Sonia Moraes
A Volvo vai suspender por duas semanas a produção de caminhões na fábrica de Curitiba. A decisão de interromper as atividades neste mês de julho é para adequar os estoques de veículos à demanda do mercado. A produção de ônibus segue sem interrupção.
“A parada da produção será de 17 a 26 na linha de caminhões e está combinada com as férias da Volvo na Europa, que envia alguns componentes para a fábrica de Curitiba”, informou Alcides Cavalcanti, diretor executivo de caminhões da Volvo, em entrevista exclusiva para a Transporte Moderno.
No início do ano, como já previa redução do mercado com a entrada em vigor da nova tecnologia que polui menos e acarretou aumento de até 30% nos preços dos veículos, a Volvo ajustou a produção e hoje trabalha em dois turnos na fábrica de Curitiba com velocidade menor do que no ano passado e tem feito paradas programadas.
“Paramos por uma semana em abril e junho e agora vamos ter duas semanas de férias coletivas em julho para fazer um ajuste adicional de estoque na rede de concessionários”, disse Cavalcanti, destacando que a parada na produção não vai comprometer a programação de entrega dos negócios já fechados.
Melhora no mercado –
Depois de seis meses difíceis para toda a indústria, com estoques de modelos Euro 5, preço reajustado dos novos veículos e taxa de juros elevada, a Volvo já visualiza melhora no mercado de caminhões. “No início do ano houve um impacto por causa da diferença grande de custo dos modelos Euro 6 e atrapalhou o fechamento dos negócios. Agora, com as projeções apontando para o crescimento do PIB, redução da taxa de juros futuros e nas incertezas em relação à economia, os transportadores começam a se animar para renovar a frota. Os que haviam comprado caminhões estão aumentando os pedidos e estamos vendo também, mesmo que de forma tímida, alguns clientes ampliando sua frota, o que sinaliza que as empresas estão aumentando a produção e contratando mais serviço de transporte”, comentou Cavalcanti.
Na Volvo, a procura por caminhões Euro 6 começou aumentar a partir de abril, e hoje a empresa já tem pedidos fechados até setembro com programação de entrega para o último trimestre do ano. As encomendas estão chegando de vários segmentos, como o setor químico que atende as indústrias, mas também do segmento de combustíveis, de cargas frigoríficas, mineração, florestal, canavieiro e agrícola. O modelo que lidera os pedidos é o FH 540 6×4. “É um caminhão que tem muita flexibilidade e mais capacidade de carga, consegue transportar bitren e bitrenzão e vem tendo mais procura principalmente por quem transporta grãos”, disse Cavalcanti. Na mineração, o modelo FMX 8×4 e o VMX também estão com grande demanda.
Mesmo com a retomada dos negócios, a expectativa do diretor da Volvo é de que o mercado de caminhões termine o ano com desempenho abaixo do ano passado. “O volume maior de vendas esperado para os próximos meses não irá compensar a queda do primeiro semestre e o setor deverá encerrar 2023 com volume 11% menor do que em 2022 e o segmento acima de 16 toneladas terá uma redução de 20%, com as vendas oscilando entre 75 mil e 80 mil unidades, o que é um bom volume e acima da média dos últimos dez anos.”
Na visão do diretor da Volvo, os obstáculos que a indústria de caminhões enfrenta hoje não são diferentes do que ocorreu em anos anteriores. “Todo ano há desafios. Em 2021 teve muita ruptura na cadeia de fornecimento com falta de peças. Em 2022 havia uma demanda forte e dificuldade para manter a produção por causa dos problemas na cadeia de suprimentos. Agora, não é uma crise que estamos vivendo, mas um momento de normalidade, com nível de estoque um pouco mais alto nas fábricas e nas redes de concessionários, e competitividade maior entre as marcas.”
Apesar das dificuldades com a pressão de custo dos novos modelos, 90% dos caminhões da Volvo vendidos são de modelos coloridos, com acessórios e opcionais, enquanto no passado 90% eram caminhões brancos e básicos. “O transportador agora entende que o caminhão colorido e com opcionais agrega valor ao seu negócio e tem maior valor de revenda”, disse Cavalcanti.
Das vendas realizadas pela Volvo, 30% são pagas à vista e 70% são financiadas em 48 meses por meio do contrato de CDC com taxa de juros pré-fixada. “Poucos estão usando o Finame e a procura por esta modalidade está bem inferior ao que foi no passado, quando representava 80% dos financiamentos. Agora é inverso, com 80% de preferência pelo CDC porque a aprovação do financiamento é mais rápida, e 20% pelo Finame que exige documentação detalhada”, esclareceu o diretor da Volvo.