Transporte Moderno – Como o senhor avalia a situação da indústria ferroviária atualmente?
Vicente Abate – Apesar do movimento favorável das concessionárias e da indústria em oferecer produtos e serviços com mais tecnologia, o setor ainda enfrenta um momento de ociosidade. A indústria saiu de um volume de 7,6 mil vagões em 2005 – o melhor ano do setor – para mil unidades em 2019, movimento que era esperado porque as concessionárias começaram o processo de renovação e naturalmente reduziram os investimentos. Depois da assinatura de renovação dos contratos, esperávamos uma reação a partir de 2020, mas foi muito tímida. O volume aumentou de mil unidades em 2019 para 1,7 mil em 2020 e 1,8 mil em 2021 e achávamos que iria continuar crescendo em 2022, mas o ano fechou em torno de 1,5 mil unidades.
Transporte Moderno – Qual a previsão para 2023?
Vicente Abate – Para de 2023, a previsão é de que o volume de 1,5 mil vagões produzidos no ano anterior seja mantido.
Transporte Moderno – Quando este setor começará a apresentar reação?
Vicente Abate – Estamos esperando que a partir de 2024 o setor ferroviário apresente reação, atingindo um volume de dois mil vagões produzidos, e chegando em 2024 a um patamar razoável e contínuo de três a quatro mil vagões por ano.
Transporte Moderno – O que mais preocupa o setor atualmente?
Vicente Abate – A instabilidade e o fato de não haver previsibilidade e regularidade na produção é muito ruim para a indústria ferroviária, que tem contratos com os fornecedores e precisa manter a mão de obra.
Transporte Moderno – As suas perspectivas são positivas?
Vicente Abate – Sim, as perspectivas são positivas para o mercado ferroviário. Apesar de a fase ainda não ser a melhor, mas existe previsão de melhora, e as renovações vêm se consolidando cada vez mais. A Rumo tem comprado vagões, assim como VLI e a MRS, mas em volume menor. E há a nova concessão da Bamin, que vai operar entre Caetité (BA) e o porto Sul. em Ilhéus (BA), na Fiol 1, para começar a operar em 2026, tem que comprar vagões em 2024.
Transporte Moderno – Como o mercado deverá se comportar nos próximos anos?
Vicente Abate – A estimativa é que entre três ou quatro anos as autorizações ferroviárias estarão mais avançadas e até o final da década haverá volumes maiores de vagões. As empresas escolheram o traçado porque tem carga, seja própria ou de terceiros, e vão precisar comprar novos vagões.
Transporte Moderno – Quais as perspectivas para as exportações?
Vicente Abate – Espero um movimento positivo de exportações neste ano, com 60 vagões destinados para Guiné-Bissau, África Ocidental. Em 2005, dos 7,6 mil vagões produzidos 400 foram vendidos no mercado internacional, tendo como destino Gabão, Chile, Colômbia e Argentina. Das 60 locomotivas que serão produzidas neste ano, três serão exportadas para o Chile.
Transporte Moderno – A indústria ferroviária também está acompanhando o movimento ESG, referente às práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização?
Vicente Abate – Sim. As fabricantes de vagões e locomotivas estão acompanhando a tendência do mercado e investindo em inovações para acompanhar o movimento ESG.
Transporte Moderno – Quais foram os avanços?
Vicente Abate – As locomotivas já possuem motores que recebem óleo diesel e biocombustível. Temos uma fronteira à frente, que é o hidrogênio, e não está muito longe de ser aplicado no Brasil. Há no país fabricantes preparados para fazer equipamentos para a produção de hidrogênio verde a partir de fontes de energia eólica e solar. Esta é a tendência e a indústria ferroviária tem investido cada vez mais em inovações tecnológicas para atender esse mercado.
Transporte Moderno – Quais são os destaques de inovações no setor ferroviário?
Vicente Abate – As locomotivas estão totalmente digitalizadas, e os softwares utilizados nos projetos dos vagões são modernos. Além disso, hoje os vagões são testados em túnel de vento, recurso que era somente utilizado pela indústria aeronáutica. Os truques Motion Contron, desenvolvidos para os vagões da Greenbrier Maxion, permitem um rodar mais macio, além de reduzir o desgaste do componente e o consumo de combustível das locomotivas.