Sonia Moraes
Em 2024 o mercado de caminhões terá resultado melhor do que no ano passado, segundo avaliação de Roberto Leoncini, que a partir de fevereiro assume como novo conselheiro da Mercedes-Benz, após ocupar por dez anos o cargo de vice-presidente de vendas e marketing de caminhões, ônibus e peças & serviços da Mercedes-Benz do Brasil. “Mas há uma preocupação em relação às condições da safra agrícola que, devido à seca no Mato Grosso, pode ter queda de volume, além do preço baixo da soja e do milho. Os dois fatores juntos podem causar algum efeito na indústria de caminhões e não sabemos qual será a intensidade”, comentou Leoncini.
Na sua avaliação, o setor de varejo também deverá manter bom desempenho, com o efeito do programa desenrola que fez aumentar a capacidade de crédito das famílias, e refletirá positivamente no mercado de caminhões. “Como todo mundo tem o desejo de comprar, isso vai movimentar a economia”, observou o executivo.
Para Leoncini, o ano de 2023 foi uma surpresa. “Esperávamos um resultado melhor no começo do ano, mas com o grande estoque de caminhões Euro 5 na fábrica reduzimos a nossa expectativa e o mercado fechou com 99 mil unidades. Foi um bom resultado, mas com pouco modelos Euro 6, variando de 30% a 40% do total.”
Leoncini não atribuiu ao grande estoque de modelos Euro 5 a baixa do mercado no ano passado. “Cada montadora teve a sua estratégia e tínhamos saído de uma pandemia, não havia componentes, houve perda de produção e era preciso recuperar a capacidade, cada um fez o que tinha que fazer. Nós fizemos a nossa parte que estava de acordo com a estratégia”, comentou.
Tecnologias-
Sobre as novas tecnologias, Leoncini avalia que o caminhão elétrico é bom para a distribuição urbana na última milha e, no médio e longo prazo, para curta distância entre 300 e 400 quilômetros. “Eu acredito no hidrogênio para longa distância, porque temos energia, fonte verde, e se conseguir a produção local de hidrogênio e fazer o abastecimento vai ser mais tranquilo. Mas tem muitos desafios, porque a tecnologia custa caro e sabemos como o frete é depreciado no Brasil para remunerar a nova tecnologia. Tivemos o exemplo do Euro 6”, destacou.
Leoncini considerou o gás um caminho intermediário para a transição energética. “Mas se começar a ter corredores azuis e o biometano se tornar interessante, o gás poderá ser visto de forma diferente, mas o caminhão a gás não tem emissão zero de poluentes e precisa de infraestrutura para o abastecimento.”
Leoncini citou como grande preocupação também a falta de motorista. “Como atrair o jovem e a mulher para ser motorista de caminhão? É uma operação bem remunerada, mas há problemas que precisam ser resolvidos, como esse profissional é tratado na estrada, durante o período de carga e descarga e como é a área de descanso. Toda a parte política do transporte deveria estar olhando para isso, pois esse é o maior problema que temos hoje no setor.”