Por Márcia Pinna Raspanti
Transporte Moderno – Como a Norsul chega aos 60 anos de mercado?
Fabiano Lorenzi – Estamos em um processo de revitalização da nossa cultura organizacional para suportar um crescimento do negócio. Nos últimos anos, investimos fortemente em reorganizar a nossa estrutura organizacional, nossos processos internos. Criamos uma área de novos negócios e de relacionamento com o cliente, além de estruturas de backoffice com foco em governança. Trabalhamos fortemente para ganhar eficiência, focando em estratégias de eficiência energética, seja a partir do uso de novas tecnologias ou a partir da gestão operacional.
Transporte Moderno – A empresa fez lançamentos ou apresentou novidades no último ano?
Fabiano Lorenzi – No ano de 2021, a Norsul deu início ao seu rebranding, conectando a esse novo momento de expansão dos seus negócios. A Norsul 12 (barcaça que compõe a estrutura de comboio oceânico) é a primeira embarcação roxa de que se tem notícia. O processo durou quase um mês, teve cerca de 200 profissionais envolvidos, tanto para a pintura, como para a Docagem. Norsul 12 marcou história na empresa por ser a primeira da frota com a nova cara da marca. Em cada parte da embarcação, existe um sistema de pintura específico de acordo com as necessidades da área: evitar corrosão, suportar abrasão, ser antiderrapante, entre outras. Apenas no casco foram necessárias quatro demãos de tinta, usando três tipos diferentes (anticorrosiva, selante e anti-incrustante). A embarcação faz parte do reposicionamento de marca, que trouxe uma nova identidade visual à companhia, que passou a se chamar Norsul, no lugar de Companhia de Navegação Norsul.
A Norsul também vem investindo em tecnologias pioneiras na navegação comercial, como o Propeller Boss Cap Fin (PBCF), para melhorar a eficiência energética do navio. A empresa foi a primeira a testar o dispositivo em uma embarcação de granel no país. Em paralelo, a Norsul desenvolve também um plano de pintura especial, que diminui a resistência no avanço do navio na água e reduz o consumo de combustível. Um dos pilares da Norsul é a sustentabilidade e a nossa próxima meta é zerar as emissões de CO2 até 2050. Por isso, estamos sempre trabalhando em projetos de inovação, buscando a economia de combustíveis, aliada à redução do impacto ao meio ambiente.
A Norsul também desenvolveu, em parceria com uma startup, um software de monitoramento que usa a tecnologia IoT (internet das coisas) para proporcionar maior segurança à tripulação e aos serviços entregues pela empresa. A solução possibilita o monitoramento e a visualização de vários parâmetros das embarcações por meio de rápidas consultas a um bot no whatsapp ou acessando uma plataforma web – que apresenta mais detalhes das informações em gráficos e painéis gerenciais. Ao todo, são mais de 280 sensores observados pela ferramenta em tempo real, reunindo e transmitindo informações como velocidade, consumo de combustível, posição, vento, corrente, temperatura e outros. O sistema inclui ainda a movimentação das embarcações no Brasil, que é enviada para um servidor na nuvem e atualizada a cada dez segundos. Ainda em 2022, a Norsul criou uma rota inédita de cabotagem para transportar biocombustível. A operação envolve a primeira usina de biodiesel do Brasil a utilizar o transporte na costa brasileira e leva o produto do Sul ao Nordeste do país.
Em 2023, a Norsul e a Hapag-Lloyd lançaram uma nova joint-venture para transporte de cabotagem de contêineres no Brasil, um dos primeiros projetos que representam o movimento de crescimento e diversificação dos negócios da empresa. Com base em uma parceria 50-50, a Norcoast pretende oferecer serviços de cabotagem e feeder de contêineres nos portos brasileiros no primeiro trimestre de 2024. A Norcoast será uma empresa independente no setor, aproveitando a força de ambas as controladoras.
Transporte Moderno – Como a empresa avalia a atual situação do mercado? Houve mudanças com relação à política para transporte marítimo e fluvial com a chegada do novo governo?
Fabiano Lorenzi – A Norsul tem se mantido resiliente nos últimos anos, apesar das diversas crises enfrentadas. Como transportamos as cargas dos nossos clientes, nosso negócio está ligado diretamente a situação de cada indústria. Nossa posição é de sempre estarmos próximos, entendendo como podemos apoiá-los em soluções mais eficientes para enfrentarmos momentos de crise. Somos otimistas em relação à navegação e seu potencial, considerando que operamos em um país com mais de 8.000 km de costa e com 80% do PIB também na costa. Como a nossa visão é de longo prazo, toda a mudança que traga melhorias e desenvolvimento, será bem-vista por nós da Norsul.
Transporte Moderno – Como foi o ano de 2023 para a Norsul?
Fabiano Lorenzi – Podemos dizer que a empresa vem registrando crescimento consistente: nos últimos dez anos cresceu em média 19% em receita bruta e 9% em volume. Enxergamos esse crescimento de forma bastante positiva, que permeia nossa história de 60 anos no mercado.
Transporte Moderno – E para 2024, quais as expectativas da empresa?
Fabiano Lorenzi – Estamos sempre estudando possibilidades no mercado. A empresa tem hoje várias iniciativas de diversificação em estudo. Uma delas foi lançada agora em novembro, que é a Norcoast. A Norcoast é um excelente exemplo da forma como entendemos projetos de diversificação do nosso negócio. Ela é essencialmente um negócio de navegação de cabotagem, porém, dentro de um sub nicho que é o mercado de contêineres, onde não atuávamos. Ela nasce de uma parceria com a alemã Hapag-Lloyd. Parcerias são muito importantes, seja para construir soluções para o cliente, seja para adquirir novas tecnologias e inovar no setor. Além disso, representou também um outro traço da Norsul, que é o pioneirismo de se aventurar em oportunidades não exploradas pelo mercado, como foi o caso dos comboios oceânicos há 20 anos e é o da Norcoast esse ano. Esse projeto representa não só crescimento para a empresa, mas também crescimento para o setor marítimo e para a indústria, já que esse empreendimento aumenta a capacidade de transporte de contêiner existente hoje no mercado, amplia o número de embarcações circulando na cabotagem e traz mais oportunidades de emprego para o setor. Para 2024, nossa expectativa é continuar expandindo para novos negócios. Setores como agro, energia, óleo e gás e siderurgia também são focos estratégicos atuais da companhia, pois movimentam volumes expressivos no Brasil.
Transporte Moderno – Quais os principais investimentos realizados no último ano?
Fabiano Lorenzi – Por razões estratégicas, a companhia não compartilha valores. Podemos dizer que permaneceremos estudando novas possibilidades de investimentos, em setores estratégicos como agro, energia, óleo e gás e siderurgia. Além disso, novas parcerias e tecnologias que reforcem os pilares da Norsul de cultura, inovação e ESG farão sempre parte do nosso planejamento global.
Transporte Moderno – Quais os destaques da empresa em 2023 (serviços ou frota)?
Fabiano Lorenzi – Um dos grandes destaques da Norsul em 2023 foi a parceria com a BioRen. Com essa parceria, desenvolvemos uma tecnologia de combate à bioincrustação, solução inédita no mercado, resultado de um processo natural de colonização e crescimento de organismos em superfícies submersas, onde campos eletromagnéticos evitam o crescimento marinho indesejado, sem agredir o meio ambiente.Também trabalhamos com os pilares de ESG da companhia, com o programa de aceleração Co.Impacto, em parceria com o Instituto Ekloos e a parceria com o Instituto Baleia Jubarte (IBJ) e a Veracel para o monitoramento de baleias jubarte com uma câmera térmica instalada a bordo das barcaças da Norsul.
Transporte Moderno – E quais são os investimentos previstos para 2024?
Fabiano Lorenzi – O apetite de investimento da Norsul no Brasil é crescer no setor de transporte aquaviário, complementando a oferta para nossos clientes atuais e futuros. Faz parte do nosso plano de crescimento trabalhar também com parcerias. As parcerias são importantes para acelerar e trazer segurança para novas operações.
Transporte Moderno – Quais são hoje as principais dificuldades do setor?
Fabiano Lorenzi – O mercado brasileiro está demandando maior capacidade de transporte marítimo e alternativas para a diversificação da matriz de transporte. Falando apenas deste setor, existe uma demanda reprimida, pois o mercado não vê um novo entrante há 20 anos. Existe uma escassez de embarcações nacionais e o mercado não estava conseguindo ofertar o que a demanda exigia. Hoje, esta nova lei “BR do Mar” trouxe a possibilidade real de fomento a essa indústria, de estímulo à criação de novas empresas, o que pode trazer diversos benefícios ao país, como fortalecimento da rota marítima de transporte, desafogando outras como a rodoviária, aumento de fluxo e velocidade de entrega de cargas transportadas, geração de novos empregos, entre outros. A nova lei permite às empresas o afretamento de uma embarcação estrangeira para cada ano de sanção.
Transporte Moderno – Qual a estratégia da companhia para continuar se destacando no mercado?
Fabiano Lorenzi – Vemos oportunidades em diversas frentes, há muito espaço de crescimento na navegação nacional. Nossa estratégia é cada vez mais ampliar a aproximação com o cliente, para que possamos atuar junto com ele em sua cadeia produtiva trazendo soluções inovadoras e eficientes. Além de trabalharmos na diversificação e crescimento dos negócios, a companhia mira em setores estratégicos com o objetivo de reforçar o protagonismo no mercado. Estamos sempre estudando novas possibilidades. Em 2014, por exemplo, vimos espaço para entrar no líquido (que ainda não atuávamos) através de uma parceria com uma empresa chilena para um cliente nacional. Desse movimento, desenvolvemos expertise, adquirimos embarcação própria e entramos nesse mercado, que permanece tendo muitas oportunidades de expansão em diversos pontos da sua cadeia de valor, do alívio de plataforma até a cabotagem de derivados. Assim como em 2019 entramos no mercado comprando um cement carrier (embarcação especializada para transporte de cimento). Para se ter uma ideia, somos a única empresa brasileira de navegação (EBN) que transporta cimento e clínquer, e o volume anual dessa carga conosco é em torno de 250 mil toneladas por ano, o que gera um potencial de redução de 6.250 caminhões rodando por ano.