Sonia Moraes
Com a forte retração do mercado, tendo dos 52.457 caminhões comercializados de janeiro a junho, sendo que apenas 22,8% foram produzidos em 2023 – que equivale a 11.965 modelos Euro 6 –, as montadoras, que tiveram redução de 34,3% na produção no primeiro semestre deste ano – de 71.772 caminhões para 47.173 –, começam a tomar medidas para evitar perdas maiores.
A Iveco, que já concedeu férias coletivas de 12 dias em abril para adequar os volumes de caminhões à baixa demanda de mercado, vai parar por 25 dias algumas áreas da fábrica de Sete Lagoas, em Minas Gerais, a partir do dia 4 de setembro para ajustar os seus estoques de veículos.
A empresa considera a situação atual alarmante e pede medidas urgentes do governo para evitar que o setor entre em colapso, com a parada das montadoras refletindo na gigantesca cadeia de fornecimento e travando todos os negócios. “As montadoras têm hoje uma quantidade importante de veículos nos seus pátios e nas concessionárias e o governo precisa ajudar a destravar o mercado, assegurando condições mínimas para que a indústria possa operar, pois com a taxa Selic em 13,75% nenhum setor consegue resistir por muito tempo”, disse Marcio Querichelli, presidente da Iveco para a América Latina, em entrevista exclusiva à Transporte Moderno.
Na avaliação de Querichelli, o mercado de caminhões em 2023 deveria estar entre 150 a 160 mil veículos e está indo para 100 mil unidades vendidas, de acordo com a projeções atuais. “Isso é consequência de uma situação política, econômica e principalmente da taxa Selic que não está ajudando os clientes adquirirem veículos de maneira que eles possam cumprir com suas obrigações de pagamento das prestações.”
Segundo o presidente da Iveco, o setor está vivendo o maior nível de inadimplência da história. “São os maiores índices do período recente e está acontecendo em todos os níveis de clientes, significa que o frete não está pagando a parcela dos contratos”.
Querichelli considerou que o setor está voltando aos níveis pré-pandêmicos em volume, e que o cenário atual é de “tempestade perfeita”, com taxa de juros elevada, veículos 30% mais caros por causa dos benefícios agregados aos caminhões Euro 6 para poluir menos e a falta de previsibilidade, o que tem acarretado paradas de produção. “No ano passado, o mercado estava crescendo de forma significativa, mas começou a retrair a partir de agosto com a elevação da Selic para 13,75%, e hoje enfrenta desafios porque financiar um veículo no Brasil é muito caro. Existe uma demanda reprimida de produtos, o agronegócio, a mineração, a exportação continuam crescendo e os pedidos continuam chegando, mas num nível menor que o projetado porque os clientes estão esperando para ver o que acontece com a situação política e econômica do país”, destacou o presidente da Iveco.
Mais do que reduzir a taxa de juros, o importante neste momento, segundo Querichelli, é ter previsibilidade para conseguir fechar um planejamento. “Para a Iveco produzir um caminhão em Sete Lagoas precisa se programar com cinco ou seis meses de antecedência por causa da cadeia de fornecimento que é global – há peças que vêm da Europa e componentes que vêm do mercado asiático e são consolidados na Europa. Para programar a produção em junho, a fábrica precisa saber o que vai acontecer no Brasil em novembro e dezembro de 2023. Ter previsibilidade é algo fundamental”, destacou.
Posição no mercado-
Querichelli comentou que, apesar da situação político-econômica complicada e da queda de mercado, a Iveco está em um bom momento e bem estruturada no mercado do ponto de vista de produto e de concessionárias e continua bastante saudável no seu plano de desenvolvimento. “A empresa investiu R$ 1 milhão para trazer um produto novo, uma fábrica nova, investiu na rede de concessionária e fez um up grade de toda a equipe e este ano, apesar da crise, a Iveco atingiu 13% de market share em junho, enquanto o mercado caiu 32%”, destacou. De janeiro a junho, a empresa registrou 10,3% de maket share.
Em janeiro de 2023, além de renovar a sua linha de produtos e incluir equipamentos que transformaram os veículos em Euro 6, a Iveco lançou um novo caminhão pesado no Brasil, o S-Way. No segmento de veículos leves, a empresa conquistou a liderança no mercado e o carro-chefe é a Daily chassi cabine, que alcançou 40% de participação no primeiro semestre, sendo que a cada dez veículos chassi cabine vendidos no Brasil, quatro são Iveco, “um recorde histórico”, segundo o presidente.
O caminhão médio com capacidade de nove a 15 toneladas de carga, lançado no fim de 2019, tem de 15% a 17% de participação no mercado. “O mesmo acontece no segmento de semipesados, e a empresa mantém os seus planos de lançamento”, disse o presidente. “Fizemos a nossa parte, todos os fornecedores estão prontos, mas a conta não fecha e o mercado precisa ser destravado”, ressaltou Querichelli.
O presidente da Iveco disse que estrategicamente o Iveco Group decidiu que o mercado potencial de crescimento para a marca no mundo é a América Latina. “E o Brasil é o principal mercado e precisa absorver esses veículos.”