Ricardo Monzani, diretor de carros e picapes da Eaton e responsável pela área de marketing, inteligência de mercado e SiOP (Sales Inventory Operations Planning): “Este é um ano desafiador na perspectiva de volumes em função da construção de estoque que acometeu o ano passado e os altos preços causados pelo Euro 6”

Com as paradas nas montadoras, a empresa concentrou seus esforços no aftermarket, mas acredita que a demanda voltará aos patamares normais a partir do segundo semestre

Transporte Moderno – A Eaton está aumentando o volume de componentes importados para formar estoque e garantir atendimento para as montadoras?

Ricardo Monzani – A Eaton possui alto nível de conteúdo local e ainda conta com programas estruturados para a localização de subsistemas ou componentes tradicionalmente importados. O fato de possuirmos uma estrutura local robusta de engenharia nos permite maior agilidade nas ações desse tipo, além de permitir o desenvolvimento de produtos customizados para as necessidades brasileiras e manufatura local de produtos de alta tecnologia. As transmissões automatizadas são um exemplo: desenvolvidas e manufaturadas localmente para as condições específicas das aplicações de caminhões e ônibus no Brasil e nos países da região. Com soluções como essa, buscamos justamente atender bem os nossos mercados, além de fortalecer a cadeia local de fornecedores. No campo da manufatura interna, temos processos de fabricação que asseguram excelência operacional, competitividade e flexibilidade, para atender todos os segmentos da indústria automotiva. Além disso, focamos em eficiência em todas as quatro plantas do nosso parque fabril com suporte de tecnologias da indústria 4.0 que criam o ambiente ideal para fabricação de produtos com níveis de qualidade globais. 

Transporte Moderno – Como está o ritmo de produção na fábrica de Valinhos?

Ricardo Monzani – A fábrica de Valinhos concentra as manufaturas de transmissões, embreagens e, mais recentemente, ganhou a linha das válvulas antipoluentes ORVR. É nesta localidade que também está nosso Centro de Pesquisa & Desenvolvimento da América do Sul, portanto, temos projetos e fabricações importantes rodando nesta unidade que possuem aplicação para as principais montadoras do país e que vem seguindo o ritmo da demanda do mercado. A entrada do Euro 6 tem nos trazido alguns desafios. Por ser a unidade em que fabricamos componentes que estão diretamente relacionados a esse novo contexto, também somos impactados de certa forma com as paradas recentes das montadoras. Mas este era um movimento que já prevíamos e, portanto, conseguimos endereçar de forma estratégica e adequada, colocando nossos esforços no aftermarket, por exemplo. Entendemos que é um período pontual e que a demanda voltará aos patamares normais a partir do segundo semestre.

Transporte Moderno – A empresa está conseguindo manter o fornecimento para as montadoras?

Ricardo Monzani – Diante da demanda atual do mercado, não estamos enfrentando problema. A entrada do Euro 6 já diminui os volumes, portanto, isso não é um desafio no momento.

Transporte Moderno – O que a empresa destaca em termos de novidades para 2023?

Ricardo Monzani – Para 2023, no mercado de reposição, temos projetado cerca de 15 novos projetos, que totalizam aproximadamente 190 novos itens – o que representa quase três vezes mais do que apresentamos no mercado no ano passado. Entre os novos componentes que chegarão às prateleiras estão os lançamentos nas linhas automotiva de embreagem, transmissão e também agrícola, considerando o portfólio Eaton, remanufaturado e EAP (Eaton Aftermarket Parts) – peças que têm a qualidade e DNA Eaton, com preços mais competitivos. Para o mercado OEM, nosso Centro de Pesquisa & Desenvolvimento permanece com trabalho ativo com foco em soluções cada vez mais eficientes que chegarão no mercado. Continuamos trabalhando de maneira mais forte com as transmissões automatizadas, que é uma grande aposta da Eaton para o mercado automotivo.

Transporte Moderno – A Eaton tem investimentos programados para este ano e ampliação de linha de produtos?

Ricardo Monzani – Continuamos investindo para expansão do nosso portfólio de produtos, que foi 30% a mais que no ano anterior. Portanto, o ritmo de investimento permanece, inclusive, com trabalhos concentrados na modernização das nossas fábricas nas frentes de Industria 4.0 e automação.

Transporte Moderno – Quais as tecnologias desenvolvidas pela empresa para atender o mercado de veículos elétricos?

Ricardo Monzani – A Eaton acompanha esse tema globalmente e, em 2018, focada nas tendências seculares de digitalização, eletrificação e sustentabilidade, criou a Divisão eMobility – que une a expertise mundial da empresa no setor automotivo com o profundo know-how do Grupo Elétrico. E, com base no conhecimento de desenvolvimento de transmissões automotivas, a Eaton já possui uma solução para atender a aplicação de veículos comerciais elétricos. Além disso, o nosso portfólio conta ainda com sistemas de proteção, como inversores e conversores, Breaktor – solução com patente Eaton, e o EV-gearing – para aplicação em veículos comerciais e de passageiros. Recentemente, foi anunciado a aquisição da empresa norte-americana Royal Power Solutions, que produz componentes de conectividade elétrica de alta precisão. Com isso, nosso portfólio se torna ainda mais completo e pronto para suportar as demandas atuais e os desafios do futuro de eletrificação e transição energética.

Transporte Moderno – Como a Eaton avalia o cenário atual do setor automotivo?

Ricardo Monzani – A indústria automotiva é extremamente importante para o Brasil, responsável por gerar milhares de empregos e movimentar diversos setores. Acreditamos que iniciativas importantes estão surgindo para contribuir com este mercado, o programa Rota 2030 é um exemplo e sua segunda fase está se aproximando. Portanto, ações que alavancam o setor estão em voga e, com certeza, aceleram o desenvolvimento da indústria local. Além disso, a indústria automotiva é essencial para o desenvolvimento de novas tecnologias, que inclui a evolução de soluções mais eficientes, sustentáveis e focadas na transição energética. Enxergamos todas essas mudanças com bons olhos e estamos empenhados em fazer parte desse movimento do setor.

Transporte Moderno – A demanda pelos produtos da empresa aumentou com a retomada da produção das montadoras ou as encomendas ainda estão abaixo do esperado?

Ricardo Monzani – Neste cenário atual do mercado, enxergamos o Euro 6 como uma janela de oportunidades para o ingresso de novas tecnologias. A Eaton fez um trabalho importantíssimo de penetração com uma antecedência estratégica se preparando para esta fase. Como estamos presentes nas principais montadoras, isso nos garante uma participação de share importante. Atualmente, estamos na expectativa da chegada do maior volume de demanda para esta nova regra e uma virada ainda mais positiva de todo o mercado.

Transporte Moderno – O que a empresa espera para os próximos meses?

Ricardo Monzani – Este é um ano desafiador na perspectiva de volumes em função da construção de estoque que acometeu o ano passado e os altos preços causados pelo Euro 6. Tudo isso, tem trazido uma série de desafios e volatilidade nos negócios. Em todo caso, acreditamos em um potencial retomada no segundo semestre.

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