Luis Gambim, diretor comercial da DAF Brasil: “A DAF continua trabalhando em um turno e deve manter assim devido a capacidade, que é de produzir 50 caminhões por dia. Em 2025, com a inclusão de outros projetos, talvez iremos abrir o segundo turno ou fazer a ampliação da fábrica”

A DAF tem em sua carteira pedidos até abril com entregas programadas para 90 dias e a maior demanda é do setor agrícola, segundo Gambim

Por Sonia Moraes

Transporte Moderno – O que ajudou a DAF fechar 2023 com 22,8% de crescimento?

Luis Gambim – Um dos fatores foi quando a empresa resolveu trazer o caminhão Euro 6 para o Brasil no segundo semestre de 2020 e começou a testar aqui. Isso nos deu mais tempo de tropicalizar o caminhão no mercado brasileiro, e quando houve o lançamento a partir de 1º de janeiro, a marca já estava mais madura em relação aos concorrentes. Mas não foi só essa estratégia que deu certo. Teve também a construção do Centro de Distribuição de Peças (PDC) e a participação da Paccar Financial, braço financeiro que ajudou muito, pois terminou 2023 com 40% de representatividade nas vendas e uma carteira com mais de R$ 6 bilhões.

Transporte Moderno – Por que somente a DAF conseguiu crescer no ano passado?

Luis Gambim – A DAF foi a marca que mais vendeu caminhões pesados no passado devido à nossa estratégia. Algumas montadoras decidiram produzir um estoque maior de Euro 5, por causa do impacto de preço que o Euro 6 iria trazer para os novos caminhões e acabaram vendendo mais modelos Euro 5 no mercado em 2023, enquanto a DAF tinha somente modelos Euro 6 testados, aprovados e homologados. Por isso, a DAF foi a única marca que cresceu em 2023. Enquanto o mercado acima de 16 toneladas caiu 16,1%, a DAF cresceu 22,8%, com 8.344 veículos emplacados no país. Foi a melhor montadora em percentual de crescimento. Saiu de 6,9% de market share em 2022 para 10,5% em 2023. Foram três pontos percentuais de crescimento. É muita coisa.

Transporte Moderno – Qual o caminhão mais vendido da DAF no mercado brasileiro?

Luis Gambim – O modelo mais vendido da DAF no Brasil é o XF FTS 530 6×4, que representa 52% das vendas da marca, e em 2023 foi o segundo mais vendido no país. O segundo mais vendido é o FTT 480 6×2, que representa 47% das vendas da DAF, e foi o quarto mais vendido em 2023.

Transporte Moderno – A perspectiva é de que esses modelos continuem liderando no mercado este ano?

Luis Gambim – Esperamos manter a mesma posição em 2024 com esses dois modelos e crescer também no segmento semipesados com o CF rígido, pois apostamos neste caminhão com cabine premium que traz mais conforto para o motorista e é o primeiro do segmento com geladeira de série.

Transporte Moderno – O que o senhor espera de 2024 para o mercado de caminhões?

Luis Gambim – Olhando para 2024 eu creio que vai ser um ano de crescimento. O mercado acima de 16 toneladas vai crescer de 8% a 10% e a DAF vai crescer 20% em volume. Essa é a nossa previsão.

Transporte Moderno – O senhor está otimista?

Luis Gambim – Sim. Mas éimportante olhar os desafios que teremos ao longo deste ano. O lado positivo é a taxa de juros caindo, isso é uma oportunidade. Talvez temos uma oferta maior oferta de crédito. Mas a gente vê alguns ruídos de que haverá pequena quebra na agricultura, o que é muito importante para o nosso segmento, e dúvidas em relação à estabilização do preço da soja. No entanto, existe uma perspectiva de que o mercado de caminhões cresça até dois dígitos, conforme anunciou a Anfavea. É um ano também de Fenatran, o que traz sempre uma motivação aos clientes.

Transporte Moderno – Além das perspectivas positivas que o agro sempre traz para o mercado de caminhões, a DAF também aposta na estratégia da diversificação. Quais outros segmentos estão ajudando no crescimento da DAF?

Luis Gambim – A indústria tem mostrado um grande crescimento, principalmente a construção civil que tem uma cadeia muito grande e acaba puxando outros setores. Outro segmento de extrema importância para a DAF é o de combustíveis e no ano passado a DAF ganhou negócios com Raízen, o que trouxe um volume extra muito grande e é um segmento que estava puxando o volume de vendas para cima. O setor de madeira e cana-de-açúcar também vem se demonstrando força até em função dos preços atuais das commodities e tem ajudado bastante o crescimento no setor de transporte.

Transporte Moderno – Como está a carteira de pedidos?

Luis Gambim – A DAF tem em sua carteira pedidos até abril com entregas programadas para 90 dias, e a maior demanda é do setor agrícola.

Transporte Moderno – Como está essa programação da DAF em relação a produção?

Luis Gambim – A DAF continua fazendo investimentos necessários na fábrica. Já aumentamos a produção no início do ano para suportar a demanda que os clientes estão trazendo e continuamos preparados para fazer investimentos, trazer novos produtos e entrar em novos segmentos.

Transporte Moderno – Como está o ritmo de produção na fábrica de Ponta Grossa (PR)?

Luis Gambim – A empresa continua trabalhando em um turno e deve manter assim devido a capacidade que é de produzir 50 caminhões por dia. Em 2025, com a inclusão de outros projetos, talvez iremos abrir o segundo turno ou fazer ampliação da fábrica. Mas o aumento da produção diária vai depender da demanda do mercado.

Transporte Moderno – Quais são os planos para a rede de concessionária?

Luis Gambim – A DAF tem cobertura em 100% do território nacional. Fechou 2023 com 61 pontos de atendimento e em 2024 vai aumentar mais 14 pontos de vendas e chegar a 75 pontos de atendimento no Brasil. Isso já passa a ser vista como uma rede bem robusta, com capilaridade bem grande, o que é de extrema importância porque a nossa frota circulante é de 35 mil caminhões rodando nas estradas brasileiras e com os caminhões que vamos vender em 2024 vamos chegar num número considerável e precisamos ter casas espalhadas pelo Brasil para dar suporte no pós-venda.

Transporte Moderno – Como o senhor avalia a transição energética no mercado brasileiro?

Luis Gambim – A DAF tem 204 mil veículos vendidos no mundo, tem uma operação global com todas as tecnologias. Mas para o Brasil a empresa tem outras prioridades por ter somente dez anos no país. E, pelo fato de os volumes de vendas serem baixos, a DAF prefere aguardar para ver como será a demanda dos clientes em relação a nova matriz energética, mas é preciso ter uma sinalização melhor do governo, pois entendemos que o Brasil ainda não tem a infraestrutura necessária para que haja uma mudança significativa na matriz energética.

Transporte Moderno – A DAF está preparada para esta mudança?

Luis Gambim – Estamos preparados e assim que tiver uma demanda grande e infraestrutura adequada no Brasil a DAF vai trazer produtos para o país. Enquanto isso, vamos mostrando na Fenatran as novidades que a empresa tem. No ano passado mostramos o elétrico e este ano pode ser que a gente mostre alguma coisa diferente relacionada ao gás ou outra tecnologia. Mas na minha visão esses volumes são pequenos e a gente não quer se distrair com isso neste momento.

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