Sonia Moraes
As montadoras produziram em janeiro deste ano 4.049 caminhões, o que corresponde a uma redução de 72,3% em relação a dezembro de 2022 (14.614 unidades) e de 57,2% em comparação a janeiro do ano passado, quando foram fabricados 9.463 veículos, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Foram 1.480 pesados, 1.116 semipesados, 1.020 leves, 218 semileves e 215 médios.
Esse baixo volume na produção de caminhões já era previsto pelas fabricantes por causa da transição de tecnologia, iniciando agora o Proconve P8, equivalente a Euro 6, conforme relatou Gustavo Bonini, vice-presidente da Anfavea. “Em outra mudança do programa de emissões, de 2011 para 2012, a produção também foi menor no primeiro mês do ano”, disse Bonini.
“Em janeiro de 2012, a produção de caminhões atingiu 3,5 mil unidades, enquanto 2011 começou janeiro com quase 14 mil veículos e encerrou dezembro com 18,5 mil caminhões, um recorde de produção. Também tivemos naquele período o efeito de compras antecipadas justamente pela mudança de fase, que trouxe um incremento no valor dos produtos. Isso não ocorreu em 2022 por causa da crise de oferta decorrente da falta de semicondutores e outros componentes. Não houve espaço para uma pré-compra significativa.”
Bonini destacou que nesta primeira semana de fevereiro o setor automotivo atinge a marca de cinco milhões de caminhões produzidos no Brasil desde 1957, quando iniciou a produção dos modelos no país.
Licenciamentos –
As vendas de caminhões em janeiro de 2023 foram de 10.457 unidades, um número 16,2% abaixo de dezembro de 2022 (12.476 caminhões) e 20,1% acima do registrado em janeiro do ano passado (8.705 unidades). Bonini esclareceu que a redução no emplacamento representa um cenário semelhante ao que ocorreu na mudança da fase P7 de 2011 para 2012. “Naquela época, em janeiro de 2012, foram licenciados 13 mil veículos e, em janeiro de 2011, foram 12,2 mil e em dezembro de 2011 foram 15,6 mil. Em janeiro do ano passado, houve a crise de oferta por causa da falta de componentes.”
Para o mercado externo, as montadoras enviaram em janeiro deste ano 1.026 caminhões, 43,5% a menos que em dezembro de 2022 (1.815 unidades) e 13,1% abaixo de janeiro do ano passado, quando foram exportados 1.181 veículos. Do total de caminhões exportados no mês passado, 1,1 mil são modelos pesados, 278 semipesados, 267 leves, 134 semileves e 36 médios.
No ranking de janeiro de 2023, a liderança do mercado de caminhões ficou com a Mercedes-Benz, com a venda de 2.723 veículos, seguida pela Volkswagen Caminhões e Ônibus, que teve 2.246 veículos emplacados. A Volvo ficou em terceiro lugar, com 2.081 veículos vendidos; a Scania ficou em quarto com 1.198 veículos; a DAF em quinto lugar com 809, e a Iveco em sexto com 771 caminhões comercializados no país.
Nova sede-
Nesta segunda coletiva de imprensa de 2023, realizada em nova sede instalada em Brasília, Márcio Leite, presidente da Anfavea, contou que vai receber algumas autoridades do setor público para discutir com as empresas associadas e com o governo os principais pontos do setor automotivo.
Leite comentou que o presidente Lula tem ressaltado o seu compromisso com a reindustrialização do país, tecendo críticas em relação aos juros. “Não estamos discutindo a forma como isso tem ocorrido e sim a essência. Mas, com essa taxa de juros o mercado automotivo não cresce.”
O presidente da Anfavea destacou que o setor automotivo precisa ter condições de vendas para o mercado. “Com a taxa de juros que temos hoje esse consumidor tem saido do mercado. É fundamental trazer esses consumidores para aumentar o volume da indústria e a geração de empregos.”
Leite relatou também que na posse do presidente do BNDES, Aloísio Mercadante, ficou muito clara a intenção da reindustrialização, de o BNDES ser utilizado como instrumento importante de alavancagem da indústria, pesquisa, desenvolvimento social e econômico.
“O que a Anfavea discute hoje é a previsibilidade. A alíquota zero de imposto de importação não pode inibir investimentos na produção de tecnologias no Brasil porque nós precisamos criar essa produção a exemplo do que acontece com ônibus e caminhões. Hoje já estamos produzindo ônibus elétricos. Então é fundamental termos previsibilidade para que as montadoras decidam os seus investimentos no Brasil”, destacou o presidente da Anfavea.
Sobre as expectativas para o novo governo o presidente da Anfavea disse que está otimista em relação ao mercado e ao que está acontecendo de forma geral. “Ainda é muito cedo para ter uma visão clara sobre o país. O que a gente percebe é um início de ano com complexidade. Tivemos um período de desabastecimento, depois o ano começa com férias coletivas e na primeira semana com manifestação em Brasília. Isso acabou tirando a atenção das pessoas.”
Leite ressaltou que a Anfavea espera um ano com crescimento relativamente tímido, mas com uma base melhor do que no ano passado. “As conversas de início de governo têm sido positivas, com relação a reindustrialização e foco na reforma tributária. De forma geral temos um ambiente muito positivo. Mas no cenário global temos que ter atenção especial sobre ao que está acontecendo em Taiwan e na China em relação aos semicondutores. Não estamos com problemas tão evidentes como tivemos no início do ano passado, mas eles ainda existem e precisamos trabalhar essas questões que acabam impedindo o crescimento”, disse.