Cummins Meritor revisa estimativa para o mercado de caminhões e ônibus  

A mudança na legislação de emissões contribui para a redução na produção de veículos pesados ao provocar um descompasso na cadeia internacional de suprimentos

Sonia Moraes  

A Cummins Meritor, tradicional sistemista que abastece o segmento de veículos pesados, revisou sua estimativa para o mercado de caminhões e ônibus em 2023 e prevê que as vendas de 140 mil veículos acima de seis toneladas poderão ser reduzidas para 135 mil ou 130 mil unidades neste ano.  

“Estamos relativamente adequados ao que estamos vendo hoje no mercado, mas se abril e maio forem meses ruins e as montadoras tiverem que revisar um pouco mais para baixo no segundo semestre, vamos ter que rever os nossos números também”, disse Kleber Assanti, diretor de vendas e marketing da Cummins Meritor e líder de negócios para eixos na América do Sul.   

Embora ainda tenha uma visão positiva para o segundo semestre, Assanti não espera que este ano seja melhor por causa do impacto que o mercado de caminhões e ônibus recebeu no primeiro trimestre. “Estamos mantendo a mesma previsão da Anfavea e do Sindipeças com o segundo semestre bom dentro do projetado, mas não dever ser nada espetacular, e o mercado deve fechar o ano com uma média de vendas razoável.” 

Segundo Assanti, a mudança na legislação de emissões criou um inventário que distorce muito a realidade do mercado, acumulando no primeiro trimestre vendas somente modelos Euro 5. “Agora todo o mercado está em um momento de espera e atento aos resultados dos meses de abril e maio, para ter uma visão mais clara em relação às vendas de caminhões, que devem definir o desempenho do setor no segundo semestre”, disse o diretor. “Há ainda o aumento no preço dos caminhões Euro 6, a escassez de financiamento por parte dos bancos e as incertezas em relação ao cenário econômico do país que causam preocupação.”  

Além do estoque alto, a mudança na legislação contribuiu para a redução na produção de veículos pesados, segundo Assenti, pois causou um descompasso na cadeia internacional de suprimentos. “Para a produção do caminhão Euro 5, as montadoras compravam componentes de fornecedores diferentes e, para os modelos Euro 6, passaram a compartilhar do mesmo supplay chain na Europa, o que causou dificuldades porque o mercado europeu está em alta. Há ainda o desenvolvimento da tecnologia, e mudar um portfólio completo do caminhão de um dia para o outro demanda muito esforço, pois é preciso entender o novo software, hardware, o novo motor e as questões de emissões. Todo esse conjunto de alteração tem dificultado o rump-up dos veículos Euro 6”, explicou.  

Na sua fábrica de Osasco (SP), onde produz eixos, cardans e componentes para veículos comerciais e fora de estrada, a empresa está trabalhando em dois turnos com algumas linhas em três períodos. Como fornece os seus produtos para todas as montadoras, exceto a Scania, e participa do Consórcio Modular e do parque de fornecedores da Volkswagen Caminhões e Ônibus em Resende (RJ), a empresa tem conseguido se antecipar às paradas programadas da indústria de caminhões e manter a produção. “Fizemos alguns ajustes, com férias individuais para adequar à demanda dos clientes e realizamos algumas exportações esporádicas para as fábricas da Cummins Meritor na Europa e nos Estados Unidos, o que ajudou a manter a produção, mas a capacidade da fábrica está adequada aos números que se têm hoje”, revelou o diretor. 

Apesar das incertezas relativas à economia e às vendas de caminhões, a Cummins Meritor mantém o seu programa de investimentos para o Brasil. No ano passado, a companhia investiu em torno de R$ 50 milhões em expansão de capacidade da fábrica de Osasco. “A empresa está confiante que a produção retornará ao nível normal e conta ainda com a oportunidade de realizar novos negócios no país, o que pode fazer com que os investimentos acelerem neste ano”, afirmou Assanti. “Os investimentos para melhoria da eficiência e expansão de capacidade continuam no plano da companhia conforme avançam os novos negócios.” 

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