Por Fred Carvalho
Realmente o público estava com saudade da Automec – não acontecia desde 2019 – e no primeiro dia as entradas e todos os corredores do São Paulo Expo estavam lotados. “Nossa expectativa, por ser uma terça-feira, era de uma presença menor. Mas, para nossa surpresa, o volume de visitantes foi 65% maior que o previsto. E na quarta-feira novamente o movimento foi 20% acima”, conta Luiz Bellini, diretor da RX, empresa organizadora do evento.
Todos os números desta Automec são surpreendentes, desde as mais de 1.500 marcas expositoras até o volume previsto de negócios, na faixa de R$ 25 bilhões, e dos mais de 80 mil visitantes. Há estandes espalhados em toda área interna do SP Expo, além de todos os espaços possíveis no entorno do grande prédio.
Todos os tipos de eventos realizados durante a feira surpreenderam. Do sucesso de público dos shows de carros fazendo drift na área externa do São Paulo Expo ao 4º Encontro da Indústria de Autopeças, em um auditório no mezanino, completamente lotado para assistir excelentes painéis sobre temas importantes para o setor.
Diversos temas foram abordados: das tendências do mercado europeu na questão da eletrificação, apresentado por Benjamim Krieger, secretário geral da Cepla – entidade que congrega os produtores de autopeças, até as dificuldades na obtenção dos chips para produção dos veículos. “A velocidade de implantação dos elétricos está muito elevada com um preço muito alto para pagar. Além do mais, são regras muito rígidas. A velocidade de implantação de estações de recarga não atende à necessidade da entrada crescente de elétricos”, destacou Krieger.
O executivo destacou também a importância de abrir a cabeça e aproveitar as tecnologias dos combustíveis renováveis – como o caso do etanol brasileiro – para permitir um leque maior de alternativas para movimentar os veículos. “Corremos o risco de nos tornarmos uma ilha”, afirmou. O secretário acenou, inclusive, com as chances de um eventual e próximo acordo entre Mercosul e União Europeia.
Neste mesmo 4º Encontro, Juliano Almeida, vice-presidente sênior de Compras e Supply Chain da Stellantis, falou sobre os três pilares do plano estratégico da companhia: nacionalização do desenvolvimento e da produção de componentes, com incentivos para as soluções de propulsão que combinem etanol e eletrificação.
“Os marcos regulatórios têm exigido níveis cada vez maiores de automação e conectividade dos veículos produzidos na região, com novas oportunidades para toda cadeia de suprimentos”, explicou Almeida.
Na área de segurança veicular, a projeção de consumo indica que, a partir de 2025, atingirá um milhão de componentes, atualmente importados. “Temos um consumidor cada vez mais exigente nas escolhas tecnológicas e demanda, por exemplo, transmissões automáticas. Atualmente importamos, mas talvez façamos parcerias com outros produtores para a adequada escala para produção local”, comenta o executivo da Stellantis.
Na apresentação de Henrique Araújo, diretor de Relações Institucionais e Governamentais da Volkswagen, ele destacou a ociosidade de 47% do setor. “Temos uma capacidade de produção de 4,5 milhões de veículos, mas nos últimos anos a produção ficou pouco acima da metade. Mesmo assim, a indústria tem um programa de investimento, de 2014 a 2028, de R$ 105 bilhões. Isso é uma demonstração clara de que, mesmo com um mercado em retração, os investimentos em melhorias não sofreram alterações,” salienta Araújo.
“Nos últimos oito anos reduzimos o tempo de produção em 25% com a ampliação do nível de automação de 50% para 75%”. Também o tempo de desenvolvimento dos novos veículos teve uma redução na VW de nove meses na construção de protótipos. Eram 22 horas e agora são 30 segundos. “O Brasil, dentro de todas as filiais, é um dos poucos países que detém a capacidade de desenvolver um veículo do início ao fim, do design ao controle de emissões. É a única autorizada, além da matriz, para fazer todo este processo”, ressalta Araújo.