BorgWarner planeja transformar Piracicaba em sua base de produção de baterias  

Estratégia da empresa é marcar presença localmente e aumentar o índice de nacionalização dos sistemas que produz

Valéria Bursztein

Atenta ao ritmo que a eletrificação ganhou no Brasil em alguns segmentos de transportes de passageiros e de cargas, a BorgWarner, uma das principais empresas fornecedoras de soluções em tecnologias limpas e ecoeficientes, optou por colocar em marcha a estratégia de transformar Piracicaba em sua principal base de produção de baterias para veículos, como parte da estratégia para apoiar a crescente demanda por eletrificação no Brasil. A empresa busca atender o mercado local com soluções tecnológicas mais limpas e eficientes, contribuindo para a nacionalização de seus sistemas e facilitando as opções de financiamento para montadoras e clientes.

O diretor para sistemas de baterias da planta em Piracicaba, Marcelo Rezende, destaca que a proximidade com o mercado brasileiro é fundamental. A decisão de montar sistemas de baterias no país não apenas fortalecerá a oferta de produtos seguros e sustentáveis, mas também estimulará o desenvolvimento da cadeia industrial e mão de obra local, colaborando, também, com o índice de nacionalização exigido das montadoras para beneficiar seus clientes com opções de financiamento oferecidas. “Ao trazer essa produção de baterias para o Brasil, incentivamos outros fornecedores e parceiros, incentivando toda a cadeia e além de colaborar com o desenvolvimento da mão de obra local”, diz.

A aposta da BorgWarner está ancorada no potencial do mercado latino-americano, que segundo Resende, é intenso. “Os planos incluem aumentar o faturamento atual em cerca de vinte vezes, quadruplicar o número de funcionários e montar todo o sistema no país, inclusive a bateria em si”.

No Brasil, a BorgWarner tem contrato fechado com a Mercedes-Benz, mas no mundo, a empresa também atende outras montadoras. “Não podemos dar mais detalhes, mas estamos sempre em contato com as montadoras que atuam no mercado latino-americano”.

Na visão do executivo, o ritmo do crescimento da eletrificação no Brasil se dará, primeiro, no segmento de veículos comerciais, puxados pelo no transporte urbano de passageiros nos grandes centros, depois nos veículos de abastecimento last mile nos grandes centros, e, posteriormente, no segmento de caminhões médios, pesados e extrapesados. Na Europa, a BorgWarner ampliou as linhas de atuação e oferece soluções em baterias para outros modais, como ferroviário, marítimo e também para equipamentos agrícolas.

Quatro plantas no mundo-

Com relação à planta de Piracicaba, que é uma das quatro instalações da BorgWarner no mundo, a eficiência de produção ganha destaque. “Desenvolvemos uma sistemática de montagem que está sendo estudada para ser adaptada em outras plantas da empresa pela eficiência operacional que oferece”, festeja Resende.

A planta de Piracicaba está instalada em um terreno com área total de 33 mil m², sendo dez mil m² de área construída e 2,3 mil m² de área útil fabril. Na planta são montados, atualmente, o Sistema de Gerenciamento da Bateria (BMS), os módulos de conexão entre as baterias (Junction box), a Unidade de recarga de corrente direta (DCCU) e a Unidade eletrônica de controle (EDCU). Após montar o conjunto completo e acoplar na bateria que hoje é produzida na unidade da empresa na Alemanha, todo o sistema passa por diversos testes de desempenho e segurança em equipamentos de última geração, acompanhado por engenheiros e técnicos especializados.

Alta densidade energética-

“O sistema de baterias produzido em Piracicaba é de alta densidade energética e foi desenvolvido considerando uso intensivo. E quanto mais energia você consegue acumular em uma bateria maior é a autonomia oferecida aos veículos”, explica Rezende. “A bateria para a qual montamos os sistemas opera em até 665 volts, armazena 98 kWh de energia, e conta com três níveis de segurança (na célula, nos módulos e no sistema como um todo).”

A unidade de Piracicaba tem capacidade atual de 500 MWh (Megawatt.hora) de energia. Para ter ideia da magnitude, a planta de Piracicaba produz sistemas de baterias capazes de armazenar energia suficiente para alimentar um bairro com 250 casas por um ano, ou para um ônibus rodar 300.000 quilômetros sem parar em trajeto urbano. Globalmente, as plantas produtoras de baterias da BorgWarner somam hoje 2,2 GWh (Gigawatt.hora) de capacidade. “O plano da empresa é atingir globalmente o volume de 6 GWh em 2025”, aponta Rezende.

Os sistemas de baterias montados em Piracicaba projetam vida útil em primeiro uso (no veículo) de 4.000 ciclos de recarga, equivalente a cerca de oito anos. O peso médio de um sistema de baterias que usa combinações de níquel, manganês e Cobalto, supera os 550 kg e mede 1,7 metro x 20 cm. Após o uso em veículos, a bateria pode seguir para as estações de recarga, com tempo de vida tão longo ou maior do que o uso na primeira vida. Após a utilização em recarregadores, a bateria pode seguir para a reciclagem. Tanto na primeira como na segunda vida, as baterias podem ser reparadas, seus componentes substituídos, reciclados ou remanufaturados.

“A BorgWarner adquiriu duas estações de recarga, uma nos Estados Unidos e outra na Europa, para ampliar o portfólio da empresa porque, no nosso entendimento, estações de recarga são a melhor forma de aplicar a bateria em sua segunda vida. Depois disso as baterias podem ser recicladas, separando os materiais, inclusive os químicos, separando-os de forma a que sejam reutilizados”, diz Resende.

Além de fabricar sistemas de baterias próximo aos clientes, a BorgWarner oferece um leque de serviços de assistência técnica das baterias localmente. “Temos peças, serviços e profissionais especializados e uma área dedicada ao atendimento de Pós-Vendas, preparada com equipamentos de carregamento e descarregamento de 100% da bateria para garantir segurança no momento da avaliação, equipamentos de rastreamento e identificação de qual célula ou ponto da bateria apresenta alguma inconsistência, além de outras características”, explica Marcelo. Segundo ele, a meta global da empresa é ter, em 2027, cerca de 49% da receita proveniente de soluções para a eletrificação dos veículos no mundo todo.

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