Rodrigo Casado, CEO da Movecta: “Queremos aproveitar o legado desses últimos 70 anos para avançar forte na diferenciação das soluções de segmentos relevantes para a economia brasileira”

No final do ano passado, uma das mais tradicionais empresas do setor logístico, com mais de 70 anos em operação e folgada liderança no que se refere ao segmento da cadeia de frios, surpreendeu o mercado com a notícia da mudança de marca. Sai de cena a Localfrio para dar espaço para a Movecta. A Transporte Moderno conversou com o CEO da Movecta, Rodrigo Casado, para saber quais são os planos da nova empresa

Por Valéria Bursztein

Transporte Moderno – Depois de 70 anos como Localfrio, por que a mudança de marca?

Rodrigo Casado – Este é um momento histórico na trajetória da Localfrio. A empresa completou 70 anos de trabalho, com muita expertise no setor e reputação de marca. Sabemos que alcançar sete décadas de existência no mercado brasileiro é bastante desafiador para as companhias, ainda mais no mercado portuário. Ao longo desses anos construímos uma empresa sólida e avançamos na expansão de nossos negócios. Em 2017, fizemos a profissionalização da companhia, implementando os conceitos mais modernos de governança corporativa, e construímos um planejamento estratégico 2018-2022, que nos permitiu crescer em segmentos e geografias estratégicas. Em 2023, com o marco de 70 anos de história e a confecção de um novo plano estratégico 2023-2027, entendemos que fazia sentido marcar esse momento com um olhar para o passado, presente e futuro da companhia. A nova marca simboliza esse momento que estamos vivendo e demonstra, de forma bastante clara, nossa ambição de honrar um passado vitorioso e de alçar voos ainda maiores no futuro. 

Transporte Moderno – Essa mudança vem acompanhada por uma renovação da cultura interna da empresa?

Rodrigo Casado – Um dos maiores desafios que temos ao crescer de forma tão acelerada nos últimos anos é a transformação cultural. Como operador logístico provedor de uma solução completa do porto até nossos clientes, temos que garantir uma oferta de valor e deixar para trás o padrão desse mercado, que é o de oferecer um serviço “comoditizado”. Para isso, estamos investindo no desenvolvimento de nossos profissionais e atuando fortemente na aproximação com nossos clientes para mostrar a importância de trabalharmos de forma conjunta na busca por soluções mais completas, inovadoras e sustentáveis.

Transporte ModernoFoi divulgado que a empresa planeja investir pelo menos R$ 100 milhões nos próximos três anos, visando atingir um faturamento anual superior a R$ 1 bilhão. Esses recursos são próprios ou a empresa planeja captar no mercado (abrindo capital, emissão de debêntures ou financiamento)?

Rodrigo Casado – Estamos planejando investir de 4% a 5% da receita líquida anual na operação nos próximos três anos, o que deve superar os R$ 100 milhões. Estamos com a operação eficiente, com o caixa saudável e com apetite para continuar crescendo de forma acelerada e sustentável.

Temos total condição de manter a taxa de crescimento alcançada nos últimos anos e o financiamento desse crescimento pode ser tanto por meio de capital próprio como por captação, visto que nossa alavancagem financeira é relativamente baixa comparada ao mercado em que atuamos.

Transporte ModernoA Movecta conta com terminais alfandegados localizados nos principais hubs marítimos de comércio exterior no país, incluindo Santos, Suape e Itajaí e com o terminal alfandegado frigorificado do Porto de Santos. Recentemente inaugurou um centro de distribuição em Itajaí e expandiu sua unidade em Lages, no estado de Santa Catarina. Estão previstas outras expansões na estrutura e ativos da empresa?

Rodrigo Casado – Nos últimos anos, ampliamos e fortalecemos nossa presença tanto geograficamente quanto em segmentos estratégicos. Atendemos uma quantidade enorme de empresas com atuação nacional e para oferecê-los uma solução completa e eficiente é natural que tenhamos que continuar pensando constantemente na expansão da capilaridade de nossas operações, bem como no fortalecimento de nossa estrutura para aumentar a robustez da oferta de soluções. Hoje já somos a única empresa com presença relevante nos portos de Santos, Itajaí e Suape e vamos continuar buscando formas de expandir nossa relevância, sempre com o objetivo final de atender de forma mais completa nossos clientes.

Transporte Moderno – Hoje a empresa se destaca com as operações com produtos químicos e cargas de projeto para grandes parques eólicos nas regiões Norte e Nordeste, no porto de Suape. Haverá ampliação do escopo de serviços?

Rodrigo Casado – Temos bastante clareza dos segmentos estratégicos de atuação que nosso plano estratégico definiu. Vamos continuar investindo em nossa infraestrutura para cada vez mais podermos entregar valor aos nossos clientes. Queremos aproveitar o legado desses últimos 70 anos para avançar forte na diferenciação das soluções de segmentos relevantes para economia brasileira tais como: cadeia de frio, químico, fármaco, energias renováveis, entre outros.

Transporte Moderno – Foi divulgado que a projeção de faturamento para este ano é de mais de R$ 700 milhões. Esta projeção está baseada em contratos já existentes?

Rodrigo Casado – Nossas parcerias são construídas com grandes empresas do mercado em relações de longo prazo e nosso crescimento forte dos últimos anos é baseado em nossa disciplina de executar o que foi definido em nosso planejamento estratégico, que é a verticalização da oferta de soluções para nossos clientes sempre tendo em vista gerar valor para os mesmos por meio de um serviço seguro, inovador e personalizado.

Transporte Moderno – Como avaliam o impacto da eclosão de conflitos internacionais e a tensão gerada? A empresa considera o atual cenário uma nova ameaça para as cadeias logísticas?

Rodrigo Casado – Pela cadeia logística, os impactos são em virtude de um potencial aumento do custo de frete internacional e escassez de contêiner, e devem ser sentidos mais para o final de fevereiro e início de março. Nesse cenário, vemos a importância dos retroportuários para oferecer ao mercado soluções eficientes, para que compensem esses aumentos de custo.

Transporte Moderno – A questão da transição energética é tema sensível globalmente. Quais iniciativas a empresa vem adotando no sentido de diminuir o impacto ambiental?

Rodrigo Casado – A Movecta está atenta à transição energética e comprometida em reduzir seu impacto ambiental por meio de ações e programas. Nesse sentido, já implementou uma matriz de materialidade para identificar as áreas-chave de atuação e estamos trabalhando nas definições objetivos estratégicos de sustentabilidade, demonstrando um compromisso contínuo com as práticas sustentáveis. Além disso, vamos divulgar nosso primeiro relatório de sustentabilidade referente ao ano de 2023, destacando as iniciativas, avanços e transparência da companhia em um assunto extremamente estratégico.

Transporte Moderno – O setor da logística é um dos que apresenta significativa evolução em termos tecnológicos, com a adoção maciça de ferramentas de inteligência artificial e de automação. Quais são os investimentos recentes da empresa no desenvolvimento tecnológico e como percebe essa evolução da operação logística nos próximos anos?

Rodrigo Casado – Em 2023, uma grande parcela dos investimentos feitos na empresa foi destinado à tecnologia e inovação, por meio de aquisições de novos sistemas, padronização de processos e modernização do parque tecnológico, com foco cada vez maior na transformação digital.

Esses novos investimentos estão em linha com o nosso direcionamento estratégico que visa à verticalização da oferta de soluções eficientes e integradas por meio da tecnologia, melhorando cada vez mais a experiência e a satisfação dos clientes. Isso nos permitirá crescer de forma mais acelerada e de maneira sustentável. Será um movimento que nos permitirá integrar, por meio de sistemas com alta tecnologia embarcada, fornecedores, operação e clientes, conectando todos os elos da cadeia de supply chain, de ponta a ponta.

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