Marcella Cunha, diretora executiva da Associação Brasileira de Operadores Logísticos (ABOL): “Não há uma “bala de prata” para a descarbonização da frota de caminhões. A estratégia mais eficaz é diversificar a matriz energética, com investimentos em várias opções e acompanhamento da evolução do mercado e das políticas governamentais”

Atenta ao movimento e a necessidade de descarbonização da frota de caminhões no Brasil, a associação que representa os operadores logísticos no país orienta o setor a fazer uma avaliação criteriosa sobre as opções de combustíveis existentes no mercado. Em entrevista ao portal Transporte Moderno, a diretora da entidade diz que as empresas estão mais maduras para buscar soluções eficientes

Aline Feltrin

Transporte Moderno – Qual é o real cenário dos operadores logísticos para descarbonizar? Quais seriam as principais dificuldades para escolher as alternativas existentes?

Marcella Cunha – O cenário atual demanda uma avaliação criteriosa das opções de combustível alternativo. Não há uma “bala de pratra”, ou seja, uma solução única, mas sim um exercício de mapeamento das fontes renováveis disponíveis, custos de aquisição, infraestrutura de abastecimento e demandas dos clientes.

Transporte Moderno – Então, a escolha mais acertada do combustível ideal varia de empresa para empresa?

Marcella Cunha – Exatamente. Não há uma fórmula universal. A estratégia mais eficaz é diversificar a matriz energética, investindo em várias opções e acompanhando a evolução do mercado e das políticas governamentais.

Transporte Moderno – Essa análise cuidadosa é comum entre os operadores logísticos?

Marcella Cunha – Observamos um aumento na maturidade das empresas nesse aspecto. Muitas já estão ativas na busca em diversificar sua matriz de combustível e na implementação de projetos de sustentabilidade.

Transporte Moderno – Como os operadores podem se guiar melhor nesse processo?

Marcella Cunha – É essencial que sejam proativos na busca por informações e que estejam abertos a aprender com experiências tanto nacionais quanto internacionais.

Transporte Moderno – Quais são os desafios específicos enfrentados com o biodiesel?

Marcella Cunha – Aumentar o uso de biodiesel é positivo, mas deve ser feito de forma responsável. Relatos de problemas como falhas no sistema de injeção e aumento no consumo de combustível destacam a importância de uma implementação cuidadosa e gradual.

Transporte Moderno – Como você avalia a necessidade de um aumento da mistura do biodiesel com base em estudos técnicos de viabilidade, e qual seria o percentual ideal para atender aos objetivos de descarbonização?

Marcella Cunha – O aumento do biodiesel deve ser embasado em estudos técnicos sólidos, garantindo sua viabilidade e um percentual adequado para atingir os objetivos de descarbonização. No entanto, é importante ressaltar que não há estudos que respaldem um aumento para 20%. Além disso, é crucial considerar que os níveis internacionais estão atualmente abaixo de 14%, o que nos indica um ponto de referência importante a ser considerado.

Transporte Moderno – Como as políticas públicas podem influenciar as escolhas dos operadores logísticos?

Marcella Cunha– As políticas públicas desempenham um papel crucial. Operadores devem estar atentos e engajados nas discussões políticas, pois podem moldar o ambiente regulatório e afetar a viabilidade de diferentes opções de combustível..

Transporte Moderno – Como os operadores logísticos podem ser mais ativos na escolha do combustível ideal?

Marcella Cunha – A colaboração próxima com fornecedores é essencial. Isso pode incluir o compartilhamento de dados operacionais para melhorar a oferta de combustíveis, participação ativa em desenvolvimentos tecnológicos e o estabelecimento de parcerias estratégicas para promover inovações sustentáveis.

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