Sonia Moraes
O déficit da indústria de autopeças poderá atingir US$ 8,73 bilhões em 2023, o que representará um recuo de 22,1% em relação ao saldo negativo de US$ 11,2 bilhões esperado para 2022, segundo projeção do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças).
As importações poderão atingir US$ 16,5 bilhões no próximo ano, um resultado 11,3% inferior aos US$ 18,60 bilhões esperados para 2022, e as exportações alcançarão US$ 7,77 bilhões, superando em 5% os US$ 7,40 bilhões projetados para este ano.
No acumulado de janeiro a julho de 2022, o déficit das autopeças atingiu US$ 6,86 bilhões, 15,7% superior ao mesmo período de 2021, cujo resultado ficou negativo em US$ 5,93 bilhões.
Mesmo com o aumento de 19,7% nas exportações, que somaram US$ 4,51 bilhões até julho, o ritmo das importações foi maior, totalizando US$ 11,38 bilhões, incremento de 17,3% sobre os US$ 9,7 bilhões importados de janeiro a julho de 2021.
Do total de US$ 11,38 bilhões de componentes importados de 173 países nos sete meses de 2022, a China se destacou com US$ 1,8 bilhão, 16,8% a mais que no acumulado de janeiro a julho de 2021, e a participação foi 15,9% nas compras totais das empresas, seguida pelos Estados Unidos, com US$ 1,36 bilhão milhões, 29,4% a mais que o mesmo período do ano anterior e 11% de participação.
A Alemanha teve 10% de representatividade, com o total de US$ 1,13 bilhão, 9,7% a mais que nos sete meses de 2021. O Japão, que aparece em quarto lugar no ranking, teve 9% de participação, com US$ 1,02 bilhão, 19,3% a mais que janeiro a julho de 2021.
Nas exportações de US$ 4,51 bilhões destinadas a 198 mercados até julho, os principais foram: Argentina, com US$ 1,61 bilhão, 45% a mais que nos sete meses de 2021 e 35,8% de participação, seguida pelos Estados Unidos, com US$ 724,1 milhões, 5,7% a mais que janeiro a julho de 2021 e 16% de participação.
Na sequência, aparece o México, que absorveu US$ 409,3 milhões, 1,2% a mais que no mesmo período do ano passado, ficando com 9,1% do total, e a Alemanha, que teve 7,3% de participação, com US$ 331,2 milhões, aumento de 26,6% sobre o acumulado de janeiro e julho de 2021.
Investimentos-
Os investimentos programados pelas fabricantes para 2023 somam US$ 1,9 bilhão, 17,4% inferior aos R$ 2,3 bilhões que serão aplicados em 2022. O montante a ser liberado neste ano é 9,5% maior que em 2021. As empresas devem terminar 2023 com 245,8 mil empregados, 1,2% a mais que em 2022, cuja estimativa é de encerrar o ano com 242,8 mil empregados, 0,7% a mais que em 2021, segundo o Sindipeças.
Mas o faturamento das empresas poderá crescer 5,5% em 2023, atingindo R$ 188,4 bilhões. As montadoras deverão contribuir com 65,3% aos resultados, o mercado de reposição com 16% e as exportações com 14,3%.
Para 2022, a estimativa é de que o faturamento fique em R$ 178,5 bilhões, o que representará uma expansão de 9,1% sobre os R$ 163,6 bilhões alcançados em 2021, tendo 65,5% de participação das montadoras, 15% do mercado de reposição e 15,3% das exportações.
“O resultado do primeiro semestre deste ano foi surpreendente em relação ao mesmo período de 2021, com aumento de 26% nas vendas, tendo crescimento de quase 6% nas exportações e de mais de 13% no mercado de reposição”, destacou Cláudio Sahad, presidente do Sindipeças, durante o evento Rota Digital Fenatran.
As expectativas para o setor de autopeças são muito boas, segundo Sahad. “Estou confiante no aumento da demanda nos últimos quatro meses do ano e vamos ter resultados surpreendentes. Esperamos a normalização no fornecimento de componentes importados, inclusive de semicondutores.”
O presidente do Sindipeças comentou que, por causa da falta de componentes, não foi possível formar um estoque para garantir uma grande antecipação de compras de caminhões. “Mas sou otimista e acho que ainda haverá tempo para formar estoque de peças para os modelos com motor Euro 5 e por isso, estamos apostando em 154 mil unidades de caminhões produzidas em 2022”, disse Sahad.
Na sua lista de associados o Sindipeças tem 500 empresas, das quais 1/3 são grandes sistemistas e 2/3 são de pequeno e médio porte. Sahad destacou que as paradas ocorreram nas montadoras este ano por falta de componentes importados. “As fabricantes brasileiras foram muito resilientes e conseguiram atender as demandas e não faltou componentes nacionais.”
O presidente do Sindipeças comentou que, depois do impacto causado pela pandemia, as empresas perceberam a importância de ter o fornecedor mais próximo. “É uma oportunidade de ouro e acho que a gente tem que focar totalmente neste aspecto e as empresas brasileiras têm chance de ocupar um espaço na cadeia de fornecimento global”, disse Sahad.
Segundo o presidente do Sindipeças, este tem sido o ponto principal nas interlocuções com os governos estadual e federal. “Precisamos trabalhar ombro a ombro – indústria e governo – para poder melhorar este ambiente de negócio e trazer a competividade para as nossas empresas.”
As pequenas e médias empresas têm sido muito resilientes e têm aproveitado o programa Rota 2030 para inovar e melhorar a sua tecnologia, segundo Sahad. “Sou muito otimista e temos aí um belo caminho no Brasil, inclusive com eletrificação. Acho que podemos ocupar posição de destaque como fornecedores mundiais, tanto em relação às novas tecnologias, quanto aos motores a combustão”, destacou.