Márcia Pinna Raspanti
O Fórum Transporte Sustentável – Carga e Logística, realizado em 9 de novembro, dentro da programação da Arena de Conteúdo do 23º Salão Internacional de Transporte de Cargas – Fenatran, foi um sucesso. Cerca de 350 pessoas acompanharam as discussões sobre estratégias ESG (meio ambiente, reponsabilidade social e governança) e os cases dos principais players do mercado de transporte de cargas e logística.
Christopher Podgorski, presidente & CEO da Scania Latin America, apresentou o painel sobre “As vantagens do ESG”. O executivo iniciou sua apresentação lembrando que “estamos à beira de uma emergência climática” e que as empresas, organizações e cidadãos têm a responsabilidade de fazer a sua parte para evitá-la. Para Podgorski, o ESG só traz vantagens. “A eficiência energética e o uso correto de recursos naturais trazem uma economia significativa para as empresas.”
“É importante ter uma agenda climática, mas também social, com tolerância zero em relação a situações como trabalho escravo e prostituição infantil, por exemplo. A governança é fundamental na hora de decidir como fazer as mudanças dentro das empresas”, sublinhou. Desde 2016, a Scania se comprometeu com o ESG. “Descarbonizar o setor de transportes não é uma opção, mas uma necessidade. O setor é responsável por 14% das emissões globais. Nessa jornada, as parcerias são fundamentais, assim como políticas públicas que norteiem a sociedade.”
Julia Ambrosano, coordenadora de infraestrutura da Climate Bonds Initiative (CBI), uma organização sem fins lucrativos focada na promoção de investimentos em grande escala na economia de baixo carbono, abordou o tema “ESG aplicado”. “Aproveitamos a mitigação de gases de efeito estufa para trazer investimentos em ações climáticas. Há formas de financiar o setor de maneira limpa”, informou. A CBI atua por meio do desenvolvimento do padrão Climate Bonds e esquema de certificação, engajamento de políticas e trabalho de inteligência de mercado.
No painel “Tecnologias para o transporte sustentável”, representantes da Eaton, Prometeon, Solistica e Fras-Le trouxeram inovações e tendências que estão surgindo nesta área. “Trabalhamos para reduzir o impacto ambiental na produção de pneus. Lançamos recentemente o primeiro pneu para veículos elétricos em parceria com uma montadora. Estamos sempre investindo em inovação e conectividade, e contamos com nosso hub de inovação na planta de Santo André”, contou Luis Mari, diretor de pesquisa & desenvolvimento da Prometeon para as Américas.
Henrique Uhl, gerente de estratégia de produto da Eaton, disse que 60% do faturamento global da Eaton vem da eletrificação. “Desenvolvemos soluções customizadas para o Brasil. A eletrificação é uma solução a longo prazo. Mas há muita ações que podemos fazer já. Por exemplo, uma transmissão automatizada é mais eficiente e menos poluente e, além de ser mais barata, permite a economia de combustível e um custo operacional menor”, disse.
Alexandre Casaril, diretor de engenharia e vendas OEM da Fras-Le, destacou que os materiais compósitos fazem parte do futuro da indústria automotiva. A solução Fras-Le smart composits substitui o aço usado nas autopeças por ligas inteligentes, de diferentes propriedades químicas e físicas, que modificam e aprimoram a estrutura do produto. “Esse materiais trazem muitas vantagens como a diminuição de peso, que tem impacto direto no consumo de combustível e na emissão de gases poluentes na atmosfera. Ainda há desafios como a reciclabilidade destes produtos, mas investimos continuamente em P&D para superá-los”, comentou.
Kleber Fernandes, diretor de qualidade, HSE e sustentabilidade Brasil da Solistica, apresentou os principais itens em que a empresa atua no campo da sustentabilidade: compra de créditos de carbono, consolidação de cargas (menos veículos em circulação significam menos emissões), cortina vegetal, Arla 32 e ampliação da frota elétrica. “Fazemos a gestão do consumo de água e energia, a redução de resíduos e qualificação de nossos fornecedores”, enfatizou.
EXPERIÊNCIAS DE SUCESSO –
No painel sobre “Cases e boas práticas”, Ana Paula Damaceno Monteiro, gerente de transportes do Grupo Boticário, ressaltou a importância das parcerias, principalmente entre transportadores e embarcadores para criar um ecossistema realmente engajado nas práticas ESG. “Costumamos dizer que transportar todo mundo transporta. Nós queremos mais, queremos operar com parceiros que tenham o mesmo objetivo e o mesmo entusiasmo que temos em nossos projetos”, disse. A meta do grupo é reduzir a emissão de 430 toneladas de CO² até 2023.
Hélio Matias, vice-presidente da Ambipar, contou que a empresa é especialista em gestão de resíduos e dispõe de uma central de emergências envolvendo produtos químicos. “Temos equipes em 150 bases para atender acidentes e mitigar os efeitos negativos ao meio ambiente. Acreditamos na prevenção e na pró-atividade para evitar esse tipo de ocorrência. Transformamos resíduos para que eles voltem para a cadeia produtiva. Um exemplo é o Ecossolo, que tem 15% mais produtividade que o solo normal”, detalhou.
Osni Roman, presidente da Coopercarga, elencou as diversas ações da empresa relativas à sustentabilidade. “Fizemos um alto investimento em veículos elétricos, movidos a GNV e biometano, double decks, além de buscar com nossos clientes, oportunidades para neutralizar nossas rotas através de parcerias com a Green Farm e VGP, no quesito de compensação de gás carbônico. Também não posso deixar de citar nossa usina fotovoltaica, em Concórdia (SC), que efetua o abastecimento de toda a energia elétrica consumida por nossas unidades em Santa Catarina. E as ações voltadas ao pilar social e que impactam o ambiental também, como o projeto ‘Mulheres no Volante’, na operação com a O Boticário.”
Solon Barrios, vice-presidente de transportes da DHL no Brasil, anunciou que a empresa irá inaugurar sua primeira fazenda solar no próximo ano, ainda não foi definido se o empreendimento será em São Paulo ou Minas Gerais. “Temos um compromisso com a sustentabilidade. Investimos na eletrificação da frota desde 2018”, afirmou. A parceria da DHL com o Grupo Boticário tem por objetivo zerar as emissões das entregas da varejista de beleza para suas lojas em São Paulo capital. O Grupo Boticário pretende que 100% das entregas sejam feitas por veículos elétricos até 2025 nas capitais. A DHL Supply Chain, por sua vez, tem a meta de zerar suas emissões até 2050, tendo investido cada vez mais no desenvolvimento de soluções logísticas verdes. Com a parceria, estima-se que mais de 48 toneladas de gases deixarão de ser emitidas por ano.