressaltou em sua apresentação que estamos passando por uma transformação tecnológica nunca vista na indústria automobilística, com muitas tecnologias e muitas coisas acontecendo ao mesmo tempo, o que demanda grande esforço do poder público e dos empresários para resolver os desafios na área de
combustíveis, para a substituição dos combustíveis fósseis.
Ele citou também a saturação das malhas viárias das grandes cidades e a necessidade de aumentar a segurança veicular. “A eletrificação é um elemento entre tantos outros dentro dessa transformação”, disse Alfonso. “A eletrificação está permitindo que se faça veículos mais eficientes, menos poluentes. Nos caminhões as transmissões e eixos eletrificados são importantes para reduzir o consumo de combustível.”
Na área de combustível, além da motorização flex, know how próprio do Brasil, Alfonso afimou que é preciso investir no biometano, algo que o país tem grande potencial. “O diesel mais etanol e o diesel mais hidrogênio é outra possibilidade e não podemos perder de vista a célula de combustível porque acho que num horizonte de 10 anos vai se tornar uma grande oportunidade”, destacou o diretor da GWM.